De: Adriano
Benayon [mailto:abenayon.df@gmail.com]
Enviada em: terça-feira, 4 de junho de 2013 10:04
Para: 'Eder Fabricio Lerner'
Assunto: artigo: O modelo petucano
Enviada em: terça-feira, 4 de junho de 2013 10:04
Para: 'Eder Fabricio Lerner'
Assunto: artigo: O modelo petucano
À consideração dos prezados
correspondentes.
Cordialmente,
AB
O modelo petucano – 28.05.2013
Adriano Benayon *
Dívida
01. No geral, a
Constituição de 1988 não sustentou os interesses nacionais. A eleição dos
constituintes foi muito influenciada pela grande mídia e pelo dinheiro de:
concentradores, transnacionais, entidades e fundações estrangeiras.
Depois, o entreguismo foi radicalizado por Emendas patrocinadas por Collor, FHC
e governos petistas.
02. Não
bastasse isso, a “Carta Magna” foi adulterada com a inserção
fraudulenta de dispositivos jamais votados na Constituinte.
03. Entre as fraudes avulta este acréscimo no art. 166,
inciso II, § 3º: excluídas as [despesas] que
incidam sobre: a) dotações
para pessoal e seus encargos; b) serviço da dívida; c) transferências
tributárias constitucionais para Estados, Municípios e o DF”.
04. O
§ 3º do inciso II do art. 166 estabelece restrições à inclusão de despesas no
orçamento, e o termo “excluídas”, privilegia as que constam das três alíneas. A
“a” e a “c” entraram como bois de piranha, para não chamar a atenção sobre o
serviço da dívida.
05.
Devido a esse dispositivo ilegítimo e nulo, a União já gastou, desde 1988, mais de R$ 10
trilhões com a dívida, jamais auditada, pois nunca se realizou a auditoria determinada no Ato das
Disposições Transitórias da Constituição. Ou seja: só são cumpridas as
normas contrárias ou indiferentes aos interesses nacionais.
06. Resumindo: depois
de terem sido pagos mais de R$ 10 trilhões, a dívida pública -
que em 1988 somava R$ 300 bilhões (atualizados
monetariamente) - ascendeu a mais de R$ 3 trilhões em 2012, devido
principalmente à capitalização de juros a taxas absurdas.
07. A cifra
de 1988 abrange as dívidas do Tesouro, BACEN, Estados e
municípios: a pública interna e a externa, incluída nesta a do setor
privado estatizada por ordem dos bancos credores, FMI, Banco Mundial e demais
instrumentos da oligarquia financeira anglo-americana.
08. Se
computarmos – como é recomendável, dado que a subserviência continua - a
dívida externa bruta, de US$ 441,8 bilhões (R$ 880 bilhões), o total
alcança R$ 4 trilhões.
Petróleo e minérios
09. Nos
artigos mais recentes, apontei que o governo federal está acelerando a entrega
a transnacionais estrangeiras de blocos de petróleo avaliados em trilhões de
dólares, em troca de nada, além de levar a Petrobrás a adquirir
proporcionalmente menos campos que em leilões anteriores.
10. Embora tenha
sido a única estatal estratégica não privatizada pelo tsunami legislativo e
administrativo iniciado por Collor e completado por FHC, a Petrobrás teve
a maioria de suas ações preferenciais vendida em bolsas, inclusive a de
Nova York.
11. A estatal foi
prejudicada pela Lei 9.478 /1977, vários dispositivos da qual deveriam
ter sido declarados inconstitucionais, se o Judiciário não se mostrasse alheio
aos interesses nacionais, como ocorreu também nas privatizações.
12. A lei da
desestatização e demais do pacote das “reformas” ditadas por Washington
(1990), a liquidação de estatais, como o Loide e a Interbrás, a Lei
de Propriedade Industrial e a Lei Kandir são alguns dos indicadores de
que o modelo infra-colonial foi inaugurado em 1989 com a primeira
eleição direta à presidência, sob a “Constituição cidadã”, com direito a
fraudes eleitorais.
13. A vigência da
Lei Kandir constitui crime continuado, sem o qual a exportação de minérios
poderia prover receita fiscal equivalente a 32% do valor dessa
exportação. Sua revogação ajudaria em muito a economia, pois não só
o petróleo, mas outros minérios, como o de ferro, têm tido
participação crescente nas exportações, com quantidades assombrosas
extraídas de nosso subsolo.
14. Que dizer de
minerais estratégicos, como o quartzo e o nióbio, cujas reais quantidades exportadas
são escamoteadas, e que são insumos de produtos finais com valor de 50 a 200
vezes o da matéria-prima?
15. Os cidadãos
escorchados pelos impostos seriam aliviados, se as receitas do ICMS, Confins
etc. não estivessem sendo doadas a grupos concentradores, e se fossem poupadas
despesas como as do serviço da dívida.
Concessões
16. O governo de
Dilma Roussef embarca pesadamente nas “concessões”, forma velada de
privatização.
17. Configura-se, pois, um modelo infra-colonial petucano,
caracterizado por submissão aos interesses da oligarquia
estrangeira, maior que a do modelo dependente instalado a partir de
1954. Esse, subsidiou a entrada do capital estrangeiro e submeteu-se
às dependências tecnológica e financeira, embora tenha mantido
instituições públicas e estatais e criado novas, até a casa
ruir com a bancarrota da dívida externa nos anos 80.
