quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Acidentes não acontecem por acaso


Na década de setenta do século passado o Governo e as empresas estatais desenvolveram um imenso programa de formação de profissionais na área da Engenharia. Em todos os setores o Brasil revelou expoentes e assim enfrentou desafios monumentais como, por exemplo, a construção de Itaipu, ponte Rio Niterói etc.
Infelizmente já naquela época a “esperteza” aflorou e erros de avaliação das crises do petróleo desmontaram um processo que dava indicações de desenvolvimento saudável.
A quebra do Brasil na década oitenta, década em que o Brasil começou beirando o precipício num esforço insano de manter desperdícios de combustíveis e o rodoviarismo, adoção de políticas ingênuas de proteção da indústria nacional, projetos direcionados pela equipe econômica de modo a fechar balanços publicáveis etc. trouxeram a hiperinflação, a quebradeira e o desmonte da Engenharia no Brasil.
A recuperação econômica significou o ajoelhamento do Brasil perante os credores e a adoção de lógicas mais “avançadas” de mercado.
Chegamos ao século 21 imersos na lógica da redução radical de custos e contratações e projetos e serviços criados e desenvolvidos por pessoas despreparadas. Pior ainda, após décadas de sufoco o povo brasileiro passou a desprezar a boa técnica, o resultado é visível em nossas ruas e grandes acidentes que estão virando rotina.
O preço da exploração irresponsável dos profissionais e empresas menores, sempre no nível da subcontratação, produziu muitos acidentes gravíssimos. O fundamental é inventar comissões de avaliação e em poucos dias criar diagnósticos ao gosto e conveniência de quem julga.
Vivemos no país que rivaliza com a Roma dos césares degradados. Pão e circo, tudo temperado pelo carnaval, praia, feriados e muitas orações... Aliás, é bom rezar com fervor, precisamos de milagres.
A classe média recente, deslumbrada com a possibilidade de gastar em luxos e viagens inúteis, não percebe e nem quer conhecer detalhes do ambiente em que vive.
O assustador é o tamanho de prédios, estádios, barragens, pontes, gasodutos, túneis, automatismos,  etc.
Qual é a confiabilidade do que se faz em tempos de subcontratação e lógicas primárias de gerenciamento técnico?
Qualquer corda rebenta se for puxada demais.
A fragilidade de nossas equipes técnicas é um espanto. Poderiam ser melhores, os profissionais mais competentes aceitariam salários ridículos?
Devemos, contudo, procurar entender o padrão de cursos, laboratórios, estágios, trabalhos e avaliação a que foram submetidos os estudantes que agora mostram diplomas pretendendo ser aceitos como doutores, “especialistas”. Muitos são operadores de softwares que não conhecem, equações que não estudaram, leis da Física que desprezaram; o fundamental era resolver os problemas em prova e passar de ano. As boas escolas mergulharam em novas teses ao gosto de ONGs estrangeiras. O tempo que deveria ser dedicado ao essencial foi desperdiçado em fantasias de professores.
Na Engenharia, ao contrário de outras profissões que se tornaram mais atraentes exatamente por mostrarem e defenderem seus valores, vimos entidades de classe e conselhos profissionais patinando em ideologias e esperando revoluções redentoras, isso para falar dos mais politizados.
Senso prático?
Parece que o exercício real das profissões técnicas é um mito.
Empreiteiras se desmontam ou sobrevivem gastando fortunas, sabe-se lá com o quê. O quê sobra para aplicar em boas máquinas, na excelência de serviços e produtos?
Todo tipo de profissional manda e desmanda nas empresas dedicadas a serviços essenciais e outras extremamente importantes ao nosso dia a dia. Os critérios técnicos deram lugar a pessoas especialistas em bebidas estrangeiras, etiquetas sociais, línguas estrangeiras e no vocabulário das multinacionais do dinheiro.
Em tempo, a corrupção, não é uma arte valorizada pelos acionistas?
Quem pagará a pior conta desse período desastroso?

Cascaes
27.11.2013





Noticias ao Minuto - Parte de estádio brasileiro desaba e faz pelo menos três mortos

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Risco de volta da direita

De: Adriano Benayon
Enviada em: sábado, 23 de novembro de 2013 17:26
Para: '
Assunto: RES: envolvi] Fwd: [fundopetros] Enviando email: Risco de volta da direita

Prezado Fernando e colegas,

O artigo é de autoria de Ivo Lesbaupin. A primeira citação é que é de João Carlos Assis.

O conteúdo realmente é muito bom, mas há omissões em relação a questões centrais.

Em essência, ele dá exemplos muito pertinentes comprobatórios da afirmação de que o presente governo petista, e mesmo o anterior governo, também petista, seguiu a linha dos tucanos, inclusive com a manutenção das privatizações, além de aditar-lhes novas entregas ao capital privado, agora apresentadas como concessões.

Mencionou os desastrosos leilões do petróleo, turbinados e acelerados por Dilma,  e apontou, ainda, os dados que também conhecemos sobre o arrasador serviço da dívida pública, cuja avalanche os governos petistas pouco cuidaram de deter.

Enfatizou, ademais, o favorecimento a um pequeno grupo de grandes empreiteiras, inclusive através das PPPs.

Tudo isso ratifica nossa avaliação (de muitos de vocês e minha) dos acontecimentos. Confirma também o fato de que esquerda se  tornou muito pouco mais que rótulo para, no essencial e em doses cada vez maiores, beneficiar os interesses dos que têm na direita e na mídia seus protegidos prediletos (têm ou costumavam ter, porque nada há mais favorável a esses interesses que as mudanças de rótulo e a cobertura, por parte das seculares conotações da ideia de esquerda, em mais uma campanha de relações públicas destinada a anestesiar os críticos e fazer o povo simplesmente ficar descrente de todas as correntes políticas.

De resto, penso que é por aí que os verdadeiramente voltados para os interesses nacionais devem abordar sua comunicação com o povo, fazendo-o dar um salto qualitativo na compreensão da realidade: não são apenas os políticos de todos os partidos de alguma expressão, que não prestam: é todo o sistema, todas as estruturas econômicas e políticas que não prestam, porque foram totalmente dominadas e deformadas pelos concentradores, de tal modo que não é acaso algum que nenhum político preste (pelo menos os que estão aí mais visíveis); portanto, que não há escapatória alguma do precipício sob o comando da atual classe dominante.

