De: Adriano
Benayon
Enviada em: sexta-feira, 26 de julho de 2013 08:59
Para:
Assunto: artigo: Soberania e sobrevivência
Enviada em: sexta-feira, 26 de julho de 2013 08:59
Para:
Assunto: artigo: Soberania e sobrevivência
Soberania e sobrevivência
Adriano Benayon * – 22.07.2013
Muitos, se não a maioria, dos que não se importam com a
entrega das riquezas do País à oligarquia financeira transnacional e a seus
bancos e empresas, precisam mudar de atitude. Não é uma questão de
patriotada, mas de entender que sem soberania um povo fica privado de dignidade
e de prosperidade e até da chance de sobreviver.
2. Se o Brasil continuar à mercê de corporações
transnacionais, bancos e potências imperiais, aumentará o fosso entre a
minoria, cada vez menor, dos servidores desse sistema de poder e a maioria,
esmagadora e crescente, dos brasileiros que vivem em condições de vida
insuportáveis. Na verdade, escravos com seu destino nas mãos do império.
3. O fosso começou a ser alargado desde 1954,
logo após o golpe militar-udenista que entregou, de bandeja, o mercado do
País às transnacionais, através de privilégios incríveis, mantidos e aumentados
nos cinco anos de JK. Esse processo foi-se agravando e, hoje, longe de
ser revertido, prossegue intensificando-se.
4. As potências anglo-americanas não apenas
intervieram nos golpes de 1954 e 1964, mas também determinaram o curso
político do País desde o começo dos anos 80.
5. Neste mês a grande mídia não teve como esconder as
revelações de Snowden, ex-contratado terceirizado dos serviços secretos dos
Estados Unidos, sobre a abrangência da espionagem eletrônica, telefônica etc.
que estes fazem, há muitos anos, dentro do Brasil. Entretanto, quase não
se divulgam as ações dos serviços de outras potências, como o Reino Unido.
6. Esse controle sobre as telecomunicações nem
necessitava das tecnologias de captação de informações que os EUA hoje aplicam
em quase todo o mundo. De fato, o grau de traição ao País foi de tal
ordem, que o Brasil ficou, em 1998, sem satélite próprio de telecomunicações,
com a privatização da EMBRATEL, controlada pela MCI dos EUA.
7. Datam de longe as intervenções do governo dos EUA
praticadas para abortar iniciativas capazes de contribuir para o
desenvolvimento tecnológico do Brasil. Nos anos 70 e 80, os EUA vetaram a
importação de componentes estratégicos pela EMBRAER e causaram o fechamento da
empresa ENGESA, que fabricava blindados, ao intervir junto à Arábia Saudita
para cancelar um grande contrato.
8. Em consequência do modelo instituído no Brasil
a partir de 1954 - a que se atribuíram os falsos milagres de crescimento
do PIB, pouco depois traduzidos em dívidas e estagnação - o poder das
transnacionais sobre o mercado foi suficiente para asfixiar
as empresas privadas nacionais, matando, no ovo, as possibilidades de estas
desenvolverem tecnologia.
9. Entre as intervenções diretas das potências
imperiais (EUA à frente), avulta ter feito explodir o míssil da missão espacial
brasileira, na base de Alcântara, matando no ato seus mais de 20 membros, no
momento do lançamento. Além disso, os EUA pressionaram a Ucrânia
para não transferir tecnologia ao Brasil, como prevê o acordo de cooperação
espacial com esse país.
10. Os EUA arranjaram com o governo de FHC um acordo
para a cessão da base de Alcântara para lançamentos, altamente lesivo
para nós, pois permite a construção de instalações e a entrada no País de
equipamentos e efetivos das Forças Armadas da mais agressiva potência militar
do mundo.
11. Com a saída do mega-entreguista em dezembro de
2002, esse acordo esteve, até há pouco, parado no Congresso, tendo sido agora
colocado na pauta de votações do plenário da Câmara dos Deputados, o que
confirma estar a atual presidente cedendo às pressões imperiais em questões
vitais para a soberania do Brasil.
12. Outros atos de submissão ocorrem com o
petróleo. Pelo menos três destes terão, se não forem revertidos,
consequencias fatídicas para o País.
13. Primeiro, os leilões, em maio de 2013, de
campos de petróleo na plataforma continental, com reservas de 19 bilhões de
barris, na cotação atual, US$ 2 trilhões. Segundo: o anúncio de leilão
para o campo Libra, na área do Pré-Sal, com reservas de 12 bilhões de barris.
As duas medidas envolvem mais de 30 bilhões de barris.
14. Mormente nas condições infracoloniais do sistema
tributário brasileiro, leiloar petróleo para empresas estrangeiras significa
dar-lhes todo ele. Fora do Pré-Sal, o Brasil só recebe 10% de royalties sobre
aquilo a transnacional declarar (o que ninguém confere). Não há impostos nem
contribuições sobre a exportação.
15. Os agentes pagos e os enganados dirão que o Brasil
obterá grande quantidade de divisas (moeda estrangeira). Nós respondemos:
quem recebe as divisas são os exportadores, as petroleiras estrangeiras.
16. Estas venderão as divisas ao Banco Central, o qual,
para pagá-las, emitirá moeda nacional (reais) em quantidade
assombrosa: quando estiverem exportando 3 milhões de barris/dia = 1.080 bilhões
barris/ano, serão cerca de US$ 356 bilhões, o equivalente a 150%
do total das atuais exportações do Brasil. Ao câmbio de R$ 2,2 por dólar,
estamos falando de R$ 783 bilhões = 3,5 vezes o atual saldo médio
da base monetária.
