quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Acidentes não acontecem por acaso


Na década de setenta do século passado o Governo e as empresas estatais desenvolveram um imenso programa de formação de profissionais na área da Engenharia. Em todos os setores o Brasil revelou expoentes e assim enfrentou desafios monumentais como, por exemplo, a construção de Itaipu, ponte Rio Niterói etc.
Infelizmente já naquela época a “esperteza” aflorou e erros de avaliação das crises do petróleo desmontaram um processo que dava indicações de desenvolvimento saudável.
A quebra do Brasil na década oitenta, década em que o Brasil começou beirando o precipício num esforço insano de manter desperdícios de combustíveis e o rodoviarismo, adoção de políticas ingênuas de proteção da indústria nacional, projetos direcionados pela equipe econômica de modo a fechar balanços publicáveis etc. trouxeram a hiperinflação, a quebradeira e o desmonte da Engenharia no Brasil.
A recuperação econômica significou o ajoelhamento do Brasil perante os credores e a adoção de lógicas mais “avançadas” de mercado.
Chegamos ao século 21 imersos na lógica da redução radical de custos e contratações e projetos e serviços criados e desenvolvidos por pessoas despreparadas. Pior ainda, após décadas de sufoco o povo brasileiro passou a desprezar a boa técnica, o resultado é visível em nossas ruas e grandes acidentes que estão virando rotina.
O preço da exploração irresponsável dos profissionais e empresas menores, sempre no nível da subcontratação, produziu muitos acidentes gravíssimos. O fundamental é inventar comissões de avaliação e em poucos dias criar diagnósticos ao gosto e conveniência de quem julga.
Vivemos no país que rivaliza com a Roma dos césares degradados. Pão e circo, tudo temperado pelo carnaval, praia, feriados e muitas orações... Aliás, é bom rezar com fervor, precisamos de milagres.
A classe média recente, deslumbrada com a possibilidade de gastar em luxos e viagens inúteis, não percebe e nem quer conhecer detalhes do ambiente em que vive.
O assustador é o tamanho de prédios, estádios, barragens, pontes, gasodutos, túneis, automatismos,  etc.
Qual é a confiabilidade do que se faz em tempos de subcontratação e lógicas primárias de gerenciamento técnico?
Qualquer corda rebenta se for puxada demais.
A fragilidade de nossas equipes técnicas é um espanto. Poderiam ser melhores, os profissionais mais competentes aceitariam salários ridículos?
Devemos, contudo, procurar entender o padrão de cursos, laboratórios, estágios, trabalhos e avaliação a que foram submetidos os estudantes que agora mostram diplomas pretendendo ser aceitos como doutores, “especialistas”. Muitos são operadores de softwares que não conhecem, equações que não estudaram, leis da Física que desprezaram; o fundamental era resolver os problemas em prova e passar de ano. As boas escolas mergulharam em novas teses ao gosto de ONGs estrangeiras. O tempo que deveria ser dedicado ao essencial foi desperdiçado em fantasias de professores.
Na Engenharia, ao contrário de outras profissões que se tornaram mais atraentes exatamente por mostrarem e defenderem seus valores, vimos entidades de classe e conselhos profissionais patinando em ideologias e esperando revoluções redentoras, isso para falar dos mais politizados.
Senso prático?
Parece que o exercício real das profissões técnicas é um mito.
Empreiteiras se desmontam ou sobrevivem gastando fortunas, sabe-se lá com o quê. O quê sobra para aplicar em boas máquinas, na excelência de serviços e produtos?
Todo tipo de profissional manda e desmanda nas empresas dedicadas a serviços essenciais e outras extremamente importantes ao nosso dia a dia. Os critérios técnicos deram lugar a pessoas especialistas em bebidas estrangeiras, etiquetas sociais, línguas estrangeiras e no vocabulário das multinacionais do dinheiro.
Em tempo, a corrupção, não é uma arte valorizada pelos acionistas?
Quem pagará a pior conta desse período desastroso?

Cascaes
27.11.2013





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