Aí entra outro ponto essencial omitido no bom artigo de Lesbaupin.  Essa classe dominante não é nacional, pois o segmento mais grosso dela, e o mais forte, é transnacional: são os caudatários da oligarquia financeira angloamericana e de seus satélites europeus, japoneses e outros; ademais, os membros considerados locais, dessa classe, alguns bancos tipo Itaú e Bradesco, bem como as empreiteiras, são tão ou mais caudatários da hegemonia transnacional.

A dimensão principal que falta na visão de Lesbaupin é a do imperialismo, a da condição do Brasil como área de exploração predatória do imperialismo, dirigido principalmente do eixo Londres/Nova York. E é essa dimensão que determina a consequência fundamental para o horizonte político do País: discutir eleições sob o atual sistema de poder é pura perda de tempo, perda de tempo tão grande como as discussões em termos de esquerda e direita.

Em suma, o próprio autor sugere haver muito mais que um risco de volta à direita, simplesmente porque, se direita é entregar quase tudo (isso era até 1990) ou entregar tudo mesmo (1990 ao presente) aos concentradores, podemos afirmar que a direita nunca saiu do poder.

Além disso, há um ponto específico em que tenho de me dissociar da análise de Lesbaupin, o de atribuir territórios imensos a grupos indígenas, de expressão numérica insignificante, colocados nesses territórios, sob o controle de ONGs e Conselhos de Igreja, ligados aos serviços secretos das potências hegemônicas. Tais grupos indígenas são isolados dos brasileiros  pelas instituições do País, a mando da oligarquia predadora angloamericana, tarada por minerais raros, estratégicos e preciosos, a qual preside não só à exclusão de brasileiros dos territórios em questão, mas também a segregação dos indígenas como civilizações de museu, intocáveis, incomunicáveis, pretexto para impedir obras essenciais de infra-estrutura naquelas regiões, notadamente na Amazônia e deixá-los à mercê dos imperiais.

Abraços,

Adriano Benayon

De: 
 Em nome de
Enviada em: sábado, 23 de novembro de 2013 05:08
Para: clube-de-engenharia-rj@googlegroups.com; desenvolvimentistas@googlegroups.com; Emanuel Jorge de Almeida Cancella Cancella
Assunto: envolvi] Fwd: [fundopetros] Enviando email: Risco de volta da direita

Caros companheiros
Repassando excelente análise do Josá Carlos de Assis.
Abraços
Fernando

---------- Mensagem encaminhada ----------
De: Claudio Ribeiro <>
Data: 20 de novembro de 2013 22:00
Assunto: [fundopetros] Enviando email: Risco de volta da direita
Para: fundopetros@yahoogrupos.com.br
 
Boa noite, prezados companheiros.
Já postei aqui em nosso Forum excelentes análises, algumas oriundas de renomados analistas geopolíticos desenvolvimentistas da atualidade de nosso País, como Mauro Santayana e o Dr. Adriano Benayon, que foram acolhidas por todos. Agora, encaminho esta de autoria do Prof. Dr. Ivo Lesbaupin, da UFRJ, publicada na Revista do IHU – Instituto Humanitas Unisinos (Universidade do Vale do Rio dos Sinos, RS) para a qual solicito alguns minutos de atenção para a sua leitura e reflexão de seus conteúdos.
Saudações fraternas,
Claudio Ribeiro – C. Abreu, RJ.

