Cascaes
A EPE coloca em torno
de 30% o fator de capacidade dos parques eólicos.
Em nosso artigo
adotamos um valor médio de 22%, para ficar do lado seguro.
Abraço,
Joaquim
P.S. Em anexo vai o
artigo em world.
Valor Econômico 1º de novembro de 2012
Um
sistema interligado hidroeólico para o Brasil
Joaquim F. de Carvalho e Ildo
L. Sauer
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O Brasil dispõe de potenciais
hidrelétrico e eólico que lhe abrem a possibilidade de produzir, de forma
renovável e sustentável, toda a energia elétrica que consome - e consumirá,
quando a população estiver estabilizada em 215 milhões de habitantes, o que,
segundo o IBGE, deverá acontecer por volta de 2050.
A interligação dos parques
eólicos com a rede hidrelétrica, visando a estruturar um sistema hidroeólico,
contribuirá para suavizar a intermitência dos ventos, pois isso permite que
se firme a energia eólica mediante a sua "acumulação", por assim
dizer, nos reservatórios hidrelétricos, nas épocas de ventos abundantes, para
ser usada nas temporadas secas.
A interligação dos parques
eólicos entre si também contribui para contornar o problema da intermitência
dos ventos, por meio do chamado "efeito portfólio", pelo qual, à
semelhança de uma carteira de ações na bolsa de valores, a produção conjunta
de todos os parques varia menos do que as produções individuais de cada um.
Graças ao seu imenso potencial
hidrelétrico - e à possibilidade, ainda existente, de se implantarem grandes
reservatórios de acumulação - o Brasil tem uma extraordinária vantagem
comparativa em relação à maioria dos países europeus e asiáticos, que são
obrigados a apelar para as onerosas e poluentes usinas termelétricas
convencionais ou para as antieconômicas centrais nucleares que, ademais,
expõem as populações a inaceitáveis riscos de acidentes catastróficos.
Naturalmente - além de se
orientar por critérios técnico-econômicos e ambientais - a implantação de
parques eólicos e, principalmente, de novos reservatórios hidrelétricos deve
respeitar o direito das populações regionais, particularmente as ribeirinhas,
mediante a execução de programas de reassentamento, planejados em cooperação
com as lideranças locais.
Entretanto, determinados
segmentos da sociedade têm a percepção de que a geração hidrelétrica é
invariavelmente deletéria, por causar a "artificialização das bacias
hidrográficas". Devido a essa percepção equivocada, o Brasil corre o
risco de ser obrigado a imitar países que, não dispondo de vantagens como as
brasileiras, têm que apelar para usinas termelétricas convencionais ou
nucleares.
Na verdade, os reservatórios
hidrelétricos podem ser aproveitados para múltiplas finalidades, tais como
regularização de vazões, transporte fluvial, irrigação de grandes áreas
visando à produção agrícola, pesca interior, turismo ecológico, etc. Todos
esses usos requerem a preservação das matas ciliares e são ambientalmente
benéficos, ao contrário do que supõem os adversários emocionais dos
reservatórios hidrelétricos.
Um notável exemplo de uso
múltiplo de bacia hidrográfica é o da usina hidrelétrica de Três Marias,
originalmente projetada apenas como reservatório de regularização, para
irrigar 100 mil hectares do Projeto Jaíba, em Minas Gerais. Esse reservatório
(que cobre uma área maior do que o dobro da Baia da Guanabara) é responsável
pelo desenvolvimento da outrora paupérrima região nordeste de Minas. A
geração hidrelétrica foi apenas uma decorrência de sua construção. Outro
exemplo é o da hidrelétrica de Sobradinho, que permitiu o desenvolvimento do
maior polo de fruticultura irrigada do Brasil.
Ainda outros exemplos são
algumas hidrelétricas da Light e da Cesp, cujos reservatórios regularizam a
vazão da bacia do rio Paraíba do Sul e permitem a captação de água para a
região metropolitana do Rio de Janeiro e algumas cidades do trecho paulista
daquela bacia.
Um sistema hidroeólico
estruturado nas condições brasileiras seria inteiramente sustentável e teria
capacidade para cobrir indefinidamente a demanda brasileira por energia
elétrica. As usinas térmicas a gás natural já existentes, com suprimento
flexível de combustível, seriam acionadas apenas em períodos críticos,
servindo como seguro para otimizar a operação do sistema.
Quanto à verdadeira magnitude do
potencial eólico brasileiro, cabe assinalar que, em 2001, o Centro de
Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel) realizou um inventário, estimando-o em
143 GW. Estudos mais recentes, promovidos pela Empresa de Pesquisa Energética
(EPE), apontam para um potencial superior a 280 GW. As perspectivas de se
inventariar um potencial ainda maior são muito auspiciosas, com a realização
de uma rigorosa campanha de medições em todas as regiões promissoras do país
- e com os ganhos de escala e aprendizado, resultantes do desenvolvimento
tecnológico e da nacionalização da cadeia produtiva eólica.
Por fim, no tocante aos custos
da energia elétrica, lembremos que estes se compõem de uma parte fixa,
correspondente à amortização do capital investido - e de uma parte administrável,
composta pelas despesas necessárias ao funcionamento da usina geradora.
A parte fixa abrange as
despesas incorridas na implantação da usina (projetos, equipamentos,
construção, montagem e testes), e a parte administrável compreende as
despesas de operação e manutenção, seguros, encargos trabalhistas, etc. No
caso de usinas nucleares, há também os custos do combustível, do
descomissionamento ao fim da vida útil e da administração dos rejeitos
radiativos.
Os custos finais devem ser
calculados e estabelecidos por meio de negociações entre o poder concedente e
o investidor, nas quais entram critérios subjetivos tais como
"atratividade" para o investidor e "razoabilidade" para
os consumidores; daí o imperativo ético de que o processo seja absolutamente
transparente. Assim, no Brasil, o custo da energia hidrelétrica fica em cerca
de R$ 80/MWh, o da eólica em R$ 100/MWh e o da nuclear em R$ 200/MWh.
* Joaquim
Francisco de Carvalho é pesquisador visitante da Coppe/UFRJ e do IEE/USP.
Ildo Luis Sauer é professor titular
de Energia do IEE/USP.
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