De: Adriano
Benayon [mailto:abenayon.df@gmail.com]
Enviada em: quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013 09:08
Para: 'BOSCO'
Assunto: artigo: Finança mundial
Enviada em: quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013 09:08
Para: 'BOSCO'
Assunto: artigo: Finança mundial
Tenho o prazer de enviar artigo.
AB
Finança mundial
Adriano Benayon * – 29.01.2013
Novos dados informam que somente cinco
bancos têm ativos de 8,5 trilhões de dólares, o equivalente a 56% do PIB
dos Estados Unidos: JP Morgan Chase, Goldman Sachs Group,
Citigroup, Bank of America e Wells Fargo.
02. Os dez maiores bancos do mundo
teriam US$ 6,4 trilhões dos mais de US$ 30 trilhões aplicados nos paraísos
fiscais (offshore). Somente 92 mil pessoas (0,001% da população
mundial) possuem US$ 10 trilhões nessas localidades. Nos EUA só 400 indivíduos
teriam riqueza igual à de 50% da população do país.
03. Aí estão ilustrações do que tenho
exposto: os concentradores aumentam seu poder durante a depressão econômica e
não têm interesse em que ela acabe.
04. Durante as fases de crescimento
real da economia, após certo tempo, a finança começa a crescer mais que a
produção de bens e serviços, inclusive porque os lucros crescem mais rápido que
os salários.
05. Além disso, no setor produtivo as
fusões e aquisições de empresas levam a aumento da concentração. Após um tempo,
os salários, exceto o de muito poucas categorias, começam a decrescer em termos
reais, perdendo para a inflação dos preços.
06. Paralelamente, como é natural, a
demanda por bens e serviços só aumenta através do crédito, formando-se as
bolhas, como foi o caso da imobiliária nos EUA, apontada como desencadeadora do
colapso financeiro iniciado em 2007/2008.
07. Entretanto, essa não é a única nem
a principal bolha. As principais decorrem de manipulações nos mercados
financeiros, como foi a das ações de empresas de informática (1997/2001) e a
imensa que a ela se seguiu, a dos derivativos.
08. Nesta foram gerados mais de
600 trilhões de dólares, nos computadores do sistema financeiro: títulos
montados em cima de outros títulos e de coisas irreais, como: apostas em
inadimplência de títulos (credit default swaps) e em índices de taxas de juro,
de taxas de câmbio; operações de hedge, ou seja, jogando, ao mesmo tempo, na
alta e na baixa dos mesmos títulos. Até emprestando a um país e apostando na
elevação dos juros dessa dívida, como fez o Goldman Sachs com a Grécia,
entre outros.
09. Assim, a par da concentração e
maior oligopolização dos setores produtivos, a financeirização da economia foi
assumindo dimensões gigantescas. Ela se pode definir como a formação de ativos
financeiros em proporção exponencialmente maior que a dos ativos reais e
produtivos.
10. Após anos nessa escalada, é
natural que os preços desses ativos também aumentem exponencialmente e que, em
determinado ponto, se verifique sua irrealidade, o que dá início ao estouro das
bolhas.
11. Esse ponto foi atingido em
2007/2008, e a partir daí os preços dos ativos começam a cair. Os devedores
viram-se presos numa armadilha, pois continuaram tendo que pagar as dívidas, e
muitos deles não mais o puderam fazer, tendo suas casas sido tomadas pelos
bancos.
12. Hoje nos EUA as dívidas dos
estudantes ultrapassaram US$ 1 trilhão, e os saldos devedores dos cartões
de crédito chegam a U$ 800 bilhões.
13. Em 2007/2008, as empresas de
muitos manipuladores financeiros entraram em dificuldades, embora não os seus
donos e executivos, que haviam transferido, para si mesmos em outras
destinações. a maior parte dos lucros com a especulação, movida através de alta
alavancagem (uso de margem mínima de capital próprio nas operações financeiras).
14. Os grandes bancos ficaram
praticamente falidos quando a bolha levou a perceber que o valor real dos
derivativos não correspondia senão a pequena fração, próxima a zero, do valor
nominal desses títulos.
15. Então, por que não foram liquidados,
o que teria permitido aos Tesouros nacionais dos EUA, e de vários países
europeus, por exemplo, sanear as finanças e a economia?
16. Porque os Tesouros e os bancos
centrais os salvaram, com dezenas de trilhões de dólares e de euros dos
contribuintes e principalmente com emissões de dinheiro (especialmente nos
EUA) e de títulos públicos, inclusive adquirindo pelo valor nominal os
títulos podres dos bancos e empresas financeiras.
17. Os pseudo-governos desses países
têm o desplante de dizer que são democráticos. Os grandes bancos os controlam,
como controlam "mercados financeiros".
18. Tal é a manipulação nesses
mercados, que, apesar das dezenas de trilhões de dólares criados do nada , o
preço do ouro permanece no patamar em que terminou o ano de 2011 (US$ 1.650 por
onça), depois de haver atingido naquele ano o pico de quase US$ 2.000.
19. O jornalista
financeiro Evans-Pritchard publicou artigo no The Telegraph, de Londres
(13.01.2013), em que diz estar o mundo caminhando para um padrão-ouro de fato,
no qual o metal teria peso comparável ao do dólar e do euro. Não cogita da
moeda chinesa e de outras com potencial de solidez.
20. Ele se baseia no relatório
“GFMS Gold Survey for 2012”, segundo o qual os bancos centrais compraram mais
ouro em 2012 do que em qualquer tempo, por quase meio século, aumentando suas
reservas em 536 toneladas.
21. Como ele recorda, os bancos
centrais de países da órbita anglo-americana (Reino Unido, Espanha, Holanda,
Suíça e outros) firmaram, há anos, o acordo de Wahington,
comprometendo-se a regularmente fazer vendas de ouro, sustentando
as moedas inflacionadas (dólares principalmente).
22. Nessas operações – especialmente o
Banco da Inglaterra - tiveram enorme prejuízo, pois o preço do ouro aumentou de
US$ 300 em 2003 para o atual nível, superior a US$ 1.600.
23. Outro sinal foi a decisão do
parlamento da Alemanha de trazer ao país seus estoques de ouro guardados
nos EUA e na França, havendo dúvidas sobre se os EUA ainda têm o que
oficialmente consta.
24. Há enorme potencial para as
compras principalmente pela China, que teria o projeto de elevar suas
reservas de ouro para 2% de suas reservas totais.
25. Isso ainda é muito pouco já
que o dólar e o euro não têm condições de justificar o otimismo, do ponto de
vista do cartel dos bancos, de que essas duas moedas permaneçam como as
principais divisas mundiais.
26. A dívida pública e o déficit
federal dos EUA, depois de ultrapassarem o PIB desse país, com montantes acima
de US$ 16 trilhões, continuarão sendo financiados com emissões de moeda e de
títulos públicos, os quais estão perdendo adquirentes, salvo o Federal
Reserve.
27. A China detém algo próximo a 1,2
trilhões desses títulos, mas, há um ano, esse montante era maior, e ele
só representa um terço das reservas totais, enquanto o Japão chegou a quase
aquele valor, que, no caso dele, representa mais de 90% de suas reservas.
A meta da Rússia é aumentar a reserva de ouro para 10% das totais,
hoje da ordem de US$ 560 bilhões.
28. Próximo artigo: a situação do
Estado no Brasil e na Argentina.
* - Adriano Benayon é doutor em
economia e autor do livro Globalização versus Desenvolvimento.
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