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Domingo, 03 de novembro de 2013
Risco de volta da direita?
"O que traria a volta da direita?", pergunta Ivo Lesbaupin. "Privatizações? Leilões do petróleo? de áreas do pré-sal? Avanço do agronegócio? Usinas hidrelétricas na Amazônia? Perda de direitos dos povos indígenas? Tropas militares para enfrentá-los? Código Florestal? Plantio de transgênicos? Aumento do uso de agrotóxicos? A não realização da reforma agrária?" E ele responde: "Tudo isso está sendo feito por este governo".
Segundo o professor da UFRJ, "existe uma direita mais à direita que este governo, sem dúvida. Que é possível piorar, é sempre possível. Mas que este governo está montado para atender aos interesses dos grandes grupos econômicos, também não há dúvida".
Ivo Lesbaupin é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ. É mestre em Sociologia pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro - IUPERJ - e doutor em Sociologia pela Université de Toulouse-Le-Mirail, França. É coordenador da ONG Iser Assessoria, do Rio de Janeiro, e membro da direção da Abong. É autor e organizador de diversos livros, entre os quais O Desmonte da nação: balanço do governo FHC (1999); O Desmonte da nação em dados (com Adhemar Mineiro, 2002); Uma análise do Governo Lula (2003-2010): de como servir aos ricos sem deixar de atender aos pobres (2010).
Eis o artigo.
A privatização do megacampo petrolífero de Libra (área de pré-sal) é um divisor de águas. Todos os movimentos sociais do Brasil, inclusive alguns muito próximos ao governo, se posicionaram contra. O governo se manteve inflexível e, copiando o governo FHC nas grandes privatizações (Vale, Telebrás), garantiu o leilão com segurança policial e tropas militares, de um lado, e batalhões de advogados da Advocacia Geral da União para derrubar liminares, de outro.
O governo deixou claro de que lado está.
Muitas das análises sobre os governos do PT (Lula-Dilma) partem do pressuposto de que houve antes um governo de direita, neoliberal, o de FHC, e que hoje temos um governo se não de esquerda, ao menos de centro-esquerda, de coalizão.
Seria um governo em disputa, que ora tomaria medidas mais voltadas para os setores populares ora voltadas para os setores dominantes. Isto dependeria da maior ou menor pressão de cada um dos lados.
Este pressuposto leva a crer que este governo mereça todo o nosso apoio para evitar a "volta da direita". Porque esta volta traria políticas que não queremos ver novamente.
Os governos do PT indubitavelmente deram mais atenção ao social que os governos anteriores, como o aumento real do salário-mínimo e o programa Bolsa-Família, e reduziram fortemente o desemprego. A política externa é mais independente e também solidária com os governos progressistas de outros países da América Latina. E poderíamos citar uma lista de avanços ocorridos nos últimos dez anos, avanços que devem ser mantidos e devemos apoiar.
Há setores do governo que têm uma preocupação centrada na sociedade, nos trabalhadores, que se dedicam a uma maior democratização. Mas, infelizmente, estes setores não mandam no governo. E, na hora da cobrança, apoiam as grandes decisões (Belo Monte, Libra...).
Porém, se examinarmos mais de perto, o que nos impressiona não são as diferenças com os governos anteriores, são as semelhanças – cada vez maiores, à medida que o tempo passa. O governo FHC é considerado uma “herança maldita”. Mas a política econômica que privilegia o capital financeiro permanece de pé: os bancos tiveram mais lucros nos governos do PT do que antes. E estes governos introduziram medidas que favoreceram ainda mais os investidores financeiros ao isentá-los, em vários casos, de imposto. Não foi feita nenhuma reforma estrutural nas estruturas geradoras da desigualdade no país. No entanto, foram feitas reformas estruturais para atender aos interesses do capital, como a reforma da previdência do setor público, aprovada no primeiro ano do governo Lula.
Os recursos do país: para quem vão prioritariamente?
Se queremos saber para quem o governo trabalha, temos de examinar o orçamento realizado: para onde estão indo os recursos? Os recursos do país são destinados fundamentalmente ao pagamento da dívida pública, interna e externa, e de seus juros. A dívida externa chegou em dezembro de 2012 a 441 bilhões de dólares e a dívida interna a 2 trilhões e 823 bilhões de reais (cf. Auditoria Cidadã da Dívida). O orçamento realizado de 2012 mostra que 44% do nosso dinheiro foi usado para os juros, amortização e rolagem da dívida, enquanto que apenas 5% para a saúde e 3% para a educação. Em suma, o destino de quase metade do orçamento é a pequena camada mais rica do país – que são aqueles que recebem os juros da dívida -, além dos credores externos. Cada décimo de aumento dos juros pelo Banco Central significa maiores ganhos para os que já são muito ricos.
Portanto: o primeiro setor cujos interesses são atendidos é o capital financeiro (bancos e investidores financeiros)
Obras de infraestrutura: para as empreiteiras
Mas, há um segundo setor que é também privilegiado pelo governo: são as grandes empreiteiras – Odebrecht, OAS, Camargo Correia, Andrade Gutierrez... Elas estão em todas as grandes obras de infraestrutura do país, entre as quais as usinas hidrelétricas – Belo Monte é o exemplo mais notório – e até na do Maracanã. Em 1993, durante a CPI do Orçamento, o senador José Paulo Bisol havia denunciado a existência de um “governo paralelo” no país: eram as grandes empreiteiras, que distribuíam entre si as licitações das obras públicas. Denunciou, mas nada aconteceu... A maior parte destas obras são financiadas pelo BNDES, com recursos públicos, portanto.
Estas empreiteiras são também, junto com os bancos, as principais financiadoras das campanhas eleitorais. Este dado nos ajuda a entender o empenho do governo na realização de certas políticas – os megaprojetos, por exemplo, as privatizações, outro exemplo – e no impedimento de controles sobre o capital – a não realização da auditoria da dívida, por exemplo.
Portanto, o segundo setor cujos interesses são atendidos é constituído pelas grandes empreiteiras.
O agronegócio: o grande aliado do governo no campo
E há um terceiro setor que tem recebido muito apoio do governo: o agronegócio. O governo ajuda a agricultura familiar, sem dúvida, mas a proporção é de 90% para o agronegócio e 10% para a agricultura familiar. Esta é a razão pela qual, em dez anos de governos do PT, a reforma agrária não avançou: o principal aliado do governo no campo é o agronegócio, não os movimentos sociais. E certas medidas que favorecem este setor acabam sendo aprovadas no Congresso – o Código Florestal -, porque o governo não quer perder este aliado.
Portanto, o terceiro setor cujos interesses são atendidos é o agronegócio.
Povos indígenas: pedra no caminho do agronegócio, de megaprojetos de infraestrutura, de grandes mineradoras
O governo está ressuscitando a política indigenista da ditadura, para a qual "o índio não pode atrapalhar o progresso do país". O capítulo sobre os povos indígenas foi comemorado, na época, como um dos mais avançados da Constituição Cidadã. Pois exatamente os direitos destes povos originários ás suas terras estão sendo derrubados: pouco a pouco, a cada nova usina hidrelétrica, a cada nova lei ou portaria (ou código...), os direitos estão sendo violados e até as demarcações já feitas correm o risco de serem questionadas. Para atender aos interesses de setores do capital, este governo está desprezando os direitos dos povos indígenas.
O sistema tributário reprodutor da desigualdade social permanece