18. Durante o
modelo dependente, as empresas privadas de capital nacional foram esmagadas ou
absorvidas pelas transnacionais, processo que se intensificou no após 1988,
restando pouquíssimos grupos concentradores, associados ao capital
estrangeiro, e cuja data de validade como nacionais não se afigura muito
distante.
19. A MP, há pouco aprovada, põe fim aos
portos públicos, a ser controlados por armadores estrangeiros, e possibilita a
prestação de serviço público por empresas privadas sem licitação, em contratos
eternos. Ademais, os problemas logísticos estão mais nas ferrovias do que nos
portos. O governo programa “investimentos” de R$ 54 bilhões.
20. As concessões abrangem também os
aeroportos, 23 mil km. de rodovias, mais de 10 mil km. de ferrovias, e
projetos em várias áreas, inclusive a pletora de bilionários estádios de
futebol, superfaturados.
21. Centenas de bilhões de reais serão
bancados pelo Tesouro, cujo serviço de dívida já absorve quase metade das
despesas da União, conforme dados da Câmara Federal, assinalados por Maria
Lucia Fattorelli, da Auditoria Cidadã da Dívida: R$ 753 bilhões em 2012.
22. No ano passado, os aportes do Tesouro
aos bancos oficiais fizeram aumentar o estoque da dívida em R$ 66 bilhões.
O BNDES deverá financiar 80% dos investimentos das concessões,
propiciadores do enriquecimento, sem riscos, de concessionários e empreiteiras.
23. O engenheiro Luiz Cordioli lembra que
o BNDES oferece dez anos de carência e juros de 4% aa, e o Tesouro paga 12% aa.
em seus títulos, possibilitando aos aquinhoados - além dos ganhos com a
exploração da concessão - rendimentos de 8% aa., se aplicarem em
papeis públicos a quantia emprestada pelo BNDES.
24. Se empreendimento não for rentável, o
concessionário não pagará a dívida, e o prejuízo fica para o Tesouro, que
terá de arranjar os recursos para os juros e para a liquidação dos títulos da
dívida pública, emitindo moeda e títulos ou, ainda, elevando impostos e
contribuições.
25. O
governo planeja propiciar empréstimos sindicalizados de bancos privados, que
subsidiará (a bolsa-banqueiro, da qual os bancos estatais estão fora),
inclusive liberando mais depósitos compulsórios.
26.
Capitalizará a Agência Brasileira Gestora de Fundos Garantidores e Garantias
(ABGF), para a qual convergirão recursos dos fundos setoriais, e
usará o Fundo Garantidor do Comércio Exterior (R$ 14 bilhões).
27.
Alternativamente, dará garantias através de bancos públicos e emitirá
debêntures de infraestrutura. Espera recursos próprios dos concessionários, de
20% do valor dos projetos.
28. O
governo parece, ademais, disposto, a obsequiar os concessionários com
benefícios adicionais. Nas ferrovias:
1) serão desoneradas dos custos de manutenção, segurança e outros, nos trechos
que abandonaram e nos onde mantêm tráfego reduzido; 2) serão transferidos
para a União passivos patrimoniais, ambientais, cíveis, tributários e
trabalhistas, ao custo de muitas dezenas de bilhões de reais; 3) as concessionárias concentrarão as locomotivas
e vagões arrendados nos trajetos de maior lucratividade.
29.
As maiores são: América Latina Logística (ALL), MRS Logística, Vale, Ferrovia
Centro-Atlântica (FCA, controlada pela Vale) e Transnordestina, da CSN. Das
mais lucrativas, como a MRS, o governo pretende comprar a capacidade de
transporte da malha, realizar melhorias e revendê-la. Alega que fará acelerar
investimentos e suscitar concorrência.
30.
Entretanto, não faz sentido indenizar, por bilhões de reais, detentores de
concessões a expirar em menos de 15 anos. Indaga-se: por que os concessionários
não fizeram as melhorias? Quanto arrecadaram sem as ter realizado?
31.
As concessionárias vão livrar-se da obrigação de investir e terão direito ao
uso parcial das linhas vendidas aos novos licitantes, a quem caberá substituir
os trilhos e dormentes deteriorados.
32.
Quanto aos aeroportos, as concessões de Guarulhos, Viracopos e Brasília foram
entregues em leilões ganhos por empresas estrangeiras de menor
experiência.
33. Assim, para Galeão e Confins, o
secretário do Tesouro manifestara-se em favor da participação majoritária da
INFRAERO, mas isso não prosperou, por desagradar investidores europeus. Isso
sintetiza a subordinação de Dilma ao capital estrangeiro e sinaliza o
rumo das concessões, que abrangem, além dos grandes aeroportos, a aviação
regional, com 270 aeroportos e R$ 7,3 bilhões previstos.
|
34.
Nota o engenheiro Roldão Simas: “O Galeão é um aeroporto moderno e ocioso, e
não requer ampliações: está esvaziado, pois muitos voos internacionais foram
transferidos para São Paulo, e muitos domésticos para o Santos Dumont.”
Conclusão
Diante de tudo isso, não há como refugiar-se no terreno
técnico, ignorando que o impasse está no sistema político. Nada há
a esperar de novas eleições presidenciais, nem vale perder tempo discutindo
candidatos. O povo terá de exigir outros caminhos.
* - Adriano Benayon é doutor em economia e
autor do livro Globalização versus Desenvolvimento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário