Custo Sul do Brasil e o desprezo da federação pelos
sulistas.
O nosso país é gigantesco. Oito e meio milhões de
quilômetros quadrados não é pouco. Nesse quase continente alguns estados
tiveram condições e capacidade de se desenvolverem, outros ficaram na fila
esperando a vez. Resultado, por efeito de dogmas justos e injustos parece que
algumas regiões devem ser contidas, enquanto outras fazem o que bem entendem.
O Sul do Brasil é uma região de ocupação tardia. Área de
fronteiras belicosas e de clima selvagem, principalmente em Santa Catarina, conseguiu
crescer graças a decisões dos tempos monárquicos, que viram a necessidade de
ocupar um território ambicionado pelos vizinhos espanhóis e seus descendentes,
trazendo imigrantes de regiões já desenvolvidas e trabalhadores aptos ao serviço
duríssimo, que enfrentaram internados frequentemente em florestas semitropicais
úmidas e com tribos indígenas belicosas (o que era justo , mas não entendido
dessa forma na cultura da época).
As “entradas” e a expansão feita em desacordo ao Tratado de
Tordesilhas agigantou o Brasil, criando, contudo, muita animosidade. Não foi
sem razão que vivemos em clima de guerra e a invasão paraguaia no tempo de
Solano Lopes aconteceu. O inverso também fez história, com a anexação frustrada
da Província Cisplatina (Uruguai).
Se o Brasil formou uma mentalidade imperialista local, entre
os estados a situação não foi diferente. Principalmente a partir da proclamação
da República a política “café com leite” materializou uma fraternidade perversa
às demais unidades.
Sentimos isso concretamente durante nossa vida
político-administrativa e lendo avidamente notícias que mal apareciam por aqui.
Histórias que nossos avós contavam ilustravam isso tudo, como a erradicação do
café em Santa Catarina. Felizmente a internet veio, dando condições de
descobrir o que lideranças paulistas, por exemplo, pensam da gente.
A entrada em operação do gasoduto Brasil-Bolívia e sua
diminuta derivação para o sul, aproveitada pela Compagas e similares em outros
estados, assustou indústrias que perceberam a perda de competitividade acima dos
rios Itararé e Paranapanema. A duplicação da Régis Bittencourt patina pelo
IBAMA sem pressa e nossos aeroportos ao sul são simplesmente regionais,
impedindo a utilização à plena carga de grandes aeronaves. Navegação de
cabotagem? Existe? Hidrovias e ferrovias operam precariamente e assim as
rodovias existentes transformam-se em autênticos corredores da morte e gargalos
econômicos.
Somos muito ingênuos, até a Lei Kandir é citada na Wikipédia
como responsável por enormes perdas fiscais ao viabilizar a exportação de
produtos que deveriam ser industrializados aqui, o sul do Brasil perdeu muito
com ela.
A renovação das concessões das empresas de energia elétrica
é outro rombo nas contas sulistas, algo feito sem critério adequado ao uso racional
da energia, à segurança das usinas e ao uso múltiplo das águas, pode? Onde
estão os nossos representantes no Governo Federal e no Congresso Nacional?
Se tudo fosse apenas isso, mas a União legisla sobre assuntos
que não lhe competem. Um exemplo é a demolição visual de nossas cidades que
ainda usam redes aéreas para distribuição de serviços de energia e
comunicações, algo que no âmbito do Ministério das Telecomunicações é
vergonhoso, pois tivemos gente nossa por lá.
O feriadão da Proclamação da República passou. Talvez no sul
do Brasil fosse mais adequado que usássemos esses dias para lamentações do
final da Monarquia, quando o sul do Brasil era visto com mais respeito. Aliás,
as revoltas que aconteceram, apesar dos detalhes da decisão inaceitável (desprezando
milhares de brasileiros que viviam ao longo do traçado do trecho dessa
ferrovia) em torno da construção da Ferrovia Paraná - Santa Catarina, que gerou
a Guerra do Contestado, mostraram bem o que sentíamos. A Revolução de 1930 foi
algo natural, aproveitando uma brecha no rompimento do acordo leiteiro e o
período militar um tempo em que os sulistas usaram para colocar alguns generais
no comando do Brasil, tempo, entretanto, desperdiçado graças à ansiedade de
muitos conterrâneos de arrumar um carguinho em empresas federais...
Em tempo, quem fez riqueza com o Brasil do jeito que está
não quer mudanças.
Cascaes
23.11.2012
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