Por outro lado, o Brasil carrega outra “herança maldita”: o sistema tributário regressivo, que o governo FHC acentuou. Isto significa que, ao invés de distribuir renda, este sistema concentra renda, é um “Robin Hood” às avessas, tira dos pobres para dar aos ricos. É um sistema pelo qual os pobres pagam proporcionalmente mais que os ricos, porque nele o peso maior está no imposto sobre o consumo. Mesmo aquele que não têm renda para pagar imposto de renda compra bens, compra alimentos. E no preço dos bens está incluído o imposto.
Embora tenha introduzido pequenos avanços, no essencial esta herança de FHC foi mantida pelos governos do PT: a regressividade do sistema permanece. E a combinação de superávit primário (...) com a política monetária de juros altos incidentes sobre a dívida pública resulta “num dos mais perversos mecanismos de transferência de renda dos pobres para os ricos de que se tem notícia na história do capitalismo. (...) Na verdade, o mais poderoso mecanismo de concentração de renda na economia é essa combinação de política fiscal e monetária perversa, onde o Estado atua como um redistribuidor de renda e de riqueza a favor dos poderosos” (Assis, 2005: 89) (1).
Um primeiro meio para mudar esta grave injustiça seria fazer uma reforma tributária, para tornar o sistema progressivo (os que podem mais, pagam mais). Mas o governo não fez isso: ao contrário, apresentou um projeto de reforma que não mexe no caráter regressivo e que cortará recursos da Seguridade Social, se for aprovada.
Haveria uma segunda maneira de reduzir a transferência de recursos para os ricos: seria a realização de uma auditoria da dívida pública. Ela provaria que uma parte da dívida que nós pagamos é irregular e isto reduziria substancialmente a sangria de recursos públicos. A única auditoria que o país fez, em 1931, concluiu que 60% da dívida não tinham documentos que a comprovassem. O mesmo aconteceu mais de 70 anos depois, quando o Equador fez sua auditoria, em 2009: 65% da dívida eram eivadas de irregularidades. Como a nossa dívida externa foi constituída principalmente durante a ditadura civil-militar de 1964-1985, quando o Congresso não tinha acesso aos documentos, há sérias suposições de que parte desta dívida é indevida. O que só uma auditoria poderia verificar e comprovar (a CPI da dívida evidenciou várias irregularidades que teriam de ser examinadas, mas PT e PSDB se uniram para impedir que esta CPI tivesse resultados).
Esta é uma exigência da constituição de 1988, a qual nem o governo FHC nem os governos do PT puseram em prática. Preferiram favorecer os poucos privilegiados que ganham com a manutenção do status quo. E desfavorecer os muitos que sofrem as consequências de os recursos públicos não serem empregados onde deveriam: pois esta é a razão da falta de recursos suficientes para a saúde, a educação, o transporte, o saneamento básico, para os serviços públicos em geral.
Havia ainda uma grande diferença entre o governo neoliberal de FHC e os governos do PT: as privatizações. No entanto, o governo Lula não fez uma auditoria das privatizações, como se esperava; não reestatizou nenhuma das empresas privatizadas, como fez o governo Evo Morales. O governo Lula privatizou algumas rodovias federais e o governo Dilma passou a privatizar tudo: portos, aeroportos, rodovias, hospitais universitários e até riquezas estratégicas como o petróleo.
O governo FHC havia quebrado o monopólio da Petrobras e 60% das ações desta empresa estão hoje em mãos privadas. O governo Lula não reverteu este processo. O governo FHC iniciou em 1997 o leilão das áreas de exploração do petróleo. Os governos Lula e Dilma não interromperam os leilões, apesar de reiterados protestos dos movimentos de trabalhadores, especialmente dos petroleiros. O governo Dilma promoveu o leilão de petróleo do campo de Libra – cujas reservas valem no mínimo 1 trilhão de dólares - e tem ignorado solenemente a oposição dos movimentos sociais. O petróleo é nosso? Não, parte dele será das empresas privadas e estatais estrangeiras que venceram este leilão, assim decidiu o governo brasileiro. É como se só devesse satisfação ao setor privado, às multinacionais: os interesses do país, as reivindicações dos movimentos populares não são prioritárias.
O que traria a volta da direita?
Privatizações? Leilões do petróleo? de áreas do pré-sal? Avanço do agronegócio? Usinas hidrelétricas na Amazônia? Perda de direitos dos povos indígenas? Tropas militares para enfrentá-los? Código Florestal? Plantio de transgênicos? Aumento do uso de agrotóxicos? A não realização da reforma agrária?
Tudo isso está sendo feito por este governo.
Com exceção dos líderes do PSDB, todos os líderes da direita são hoje aliados do governo: Sarney, Renan Calheiros, Jader Barbalho, Romero Jucá, Collor, Maluf, Sérgio Cabral, Kátia Abreu...
Apesar de sua prática, de suas políticas fundamentais, o governo mantém um discurso de esquerda, de quem defende os direitos dos pobres e oprimidos e que "a direita quer solapar", "olhem o que a grande mídia diz de nós". Os movimentos de trabalhadores e demais movimentos sociais veem suas reivindicações desprezadas (povos indígenas), não atendidas (reforma agrária) ou mal atendidas (recursos para a agricultura familiar).
Movimentos sociais e entidades da sociedade civil precisam constantemente se mobilizar, denunciar, fazer pressão, para evitar perda de direitos, para evitar retrocessos maiores. E a maioria das vezes não o conseguem (Libra é apenas um exemplo).
Apesar da defesa e do apoio de alguns movimentos sociais, o governo nunca se sentiu obrigado a cumprir os compromissos assumidos com relação aos trabalhadores: nem a reforma agrária, nem a auditoria da dívida, nem a defesa das terras dos povos tradicionais...
A grande mídia é denunciada por autoridades públicas como parcial, agressiva, injusta com o governo, adepta de uma postura demolidora. Mas o governo nada faz para democratizar os meios de comunicação no Brasil, nada faz para quebrar o oligopólio existente, através da regulamentação do setor, que permitiria abrir o espectro das comunicações para outros atores. Por que? Porque, na verdade, apesar das críticas a aspectos secundários, a grande mídia apoia todos os projetos importantes do governo: o pagamento da dívida sem auditoria, os aumentos da taxa de juros (supostamente para conter a inflação), as usinas hidrelétricas na Amazônia, a transposição do S. Francisco, o leilão de Libra... As críticas da grande mídia mantêm a aparência de que os interesses da direita não estão sendo atendidos e que o governo é "de esquerda". A manutenção desta aparência interessa aos que querem se manter no poder. Na verdade, o governo receia a entrada em cena de outros meios de comunicação, capazes de trazer outras opiniões, de fazer a crítica a aspectos centrais da atual política. É por isso que, neste campo, tudo fica como está.
Existe uma direita mais à direita que este governo, sem dúvida. Que é possível piorar, é sempre possível. Mas que este governo está montado para atender aos interesses dos grandes grupos econômicos, também não há dúvida. Ele tem certamente várias políticas louváveis, faz o enfrentamento da pobreza, reduz a miséria, melhora a capacidade de consumo dos pobres com mais crédito. Mas não muda as estruturas geradoras da desigualdade social e, por isso, continua transferindo a maior parte da renda e da riqueza do país para os mais ricos do país e do mundo. E entregando nossas riquezas naturais para o setor privado e as multinacionais. Isso mostra claramente a quem este governo serve em primeiro lugar.
Nota do autor:
1.- ASSIS, José Carlos de (2005). A Macroeconomia do pleno emprego. In: SICSÚ, João, PAULA, Luiz Fernando de, MICHEL, Renaut (orgs.) (2005). Novo desenvolvimentismo: um projeto nacional de crescimento com eqüidade social. Barueri, Manole; Rio de Janeiro, Fundação Konrad Adenauer, p. 77-93.

