Na década de setenta do século passado o Governo e as
empresas estatais desenvolveram um imenso programa de formação de profissionais
na área da Engenharia. Em todos os setores o Brasil revelou expoentes e assim
enfrentou desafios monumentais como, por exemplo, a construção de Itaipu, ponte
Rio Niterói etc.
Infelizmente já naquela época a “esperteza” aflorou e erros
de avaliação das crises do petróleo desmontaram um processo que dava indicações
de desenvolvimento saudável.
A quebra do Brasil na década oitenta, década em que o Brasil
começou beirando o precipício num esforço insano de manter desperdícios de
combustíveis e o rodoviarismo, adoção de políticas ingênuas de proteção da
indústria nacional, projetos direcionados pela equipe econômica de modo a
fechar balanços publicáveis etc. trouxeram a hiperinflação, a quebradeira e o
desmonte da Engenharia no Brasil.
A recuperação econômica significou o ajoelhamento do Brasil
perante os credores e a adoção de lógicas mais “avançadas” de mercado.
Chegamos ao século 21 imersos na lógica da redução radical
de custos e contratações e projetos e serviços criados e desenvolvidos por
pessoas despreparadas. Pior ainda, após décadas de sufoco o povo brasileiro
passou a desprezar a boa técnica, o resultado é visível em nossas ruas e
grandes acidentes que estão virando rotina.
O preço da exploração irresponsável dos profissionais e
empresas menores, sempre no nível da subcontratação, produziu muitos acidentes
gravíssimos. O fundamental é inventar comissões de avaliação e em poucos dias
criar diagnósticos ao gosto e conveniência de quem julga.
Vivemos no país que rivaliza com a Roma dos césares
degradados. Pão e circo, tudo temperado pelo carnaval, praia, feriados e muitas
orações... Aliás, é bom rezar com fervor, precisamos de milagres.
A classe média recente, deslumbrada com a possibilidade de
gastar em luxos e viagens inúteis, não percebe e nem quer conhecer detalhes do
ambiente em que vive.
O assustador é o tamanho de prédios, estádios, barragens,
pontes, gasodutos, túneis, automatismos, etc.
Qual é a confiabilidade do que se faz em tempos de
subcontratação e lógicas primárias de gerenciamento técnico?
Qualquer corda rebenta se for puxada demais.
A fragilidade de nossas equipes técnicas é um espanto. Poderiam
ser melhores, os profissionais mais competentes aceitariam salários ridículos?
Devemos, contudo, procurar entender o padrão de cursos,
laboratórios, estágios, trabalhos e avaliação a que foram submetidos os
estudantes que agora mostram diplomas pretendendo ser aceitos como doutores, “especialistas”.
Muitos são operadores de softwares que não conhecem, equações que não
estudaram, leis da Física que desprezaram; o fundamental era resolver os
problemas em prova e passar de ano. As boas escolas mergulharam em novas teses
ao gosto de ONGs estrangeiras. O tempo que deveria ser dedicado ao essencial foi
desperdiçado em fantasias de professores.
Na Engenharia, ao contrário de outras profissões que se
tornaram mais atraentes exatamente por mostrarem e defenderem seus valores,
vimos entidades de classe e conselhos profissionais patinando em ideologias e
esperando revoluções redentoras, isso para falar dos mais politizados.
Senso prático?
Parece que o exercício real das profissões técnicas é um
mito.
Empreiteiras se desmontam ou sobrevivem gastando fortunas,
sabe-se lá com o quê. O quê sobra para aplicar em boas máquinas, na excelência
de serviços e produtos?
Todo tipo de profissional manda e desmanda nas empresas
dedicadas a serviços essenciais e outras extremamente importantes ao nosso dia
a dia. Os critérios técnicos deram lugar a pessoas especialistas em bebidas
estrangeiras, etiquetas sociais, línguas estrangeiras e no vocabulário das
multinacionais do dinheiro.
Em tempo, a corrupção, não é uma arte valorizada pelos
acionistas?
Quem pagará a pior conta desse período desastroso?
Cascaes
27.11.2013
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