segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Custo Sul do Brasil



Custo Sul do Brasil e o desprezo da federação pelos sulistas.
O nosso país é gigantesco. Oito e meio milhões de quilômetros quadrados não é pouco. Nesse quase continente alguns estados tiveram condições e capacidade de se desenvolverem, outros ficaram na fila esperando a vez. Resultado, por efeito de dogmas justos e injustos parece que algumas regiões devem ser contidas, enquanto outras fazem o que bem entendem.
O Sul do Brasil é uma região de ocupação tardia. Área de fronteiras belicosas e de clima selvagem, principalmente em Santa Catarina, conseguiu crescer graças a decisões dos tempos monárquicos, que viram a necessidade de ocupar um território ambicionado pelos vizinhos espanhóis e seus descendentes, trazendo imigrantes de regiões já desenvolvidas e trabalhadores aptos ao serviço duríssimo, que enfrentaram internados frequentemente em florestas semitropicais úmidas e com tribos indígenas belicosas (o que era justo , mas não entendido dessa forma na cultura da época).
As “entradas” e a expansão feita em desacordo ao Tratado de Tordesilhas agigantou o Brasil, criando, contudo, muita animosidade. Não foi sem razão que vivemos em clima de guerra e a invasão paraguaia no tempo de Solano Lopes aconteceu. O inverso também fez história, com a anexação frustrada da Província Cisplatina (Uruguai).
Se o Brasil formou uma mentalidade imperialista local, entre os estados a situação não foi diferente. Principalmente a partir da proclamação da República a política “café com leite” materializou uma fraternidade perversa às demais unidades.
Sentimos isso concretamente durante nossa vida político-administrativa e lendo avidamente notícias que mal apareciam por aqui. Histórias que nossos avós contavam ilustravam isso tudo, como a erradicação do café em Santa Catarina. Felizmente a internet veio, dando condições de descobrir o que lideranças paulistas, por exemplo, pensam da gente.
A entrada em operação do gasoduto Brasil-Bolívia e sua diminuta derivação para o sul, aproveitada pela Compagas e similares em outros estados, assustou indústrias que perceberam a perda de competitividade acima dos rios Itararé e Paranapanema. A duplicação da Régis Bittencourt patina pelo IBAMA sem pressa e nossos aeroportos ao sul são simplesmente regionais, impedindo a utilização à plena carga de grandes aeronaves. Navegação de cabotagem? Existe? Hidrovias e ferrovias operam precariamente e assim as rodovias existentes transformam-se em autênticos corredores da morte e gargalos econômicos.
Somos muito ingênuos, até a Lei Kandir é citada na Wikipédia como responsável por enormes perdas fiscais ao viabilizar a exportação de produtos que deveriam ser industrializados aqui, o sul do Brasil perdeu muito com ela.
A renovação das concessões das empresas de energia elétrica é outro rombo nas contas sulistas, algo feito sem critério adequado ao uso racional da energia, à segurança das usinas e ao uso múltiplo das águas, pode? Onde estão os nossos representantes no Governo Federal e no Congresso Nacional?
Se tudo fosse apenas isso, mas a União legisla sobre assuntos que não lhe competem. Um exemplo é a demolição visual de nossas cidades que ainda usam redes aéreas para distribuição de serviços de energia e comunicações, algo que no âmbito do Ministério das Telecomunicações é vergonhoso, pois tivemos gente nossa por lá.
O feriadão da Proclamação da República passou. Talvez no sul do Brasil fosse mais adequado que usássemos esses dias para lamentações do final da Monarquia, quando o sul do Brasil era visto com mais respeito. Aliás, as revoltas que aconteceram, apesar dos detalhes da decisão inaceitável (desprezando milhares de brasileiros que viviam ao longo do traçado do trecho dessa ferrovia) em torno da construção da Ferrovia Paraná - Santa Catarina, que gerou a Guerra do Contestado, mostraram bem o que sentíamos. A Revolução de 1930 foi algo natural, aproveitando uma brecha no rompimento do acordo leiteiro e o período militar um tempo em que os sulistas usaram para colocar alguns generais no comando do Brasil, tempo, entretanto, desperdiçado graças à ansiedade de muitos conterrâneos de arrumar um carguinho em empresas federais...
Em tempo, quem fez riqueza com o Brasil do jeito que está não quer mudanças.
Cascaes
23.11.2012

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