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terça-feira, 26 de novembro de 2013

Cesp prevê preços mais altos para 2014



Cesp prevê preços mais altos para 2014

20/11/2013 - Valor Online - Por Claudia Facchini | De São Paulo
Energia 

Estatal paulista possui 1 mil MW disponíveis, mas não sabe ainda se vai vender essa energia no leilão do governo, em dezembro

A Cesp, que não aderiu à proposta de renovação antecipada das concessões do setor elétrico, é agora uma das geradoras que mais possuem energia disponível, ativo que custa hoje R$ 336 por Mwh no mercado de curto prazo.  O valor equivale a 10 vezes, aproximadamente, a tarifa que o governo federal havia estabelecido para a energia produzida pelas hidrelétricas da companhia - e que foi recusada pela Cesp no ano passado.

Quanto custa o déficit de energia elétrica?



O artigo abaixo estava programado para sair no Valor Econômico. Eu mesmo cancelei a publicação pois, refletindo melhor, acho que o leitor leigo vai ter dificuldade de compreender. Já que a página do Ilumina está com defeito, para não jogar fora, envio para os colegas. Apreciaria se lessem.


Quanto custa o déficit de energia elétrica?
Roberto Pereira D´Araujo [1]

Quanto você pagaria para que sua casa ou empresa não sofresse um racionamento como o de 2001? Não se trata de apagões, mas de medidas de contenção de consumo de longo prazo. É obvio que a resposta é diferente para cada um e, no caso de empresa, depende da sua atividade. Se ocorresse outra vez, apesar da felicidade de alguns geradores diesel, a economia brasileira sofreria um grave prejuízo, pois a carência de energia, logo se transformaria na falta de outros produtos.

No nosso confuso setor elétrico essa não é uma pergunta válida apenas para avaliar efeitos póstumos ao fato. Você pode não acreditar, mas a sua fatura de energia depende desse conceito. A cada mês, nas decisões de operação do sistema, acionando ou desligando usinas térmicas, um misterioso e ocluso valor, o Custo do Déficit (CD), influencia a sua despesa mensal. Apesar desse atrelamento, parece ser um número divino, já que seu valor e seu papel raramente são questionados.

Quando uma autoridade declara que há equilíbrio entre oferta e demanda, ela sabe que há um suposto custo do déficit por trás dessa certeza. Ironicamente, até o famoso mercado livre de energia é refém desse mítico número através do Preço de liquidação de Diferenças (PLD).

Apesar da subjetividade e dificuldade de se obter essa cifra, ela existe, é fixada pela ANEEL[2] e está por trás de tudo no setor.  Atualmente, vale R$ 3100/MWh ou R$ 3,1/kWh. Sendo um valor único, pode parecer irrisório para quem consome poucos kWh e soar como uma fortuna para setores eletrointensivos. Ele pode ser interpretado como o “temor” do racionamento. Em 2001, esse valor era de R$ 1.145/MWh[3], mas a origem do evento não está no baixo valor. Faça o capital privado esperar uma privatização de usinas prontas, acrescente uma seca média e a proibição de investimentos estatais e está feita uma autêntica “convocação” ao racionamento.

O CD é um parâmetro exógeno, estimado por modelos econométricos que relacionam o consumo de energia com os números de produção da economia. Ora, sendo um modelo estatístico, é baseado no passado para definir um número que influi no presente, mas também num futuro distante. Por mais sofisticados que sejam os métodos utilizados, eles não escapam das incertezas associadas aos seus parâmetros. Caso fossem considerados os níveis de significância de cada etapa do cálculo, certamente o valor de R$ 3.100 perderia a aura de certeza que tem hoje. Quanto mais alto o CD, maior o custo, porém, se estiver subavaliado, maior o risco. O que é pior?

Proponho fazer umas contas com o CD de 2001. Não estou recalculando o valor atual. Estou apenas comparando com mudanças ocorridas de 2001 até agora. Segundo a técnica vigente, quanto mais alto o CD, mais geração térmica e até mais usinas podem ser necessárias. Por força do modelo comercial adotado no Brasil, até o certificado de “garantia física”, o quantum de energia que cada usina pode comercializar, deveria variar com o CD. Por exemplo, se esse custo aumenta, a garantia de cada usina deveria decrescer, pois é preciso ampliar a segurança, que está indiretamente conectada a esse valor mágico.

Potanto, será que os R$ 3.100 de hoje são satisfatórios? Considerando apenas o IPCA do período, o CD de 2001 corresponderia hoje a R$ 2587/MWh, ainda abaixo do valor atual. No entanto, bastaria essa correção monetária?

O mercado de eletricidade sofreu uma mudança logo após 2002, pois a curva de consumo voltou a crescer, mas sempre se mantendo 15% abaixo do valor que teria ocorrido sem o racionamento.  Se essa experiência deixou algum benefício, com a ajuda da nossa cara tarifa, passamos a desperdiçar menos. Portanto, pode-se interpretar que cada kWh consumido passou a ser mais “essencial” do que era antes de 2001. Se dermos mais 15% de “importância” sobre os R$ 2587, já teríamos R$ 2975.

De 2001 até 2012, a nossa capacidade de reservar energia nos reservatórios caiu de sete meses e meio para cinco meses, dado o crescimento do consumo. Uma queda de 33%. Isso significa que os kWh guardados nos nossos reservatórios são muito mais importantes e “responsáveis” pela segurança do que os kWh reservados no passado. Portanto, se levarmos essa mudança estrutural em consideração já teríamos R$ 3.956/MWh.

Desde 2001, a tarifa média brasileira subiu 30% acima da inflação. Portanto, se quiséssemos manter a proporção do CD com a tarifa, ele poderia chegar a mais de R$ 5.000/MWh.

Apenas avaliando mudanças ocorridas no sistema de produção e no mercado de energia, parece haver mais motivos para desconfiar desse místico parâmetro. O valor de R$ 3.100/MWh pode ser uma versão piorada dos R$ 1.145/MWh válidos em 2001. Tomara que essas contas sejam alvo de críticas, pois, no fundo estamos falando da confiabilidade do sistema. É preciso deixar claro que não estou promulgando outro valor específico ao invés dos exatos R$ 3.100. O que o tento mostrar é que, sob o manto tecnicista, há fortes indícios de que o nosso subjetivo critério de garantia pode não ser tão seguro como alardeado.

Toda essa complexidade é fruto da adoção do modelo mercantil adaptado de sistemas térmicos. Por força desse mimetismo, uma usina brasileira não vende a energia que produz. Comercializa um “certificado” que depende de muitas variáveis, entre elas, o custo do déficit, incerto por sua própria natureza. O mundo real nos mostra alguns sintomas preocupantes. Gastos bilionários em usinas térmicas cobertos pelo tesouro precisariam de situações hidrológicas bem piores que as atuais para serem justificáveis. O acoplamento a um inseguro custo do déficit é apenas um dentre os muitos desafios que deveríamos enfrentar. Ao invés de intervir pontualmente alterando regras que afugentam os investimentos, já está passando o momento de reexaminar as “certezas absolutas” do modelo vigente.


