De: Adriano
Benayon [mailto:abenayon.df@gmail.com]
Enviada em: domingo, 9 de junho de 2013 10:30
Para: 'Lia Maria Ribeiro de Moura'
Assunto: Bautista Vidal
Enviada em: domingo, 9 de junho de 2013 10:30
Para: 'Lia Maria Ribeiro de Moura'
Assunto: Bautista Vidal
Bautista Vidal, incansável defensor dos
interesses nacionais
Adriano Benayon * – 05.06.2013
O
criador do Programa do Álcool, José
Walther Bautista Vidal, faleceu no sábado 01 de junho. O pesar foi
grande para as centenas de milhares de brasileiros e brasileiras que o
conheceram, participaram de suas palestras, leram seus livros e tiveram
conhecimento de suas realizações à frente da Secretaria de Tecnologia
Industrial (STI) do Ministério da Indústria e do Comércio, de 1974 a 1978, e
das que levou adiante e inspirou depois disso.
Mas,
desde logo, veio à mente dos seus amigos a memória da vitalidade e do
entusiasmo produtivo que caracterizou a existência de Bautista Vidal. De
fato, uma das qualidades que o distinguiu, é a de lutador.
Certamente
o que seu espírito está esperando de nós é darmos prosseguimento à luta que foi
sua principal razão de viver: esclarecer nossos compatriotas para que se
libertem do jugo da tirania financeira, que abrange não só o cartel
anglo-americano do petróleo e associados, mas também o que ele denominou a
tirania videofinanceira, a que assegura a escravização por meio da
desinformação e da destruição dos valores civilizatórios.
Os
que estivemos juntos com Bautista Vidal - em palestras, reuniões e
encontros em numerosas cidades brasileiras - sabemos que ele semeou
informações científicas e técnicas e, mais que isso, despertou a chama do
sentimento nacional e a compreensão de que a grandiosidade do País é
incompatível com a situação a que nosso povo está sendo submetido: a de ser
pretensamente governado, há decênios, por medíocres e covardes, meros
executantes do que determina a oligarquia capitalista estrangeira.
Que
não se iluda quem pensar que estas palavras contêm viés ideológico. Com efeito,
entre os que absorveram lições de Bautista Vidal está gente da extrema
esquerda à extrema direita.
O que
tem em comum toda essa gente? Simplesmente o sentimento de nacionalidade
e a percepção de que o Brasil está sendo saqueado, que não merece
sê-lo e que há que abandonar a passividade: mudar esse estado de
coisas. Só não compreendem a demonstração de coisas concretas e objetivas
aqueles cujas sinapses interneuronais estão bloqueadas por
preconceitos.
As
veementes condenações de Bautista Vidal dirigiam-se aos que se
submetem às falsas verdades convencionais, veiculadas notadamente por
organismos internacionais, como o Banco Mundial, a OMC e a própria CEPAL, cujas
políticas Vidal desnudou em seu último livro, “A Economia dos Trópicos”.
Bautista
Vida escreveu 12 livros, entre os quais: De Estado Servil à Nação
Soberana; Civilização Solidária dos Trópicos; Soberania e
Dignidade; Raízes da Sobrevivência; O Esfacelamento da Nação; A
Reconquista do Brasil; Petrobrás – Um Clarão na História”, no qual ressalta a
importância das ações do presidente Getúlio Vargas.
Na
Secretaria de Tecnologia Industrial (STI), Bautista Vidal fundou o Programa do
Álcool, graças ao qual o Brasil foi o primeiro País a dominar plenamente a
tecnologia de fabricação eficiente de álcool combustível. Em determinada
altura dos anos 80, praticamente todos os carros produzidos no Brasil eram
movidos a etanol.
O
Programa do Álcool só não deu maiores frutos porque sofreu influências
deletérias, determinadas pelo endividamento do País, causado pelo modelo
dependente. Entre essas influências, a do Banco Mundial, que fez
privilegiar as grandes usinas e as plantations de cana-de-açúcar. Isso difere
muito do que foi idealizado pelos técnicos sob a direção de Vidal: produção
descentralizada, evitando os gastos do transporte, geralmente em caminhões a
diesel de petróleo, por centenas de quilômetros, da cana até as
destilarias e o caminho inverso na distribuição do combustível.
