Para: João Carlos Cascaes
Assunto: Banda larga na rede elétrica não deslancha
Assunto: Banda larga na rede elétrica não deslancha
Banda larga na rede
elétrica não deslancha
A utilização da rede elétrica na universalização da banda larga, como quer o governo, não é uma tarefa fácil, pelo menos não na urgência que se pretende. As tecnologias existentes e regulamentadas, como o PLC (Power Line Communication), por exemplo, têm fracassado nesse sentido. É o que prova o teste realizado pela Copel (Companhia Paranaense de Energia) por cerca de um ano no município de Santo Antonio da Platina, de levar a banda larga aos domicílios da cidade. A conclusão da empresa é de que o sistema não se aplica imediatamente no Brasil, diante das soluções de conexões existentes no mercado.
Segundo assessor da companhia, Júlio Malhados, a
principal dificuldade é a fiação elétrica disponível nas residências, que está
em condições precárias, reduzindo substancialmente a qualidade do serviço. “É o
mesmo que andar em uma Ferrari numa rua esburacada”, comparou. Mas os problemas
não param por ai. Foram observadas interferências no serviço com o uso de
outros eletrodomésticos e problemas de transmissão de dados na linha de baixa
tensão, que pode ser prejudicada pela simples existência de um transformador no
circuito.
O professor Sidney Martini, pesquisador do tema na
USP, aponta para outro problema: a segurança dos dados. “Como é uma rede
externa, a captura desses dados por terceiros é perfeitamente possível”,
sustenta. E há ainda a questão regulatória, que impede a captura de boa parte
da receita desse serviço pelas elétricas. “Pela norma atual, 60% do apurado com
o serviço de internet têm que ser aplicados na modicidade tarifária da energia,
desestimulando investimentos nessa área”, dispara Marco Delgado, diretor da
Abradee (Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica).
Para o presidente da Aptel (Associação Brasileira de
Empresas Proprietárias de Infraestrutura e de Sistemas Privados de
Telecomunicações), Pedro Jatobá, todas essas questões podem ser superadas. O
gargalo no uso do PLC está na norma editada posteriormente pela Aneel (Agência
Nacional de Energia Elétrica), que impede o uso concomitante do serviço de
transmissão de dados para o público e para consumo interno. Ou seja, ela não
pode usar o sistema de telecomunicações para automação da sua rede.
“Essa regulamentação surpreendente acabou matando a
possibilidade do uso da tecnologia na banda larga e ainda exterminou a
indústria de componentes para o sistema, que existia há quatro anos aqui”,
ressalta Jatobá. Ele lembra que o Brasil é o único país na América Latina que
tem a tecnologia regulamentada e homologada e não usa.
Após estudo realizado pela Aptel, junto com a Abradee,
e atendendo a chamamento público da própria Aneel, a agência mostra sinais de
que pode rever essa norma. “Mas já se passaram três anos e nada foi feito”,
lamenta Jatobá.
Apesar dos entraves no fornecimento de banda larga
ponta a ponta, as elétricas têm investido na modernização de suas redes,
transformando-as em verdadeiros backbones. A Copel, por exemplo, possui rede
cobrindo todo o estado do Paraná, por meio de cabos OPGW (para-raios com fibras
ópticas), que ela aluga para empresas de telecomunicações. Novamente, a questão
regulatória funciona como ponto de desequilíbrio. A receita obtida com o
compartilhamento da rede é praticamente repassada na totalidade para a
modicidade tarifária. “Apenas 10% desses ganhos podem ser capturados pelas
empresas”, diz Delgado.
Mas as empresas continuam investindo em redes OPGW
porque são necessárias para a smart grid, redes inteligentes de baixa tensão
que começam a se proliferar no país como forma de renovação do sistema
elétrico. “A principal característica dessa nova rede é a interoperabilidade,
que permite a gestão completa de todos os serviços prestados pelas elétricas,
desde desligamento, religamento, controle de consumo até a entrada, na rede, da
energia acumulada por pessoas que façam captação solar ou eólica, ou, ainda, o
abastecimento de carros elétricos, dependendo do grau de automação alcançado”,
disse Marco Delgado.
O diretor da Abradee informa que essas facilidades já
são realidade nas redes de alta tensão e revolucionam a prestação do serviço.
Com a smart grid, a automação irá atingir a quase 70 milhões de domicílios que
possuem ligações elétricas no país e demandará investimentos da ordem de R$ 50
bilhões a R$ 100 bilhões – a depender do grau de sofisticação da automação que
se quer alcançar- nos próximos 15 anos.
Fonte: Telesíntese
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