Roberto Pereira d´Araujo





[1] Engenheiro Eletricista, Ex Chefe de Departamento em Furnas Centrais Elétricas – Diretor do ILUMINA -  Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Elétrico.
[2] RESOLUÇÃO HOMOLOGATÓRIA No 1.396, DE 11 DE DEZEMBRO DE 2012
[3] Nota Técnica no 41/2003-SEM/SRG/SRC/ANEEL

ANEEL e o eng. Edvaldo Santana


http://www.revistagtd.com.br/ler_noticia.php?id_noticia=15421&id_secao=14

domingo, 24 de novembro de 2013

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Os asiáticos sabem planejar e executar seus planos de forma adequada

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quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Caixa de Pandora

De: desenvolvimentistas@googlegroups.com [mailto:desenvolvimentistas@googlegroups.com] Em nome de Adriano Benayon
Enviada em: terça-feira, 19 de novembro de 2013 18:18
Para: 'Paulo'
Cc: desenvolvimentistas@googlegroups.com
Assunto: envolvi] RES: Caixa de Pandora

Caro Paulo Metri,

Parabéns por mais esta meritória contribuição sua ao esclarecimento de nossos compatriotas sobre a vital e estratégica questão do petróleo.

Trata-se de uma das principais áreas em que o Brasil está sendo lesado não só em termos quantificáveis monetariamente e materialmente, mas também quanto à perda de sua condição de nação autônoma.

Juntamente, com seu fator desencadeador, a entrega graciosa e subsidiada do mercado brasileiro às empresas transnacionais - iniciada a partir do golpe de agosto de 1954 e que desembocou, ademais, na dívida pública e seu espoliador serviço (juros e amortizações) – a entrega do petróleo acarreta prejuízos colossais ao País.

Em resumo,  três fontes de saqueio operando simultaneamente:

1) a extração, por quase nada,  de recursos minerais de valor incalculável;

2) os preços de oligopólios/carteis, cujo lucro é objeto de transferência para o exterior, sob 15 formas diferentes em contas do balanço de pagamentos [lucro esse avolumado ainda mais pela continuidade dos subsídios governamentais nos três níveis da Federação];

3) o serviço da dívida, responsável em 2012 por  44% das despesas da União federal.

Essas são algumas das seqüelas da desnacionalização, causa também da desindustrialização e da primarização tanto na produção econômica como na consciência de tanta gente submetida à enganação acadêmica, midiática, que busca perenizar a reversão a algo pior que a condição colonial, apassivando e intoxicando os brasileiros, não só com os químicos nos alimentos e nos “remédios”, mas com a desinformação, a descaracterização cultural e a estupidez ideológica.

É interessante notar que, apenas um ano após a instituição do monopólio estatal do petróleo (1953), a oligarquia financeira angloamericana conseguiu dar a partida para a destruição dele, através do golpe de 1954, iniciando com a Instrução 113 da SUMOC (janeiro de 1955),  a entrega da economia nacional às empresas transnacionais, incrivelmente com a ajuda e os subsídios do governo brasileiro, que, assim, pagou para fazer essa entrega.

Demorou um tanto, mas o próprio monopólio estatal do petróleo soçobrou como consequência natural do debilitamento do País ao longo dos 43 anos decorridos de 1954 a 1977.

E hoje não é só o monopólio do petróleo que está quebrado, mas também o próprio Estado, o qual,  nos últimos decênios, se demitiu de todas as funções que deve ter um Estado minimamente interessado no desenvolvimento nacional.

Abraços,

Adriano Benayon


De: Paulo [mailto:pmetri@terra.com.br]
Enviada em: terça-feira, 19 de novembro de 2013 09:24
Para: 'Paulo'
Assunto: Caixa de Pandora

Caixa de Pandora

Paulo Metri – conselheiro do Clube de Engenharia

Ela começou a ser aberta em 1995, no momento em que o presidente FHC forçou a mudança do Artigo 177 da Constituição, o que significou, de fato, a extinção do monopólio estatal do petróleo. Tratou-se de uma mudança constitucional com redação dúbia, tanto que ganhou uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) colocada pelo então governador Requião.
A pergunta que as pessoas expostas à questão fazem é o por que de ser preciso fazer uma mudança constitucional dúbia. A explicação é simples: para não se chocar a opinião pública, pois, se a sociedade fosse consultada, certamente iria negar a permissão para o término do monopólio estatal. Então, era preciso dar a impressão de que o monopólio continuaria existindo, enquanto as empresas petrolíferas estrangeiras entravam no país. Desta forma, foi preciso usar um texto aparentemente lógico para se conseguir ludibriar. O ministro do Supremo Eros Grau, ao proferir seu parecer sobre esta Adin, utilizou grande malabarismo argumentativo.
No entanto, apesar de a Adin ter sido negada pela composição de ministros do STF da época, uma dúvida ainda persiste. Como pode um monopólio estar determinado no Artigo 177, mesmo após a modificação, e existirem dezenas de empresas atuando no setor no Brasil? Mas, enfrentando a realidade, temos que a Caixa de Pandora foi aberta e os três governantes, que se sucederam desde então, já entregaram mais de 900 áreas do território nacional. Em menos da metade destas áreas, a Petrobras tem alguma participação. Em todas estas áreas, exceto uma, quem descobre o petróleo tem a sua posse e só precisa pagar alguns tributos em dinheiro.
Apesar de correr o risco de cansar o leitor, analiso de maneira exaustiva a atuação das empresas estrangeiras em comparação com a Petrobras, porque o tema é relevante. Elas não compram plataformas no Brasil, quase não empregam nacionais, não contratam engenharia no país, não encomendam desenvolvimentos tecnológicos aqui, têm menos preocupação com relação à segurança das instalações e dos que nelas trabalham. E, com relação à proteção ao meio ambiente, podem produzir de forma predatória e não se dispõem a executar políticas públicas. Enfim, só vêm para cá para levar, no tempo mais rápido possível, o petróleo nacional e deixar aqui só os tributos que são exigidos.
Em torno de 10% do petróleo brasileiro já auditado, cerca de 17 bilhões de barris, não pertencem mais ao Brasil e, sim, a empresas estrangeiras, que irão levá-los para o exterior, assim que forem retirados do subsolo. Nenhuma das empresas estrangeiras quer abastecer o país, à medida que nenhuma delas constrói refinaria aqui. Técnicos afirmam que a Petrobras já descobriu, no pré-sal, 60 bilhões de barris, que ainda não foram auditados. Contudo, ela não está sozinha na maioria destes campos. Por exemplo, em Carioca, ela detém só 45% do campo e, em Iara, só 65%. Estima-se que 40% das descobertas feitas pela Petrobras no pré-sal, em torno de 24 bilhões de barris, também não pertencem mais ao Brasil.
No entanto, a caixa de maldades de Pandora não tem só estas desgraças. Os possíveis danos causados pelas empresas estrangeiras, que atuam no mundo todo, são ainda maiores. Para tanto, basta ver o “curriculum vitae” destas empresas no último século. Já mantiveram governos corruptos, depuseram outros que não satisfizeram seus interesses, financiaram ditaduras opressoras de povos, foram responsáveis por guerras civis dentro de países, como, na Nigéria, com um milhão de mortos e, no Sudão, com um e meio milhão de mortos. Elas nunca tiveram compromisso algum com as sociedades dos países onde atuaram, produziram petróleo com pouca preocupação com a segurança, de forma a minimizar os custos, porém causando, muitas vezes, catástrofes ambientais e sociais.
O passado nada glorioso delas na Nigéria, no Gabão, no Sudão, na Líbia, no Iraque, no Irã, na Arábia Saudita, no Cáucaso, na Ásia Central, na Venezuela e em outros países e regiões, além da tentativa de se apropriar do petróleo russo, é contado em detalhes, com depoimentos de conhecedores dos fatos, em quatro vídeos da série intitulada: “O Segredo das Sete Irmãs – A Vergonhosa História do Petróleo”. Eles podem ser encontrados em mais de um site na internet, como, por exemplo, em: http://www.youtube.com/watch?v=jQYK3ttfVaw&list=PL65E3B3A3DC9AEBD0&index=1
Os responsáveis pelos vídeos são Frédéric Tonolli e Arnaud Hamelin. Cada vídeo é de aproximadamente 50 minutos, mas vale a pena assistir, até mesmo para se conhecer a caixa de Pandora que foi aberta, aos poucos, no Brasil, desde 1995. Hoje, já estão aqui todas as empresas citadas nos vídeos, como Chevron, Exxon, Shell, BP, Total, as chinesas e outras.
Porém, o tempo é outro e o Brasil está, hoje, em um estágio de desenvolvimento político diferente da maioria destes países. Mas o método para obtenção de petróleo e lucro destas empresas não mudou. Certamente, elas atuam em cartel e com seus países de origem dando total apoio às suas pretensões, o que inclui as mais baixas pressões. Não me espantaria ao ser informado que elas chegam a “capturar” órgãos do Estado brasileiro.
No entanto, grandes inocentes, existentes na imprensa de esquerda, acreditam na concorrência perfeita entre estas empresas e nas boas intenções das mesmas, como investir com máxima segurança para evitar acidentes e danos ambientais, mesmo que isto diminua o lucro. Ou a boa intenção de retirar o petróleo de um campo à taxa máxima de recuperação do petróleo, mesmo que esta taxa signifique redução da lucratividade.
  