Ademais,
nessa indústria, que era nacional – e que, por isso mesmo, realizou importantes
desenvolvimentos tecnológicos no País - o projeto da STI abrangia
também a bioquímica do etanol e a dos óleos vegetais, com enorme potencial para
criar novos produtos substituidores dos obtidos através da petroquímica.
Bautista
Vidal engajou mais de 1.500 técnicos e pesquisadores e estruturou numerosos
centros de pesquisa tecnológica, desmontados pelos governos entreguistas que se
seguiram. A STI legou, entretanto, o modelo e as soluções
adequadas, não só para a produção descentralizada de álcool -
combinada com a pecuária e a agricultura - mas ainda as bases para o
aproveitamento das magníficas plantas oleaginosas do País, como dendê, macaúba
e pinhão manso.
Tudo
isso é, até hoje, boicotado e inviabilizado pela ANP, Petrobrás, MME e
demais instituições oficiais, de há muito teleguiadas pelos interesses do
cartel mundial do petróleo.
Bautista
Vidal não obteve êxito em sua proposta de criar a Empresa Brasileira de
Agroenergia, ideia que defendeu em encontros com Lula e colaboradores do
governo deste. A Petrobrás Biocombustíveis, que resultou desses esforços, não
realiza coisa alguma do recomendado desde os anos 70 pela antiga STI.
Nos
anos 80 e grande parte dos anos 90, Bautista Vidal disseminou seus
conhecimentos e experiências como Professor na Universidade de Brasília, no
Departamento de Tecnologia e coordenador de importantes debates no Núcleo
de Estudos Estratégicos. Aí palestrou e convidou palestrantes dos mais
destacados de todas as áreas de grande interesse para o País.
Suas
intervenções - junto com as do grupo multidisciplinar que, durante
muitos anos, participou desses debates - produziram um acervo de
contribuições que teriam servido de base para o planejamento estratégico de
qualquer país dotado de governos interessados no desenvolvimento nacional.
Entre
os valiosos ensinamentos que Vidal transmitia, mencionarei só um, que costumo
reiterar em meus artigos, tal é a falta de entendimento, para a grande maioria
das pessoas, deste fundamental conceito: a empresa produtiva, concorrendo no
mercado, é o único lugar em que é possível desenvolver tecnologia.
Consequentemente:
1) um país cuja indústria estiver em mãos de empresas transnacionais
estrangeiras jamais desenvolverá tecnologia. 2) Se a quiser desenvolver, terá
que adotar reserva de mercado. 3) De pouquíssimo servem os institutos e
centros de pesquisa, se empresas nacionais (de capital nacional) não operarem
no mercado com condições de se manterem e desenvolverem.
É de
destacar, ainda, a ação exemplar do professor Bautista Vidal como militante na
defesa do patrimônio nacional saqueado com as privatizações determinadas
pelas potências hegemônicas e impostas pelos governos lacaios de Collor e
FHC. Com elas a União Federal gastou centenas de bilhões de reais (nada
recebendo em valor líquido) para entregar patrimônios públicos de valor
imensurável, avaliados, em visão de curto prazo, em dezenas de trilhões de
dólares.
Recordou-me
uma das admiradoras do Professor tê-lo visto, em pé, a bordo de um caminhão,
com outras figuras ilustres, como o General Antônio Carlos Andrada Serpa,
manifestando contra a criminosa doação (privatização) da Cia. Vale do Rio
Doce.
Lembra,
a propósito, o jornalista Beto Almeida, ter o Professor ingressado com
representação na Procuradoria da Justiça Militar contra o ex-presidente FHC,
acusando-o, fundamentadamente, de alienar o subsolo, território nacional,
o que constitui crime dos mais graves entre os cominados pelo Código Penal
Militar.
* - Adriano Benayon é doutor em economia e autor do livro
Globalização versus Desenvolvimento. Foi vice-presidente do Instituto
do Sol, presidido por Bautista Vidal. Após, durante cinco anos, suscitar
projetos de energia da biomassa em várias cidades do interior do País, o
Instituto foi desativado por falta de interesse do governos federal e de
governos estaduais em promover esse modo democrático, econômico e ecológico de
produzir energia.
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