17. Então? Ou o Banco Central emitiria moeda, e as
petroleiras estrangeiras ficariam com caixa para comprar todas as empresas,
bancos e propriedades que quisessem no Brasil, ou emitiria títulos da dívida
pública, dentro da tradicional política de enxugar a base monetária.
18. Neste caso, aumentaria, de golpe, em 50% o
estoque dos títulos da dívida pública fora do Banco Central, e cresceria
em 25% o absurdo serviço da dívida, que já consome quase metade das despesas da
União. Com a dinâmica da composição dos juros, a explosão não demoraria.
19. Terceiro desastre com o petróleo: a deterioração
das finanças da Petrobrás, decorrente das políticas antinacionais prevalecentes
na ANP e na própria estatal, desde 1997, quando da instituição da Lei 9.478.
20. Nada melhor que ter uma empresa nacional
responsável pelo abastecimento do País, a qual logrou êxitos notáveis na
pesquisa e exploração (descobrindo enormes reservas), em contraste com os
países que se entregam ao cartel anglo-americano.
21. Ora, a política brasileira dominada por
interessados na inviabilização do desenvolvimento nacional, vem minando a (ex?)
estatal, fazendo reduzir sua capacidade de investimento e, ao mesmo tempo, abrindo,
sem a menor necessidade, ao cartel mundial as reservas por ela descobertas.
22. Com essa fieira de inesgotáveis danos ao País: 1)
ele entrega a principal fonte de energia, tendente à escassez, do mercado
mundial; 2) cria terrível inflação e torna ainda mais letal a dívida pública;
3) recebe dólares, com os quais nada pode fazer no exterior (os juros lá são
desprezíveis, e as potências estrangeiras não vendem ativos produtivos
estratégicos); 4) com a abundância de divisas para importar, agrava a desnacionalização
e a desindustrialização, suas principais desgraças estruturais.
23. Mais uma capitulação, que leva o Brasil à ruína: a
volta das elevações da taxa básica dos juros, SELIC. Neste ano, ela subiu de
7,25% para 8,5%, com o que caem as possibilidades de reduzir os gastos federais
de R$ 753 bilhões, de 2012, com juros e amortizações das dívidas interna
e externa = 43% das despesas totais da União.
24. Não há que crer nos artifícios contábeis das
“autoridades monetárias”. Elas apresentam as despesas da dívida expurgadas de
correção monetária, o que não é correto: quando você paga R$ 30 reis para
almoçar, você está pagando R$ 30,00 mesmo; não há razão para deduzir a variação
do IGP-M no ano.
25. Outra coisa: não computam o que é pago por meio de
títulos públicos, como se não tivesse sido pago: se um aplicador resgata
títulos comprados há um ano, a juros de 15% aa., no valor de R$ 100 mi, e
o Tesouro lhe paga, com novos títulos, R$ 115 mi, há que incluir esta
quantia na despesa, pois o título do Tesouro vale dinheiro e, além disso, rende
juros.
26. Ademais, as autoridades não incluem no total os
títulos do Tesouro em poder do Banco Central, cuja maior parte circula
entre o BACEN e os bancos, nas operações de mercado aberto.
27. Os brasileiros são espoliados também pelos
juros bancários, a taxas muito maiores que as abusivas pagas pelo Tesouro nos
títulos públicos. O crédito de pessoas físicas e jurídicas chegou a R$
2,4 trilhões = 54% do PIB. Se calcularmos taxa média de 30% aa., a conta dos
juros, fora a da dívida pública, é quase outro tanto: R$ 720 bilhões.
28. Mais importante, além de estar na origem de todos
os males da economia e das finanças, é o que vai para o exterior de lucros
escondidos das transnacionais, através de diversas contas do balanço de
pagamentos. Eles vêm dos altíssimos preços que elas praticam aqui dentro: é o
mesmo que um imposto, só que pago pelos brasileiros às empresas
transnacionais, em vez de ser pago ao governo, equivalente a outra carga
tributária de 35% do PIB.
29. Do financiamento dos déficits externos resultantes
das transferências em várias contas do balanço de transações com o exterior,
resultou a dívida externa, e desta saiu a dívida interna, quando faltaram
divisas para servir aquela. Em função disso, os engenheiros brasileiros
não têm empregos, e não se desenvolve tecnologia no País. Ademais, as pessoas
ficam até sem saber para que servem as matérias primas e o preço que deveriam
ter.
30. Como reagem os governos que têm fingido governar o
País? Dão dinheiro e crédito barato às transnacionais e a aquinhoados em
novas concessões públicas, como ocorre com o transporte, portos e aeroportos,
estradas com pedágios abusivos etc. E cortam impostos das transnacionais
e outros concentradores.
31. Não reduzem, porém, os tributos que recaem
sobre os cidadãos. Ao contrário, estes são onerados adicionalmente pelos
sobrepreços dos oligopólios, como aponto no parágrafo 28 acima, e se
exemplifica com os bens industriais, de qualidade sofrível, e,
amiúde, custando o dobro de seus congêneres no exterior.
*
- Adriano Benayon é doutor em economia e autor do livro Globalização versus
Desenvolvimento.
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