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O estratégico nióbio e a política suspeita via Lei Kandir e preços duvidosos de contabilização - a desnacionalização do Brasil



O estratégico nióbio

Adriano Benayon * - 11.11.2013

As ligas de ferro-nióbio são o principal dos produtos do nióbio nas exportações brasileiras, tendo totalizado US$ 4,8 bilhões, de 1996 a 2013. Somamos os dados, ano a ano, que estão na tabela do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio.  

2.  O mercado é fechado, estando concentrado em poucas empresas importadoras e pouquíssimas empresas  exportadoras. São transações entre empresas dos mesmos grupos ou entre grupos associados. A CBMM, de Araxá, que exporta 90% do total, vende o produto às suas próprias subsidiárias no exterior.

3. O preço seria muito mais alto, se houvesse mercados abertos ou algum tipo de concorrência, a não ser entre indústrias utilizadoras do metal.

4. A Bolsa de Metais de Londres não informa sobre negociações com o nióbio. Muitas fontes dizem que o nióbio não é negociado nessa bolsa nem em outras. 

5. Encontrei na internet notícia recente, 6 de setembro,  da Bolsa de Metais de Bejing (Pekim) nestes termos: “Os preços do nióbio metálico a 99,9% de pureza permanecem estáveis em 115 a 120 dólares por quilo, na Comunidade de Estados Independentes.” [Rússia, Ucrânia e outros]

6. Guardei também uma cotação, de 22.01.2011, do sítio eletrônico “chemicool/elements/niobium”, de nióbio puro (óxido de nióbio), a US$ 18.00 por 100 g = US$ 180.00 por quilo. Além disso, outra, do mesmo ano, em que a barra de nióbio era cotada a US$ 315,70 por quilo.

7. Isso é mais de 10 vezes o preço oficial da exportação brasileira desse insumo, i.é., US$ 30,00 por quilo, no último ano.  Já o preço oficial da chapa de ferro-nióbio é menor ainda (R$ 25,00), mesmo porque não se refere propriamente ao nióbio incorporado  às ligas de ferro-nióbio, nas quais o conteúdo de nióbio é diminuto, embora suficiente para lhes dar qualidade muitíssimo acima das outras ligas metálicas.

8. Para ter uma ideia, o preço oficial das exportações das ligas de ferro-silício e ferro-manganês, têm estado em US$ 1,77 e US$ 2,25, respectivamente. Dez vezes inferiores aos do ferro-nióbio.

9. Embora o óxido de nióbio tenha muito valor no exterior, mormente transformado, após o processo de redução, ele é de pouca significação nas exportações oficiais brasileiras.  O valor oficial de suas vendas ao exterior quase dobrou de 2009 para 2010, mas não é expressivo: foi para US$ 44 milhões, com preço médio de US$ 30,00, para quase 1.500 toneladas.

10. Esse preço de um produto processado em pouco supera o do minério bruto, que vem associado ao tântalo e ao vanádio. As exportações oficiais desse minério chegaram, em 2012, a quase US$ 50 milhões, com valor unitário  de US$ 24,00.

11. Note-se que as mineradoras instaladas no Brasil, a CBMM e a Anglo-American, têm, com as ligas de ferro-nióbio, receita 36 vezes maior que a obtida com o minério bruto e 41 vezes maior que a obtida com  o óxido de nióbio, mesmo contando-se só suas provavelmente subfaturadas exportações.

12. Devem isso à iniciativa do professor Bautista Vidal, titular, nos anos 70, da Secretaria de Tecnologia Industrial. Ele mobilizou técnicos para criar o processo de incorporar o óxido às ligas metálicas, através do Departamento de Engenharia de Materiais - da Escola de Engenharia de Lorena- USP.

13. As exportações oficiais das ligas de ferro-nióbio certamente não chegam a US$ 6 bilhões, desde que começaram, nos anos 80,  até hoje. Pois, em 1996,  o volume ainda era diminuto, e os preços, muito baixos. De então até 2013, conforme a Tabela do MDIC, foram US$ 4,8 bilhões.

14. Causa, pois  surpresa esta notícia da Agência Bloomberg, dos EUA, publicada em 03/03/2013, no Valor Econômico: “Família mais rica do Brasil fez US$ 13 bilhões com o sonho do nióbio”.

15. Nela foi reportado: “Ela [a CBMM, Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração] vale pelo menos US$ 13 bilhões, baseado na venda da família de uma parte de 30% para um grupo de produtores de aço asiático por US$ 3,9 bilhões em 2011”.

16. O dado mais notável da notícia da Bloomberg/Valor Econômico é este: “ ... os herdeiros de Moreira Salles, a família mais rica do Brasil, seus quatro filhos, Fernando, Pedro, João e Walter, controlam uma fortuna combinada de US$ 27 bilhões, segundo o ‘Bloomberg Billionaires Index’ ”.

17. Levando em conta que o outro patrimônio mais importante do grupo Moreira Salles era o UNIBANCO, um banco que, há alguns anos, entrou em dificuldades e foi absorvido pelo Itaú,  parece nebuloso como foi possível acumular US$ 27 bilhões, com os lucros decorrentes fundamentalmente das exportações de nióbio, valoradas conforme as cifras oficiais.

18. De fato, os lucros disso para a CBMM não poderiam passar muito de US$ 1 bilhão, diante destes fatos: 1) faturamento de  $ 6 bilhões; 2) mesmo que os lucros tivessem sido sempre 50% do faturamento, não passariam de US$ 3 bilhões; 3) até 2007, a CBMM só tinha 50% das ações, além de que a tecnologia e o provável controle serem da Molybdenum Corp; dos EUA, do grupo Rockefeller; 4) desde 2011, há grupos siderúrgicos asiáticos com 30% de participação na CBMM; 5) a CODEMIG (estatal de Minas Gerais) tem 25% de participação nos “lucros operacionais” da CBMM; 6) 10% das exportações oficiais provêm da Anglo-American.

19. Com cerca de US$ 1 bilhão de lucros acumulados, e mais os  US$ 3,9 bilhões da venda de 30% do capital da CBMM, admitindo que tenham ido inteiramente para o grupo Moreira Salles, ainda se fica muito longe dos US$ 27 bilhões referidos na notícia mencionada.

20. Fica, pois, demonstrado que o Brasil está longe de ter, em seu proveito, as receitas reais ou, no mínimo, as receitas reais possíveis, da extração de seu subsolo de um metal tão precioso e estratégico como o nióbio.

21. A Constituição nasceu com deficiências, e até fraudes, como a que privilegia o serviço da dívida, e foi sendo emendada, quase que invariavelmente, para pior. E o que tem de bom, fica, nas atuais condições, sem serventia. Exemplo: a propriedade do subsolo e dos recursos minerais definidos como bens da União (art. 20, VIII, IX e X).

22. Seria a base para garantir o interesse do País nessa área. Entretanto, o Estado tornou-se demissionário: praticamente tudo é objeto de concessões. No caso da principal reserva de nióbio, a União a cedeu ao Estado de Minas. Este, depois de mais de trinta anos de concessão à CBMM, renovou-a, em 2003, por mais 30 anos, sem licitação.

23. Cabe indagar por que as coisas são assim? Creio que vêm de longe e se foram agravando. Aí pelos anos 50, alguns líderes ainda tentavam consolidar a consciência dos interesses nacionais, e o País fazia progressos para o desenvolvimento. Nisso, o País sofreu intervenções, como a conspiração que derrubou Vargas em 1954. Logo após esse golpe, foram dados privilégios às empresas transnacionais, cujos carteis foram esmagando, em crescente quantidade, promissoras indústrias nacionais.

24. Isso acentuou-se sob JK, com a mesma política de atração de capitais estrangeiros, a qual fez implantar o cartel da indústria automobilística. Esse, até hoje, produz déficits externos e ainda se ceva de isenções fiscais e subsídios da União, dos Estados e dos Municípios.

25. Ora, a desnacionalização  implica inviabilizar o desenvolvimento tecnológico e faz que o apoio governamental à ciência e a tecnologia seja,  na maior parte, desperdiçado, pois as tecnologias só se desenvolvem em empresas atuantes no mercado. E dele as nacionais têm hoje poucos nichos.  A consequência é a  desindustrialização, entendida não só como regressão à produção primária, mas também como confinamento da indústria a produções de baixo valor agregado.

26. Os capitais estrangeiros tornaram-se dominantes inclusive na informação, nas comunicações e na política. As políticas passaram a ser desenhadas no seu interesse. Entre os inumeráveis exemplos, está a lei Kandir, que isenta a exportação, inclusive de produtos primários, de IPI, ICMS e contribuições sociais. Primeiro lei complementar, ela ganhou mais status em 2003: através de EC, foi incorporada à Constituição.

27. Então, a sociedade fica sem forças para reagir, já que os empresários industriais nacionais foram dizimados, e os que restam são acuados por políticas adversas. Tampouco os trabalhadores estão bem organizados para defenderem o País, o que seria a própria defesa deles.

28. Tivesse o País evoluído nos últimos 59 anos, a economia ter-se-ia diversificado para patamares crescentes de intensidade tecnológica, e, como no quartzo para os chips e a eletrônica avançada, o  nióbio estaria sendo utilizado, em grande escala, nos bens de altíssimo valor agregado.

29. Nesse caso, não estaríamos falando das perdas atuais com subpreços. Nem precisaríamos lembrar que nosso percentual da oferta do nióbio  é muito maior que a de todos os membros da OPEP, juntos, no tocante ao petróleo. Poderíamos criar a Bolsa do Nióbio e defender seus preços.

30. E ganharíamos centenas de vezes mais ao fabricarmos bens de elevada tecnologia, competitivos, livres dos carteis e de grupos concentradores.

31. Esse padrão de desenvolvimento e de consciência dos interesses nacionais, por parte das lideranças políticas, faria  conhecer o real valor do nióbio e de outros recursos naturais, e, assim,  eles não seriam alienados por praticamente nada. O Brasil teria também ganhado poder suficiente para defender seu povo e seus bens.

[Notas: 1) a CBMM pertence à holding financeira, Brasil Warrants, originalmente Brazilian Warrants, adquirida em Londres, a qual seria controlada pela família Moreira Salles; 2) documentos oficiais classificam como de seu interesse estratégico dos EUA as reservas de nióbio situadas em Araxá (MG), concedidas à CMBB e Catalão (GO), à mineradora britânica Anglo-American.]