quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Lembrando o tempo de desenvolvimento das concessionárias de energia elétrica brasileiras

As concessionárias de energia elétrica – um pouco da história da zorra total
A indústria eletro eletrônica, iniciada há um século, mostrou um desempenho extraordinário. À medida que se percebeu o caráter menos poluente, mais seguro e funcional da energia elétrica, ela ganhou lares, escolas, hospitais, indústrias e cidades. A inventividade humana criou e industrializou uma gama enorme de ferramentas e aparelhos elétricos.
A necessidade de construir mais e mais usinas, linhas de transmissão e subestações deu origem às grandes empresas de energia elétrica. E a organização impôs-se pela necessidade de interligar sistemas, padronizá-las e coordená-las. A falta de divisas exigia racionalização nos investimentos.
Infelizmente a cultura brasileira não era afinada com o trabalho industrial, geração de empresas, pesquisa e desenvolvimento de produtos e soluções. Nascemos dependentes, crescemos à força da enxada e dos pastos e continuamos punindo os empreendedores, talvez nem tanto os grandes e hábeis frequentadores das Cortes.
Quem nasceu e cresceu em cidades com vocação empreendedora viu e descobriu o resultado da hostilidade de outros lugares e seus habitantes querendo gastar suas fortunas nas cidades chiques e distantes do Brasil. Gente que mandava no Brasil e não respeitava seu povo.
As empresas de energia elétrica poderiam ter sido base para grandes indústrias. Logo controladas por grupos estrangeiros praticamente nada fizeram a favor de nossa independência, ao contrário, por artifícios fiscais e outros inibiram nosso desenvolvimento. Economistas de aluguel e políticos prestativos fizeram história defendendo multinacionais que, apesar de seus vícios de origem, foram extremamente importantes, muito mais por omissão de nossos líderes.
A vida brasileira [(Gomes, 1808) (Gomes, 1822 - Como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram D. Pedro a criar o Brasil - um país que tinha tudo para dar errado., 2010) (Gomes, 1889, 2013)] e o relacionamento com o Governo Imperial (Barão de Mauá) decidiram nosso quadro político e econômico atual formando uma base cultural indiferente ao empreendedorismo (Cascaes).
Assim no Brasil a organização institucional das empresas de energia elétrica acompanhou a expectativa de sua utilização e a cultura política dominante.
Vamos à história.
Iniciamos o século vinte dentro de um clima federalista e municipalista. Concessões, normas e custos eram problemas de cada comunidade. Empresas eram formadas e desfeitas rapidamente. Competindo com hábitos consolidados e a falta de estrutura comercial e industrial, o uso da energia elétrica mostrou-se mais intenso nas grandes capitais, onde o ambiente cosmopolita e o intercâmbio com grandes centros europeus e americanos davam condições de acesso às novidades tecnológicas.
O ano de 1897 foi praticamente o marco zero da introdução massiva da energia elétrica no nosso país. Nesse ano o capitão da marinha italiana e empresário Francesco Antonio Gualco (Canadian Council of Archives), residente no Canadá, e o comendador Antônio Augusto de Souza (SPTrans), receberam da Câmara Municipal de São Paulo a concessão do serviço de transporte urbano de passageiros e cargas em bondes elétricos. Logo conseguiram a ampliação da concessão original para a produção e distribuição de energia elétrica. Paralelamente negociaram a transferência de suas concessões, com a orientação do norte americano Frederick Stark Pearson, redundando na criação da “São Paulo Railway, Light and Power Co. Ltd.”, com sede em Toronto, em 7 de abril de 1899, por  James Gunn e William Mackenzie. Em 17 de julho de 1900 obtiveram autorização (Decreto 3349) de funcionamento no Brasil (vide 5).  Em 30 de maio de 1905 os canadenses criaram a “Rio de Janeiro Tramway, Light and Power Co. Ltd.”. Vale notar aqui a prioridade de uso da energia elétrica na época, ou seja, o transporte por bondes elétricos e a iluminação pública. Essa condição fazia das grandes cidades um mercado atraente a investidores nessa área. Muitos países tiraram proveito dessa situação para iniciar suas indústrias eletromecânicas. Aqui só acordamos para a necessidade de criar efetivamente um parque industrial nacional bem mais tarde, sob os efeitos dos embargos e bloqueios durante, principalmente, a Segunda Guerra Mundial.
1927 foi o ano de início das atividades no Brasil de outra multinacional peso-pesado, a “American and Foreign Power Co”. (AMFORP). Nesse ano a Amforp criou a Empresas Elétricas Brasileiras, futura CAEEB, atuando progressivamente no interior de São Paulo e em diversas capitais do Nordeste e no Sul do Brasil (MARCONDES FERRAZ, Octavio, Um Pioneiro da Engenharia Nacional). Com restrições mínimas ao capital estrangeiro, o Brasil era um grande e promissor espaço para os investimentos que nossos capitalistas não faziam.
A partir de 1930, contudo, o Brasil iniciou uma fase de centralização institucional que deu origem a uma legislação concentradora de poder na União. Nosso Código de Águas só foi promulgado em 1934, consolidando os poderes centrais. Gradativamente o governo federal, ditatorial e fascista, criou normas e leis restritivas e de caráter nacionalista. As empresas estrangeiras eram motivo de hostilidade das muitas lideranças afinadas com os socialistas e nacionalistas. Por outro lado os grandes grupos econômicos brasileiros pouco investiram nessa área. Se esse código e as leis consequentes tinham o objetivo de induzir a participação da iniciativa privada brasileira, falharam completamente. Principalmente as restrições sobre a remuneração, o controle das tarifas e suas limitações afugentaram muitos que talvez pretendessem atuar nessa área.
O final da Segunda Guerra Mundial e a Constituição Federal de 1946 promoveram uma pequena inversão nesse processo. Nessa fase consolidou-se o conceito de empresa sob controle nacional. A tese de associações com empresas estrangeiras (não tínhamos uma indústria forte em eletromecânica, capital e nem centros de P&D, sob comando local) ganhou força. Apesar das teorias e propostas quase nada foi feito na área de energia elétrica, mesmo nessa condição de abertura à iniciativa privada. Era o tempo dos geradores diesel e do cada um por si. O Governo Dutra mostrou-se incapaz de impor um projeto de um Brasil forte e autônomo[1].
Apesar do radicalismo entreguista e subserviente a polos distantes, a luta pela formação da Petrobrás e o nacionalismo aliado a visões socialistas gerou como subprodutos outras propostas de monopólio estatal. Ao final de seu segundo governo Getúlio Vargas esboçou um esquema de financiamento e organização do setor elétrico. Enviou ao Congresso Nacional quatro projetos de lei onde o primeiro propunha a criação do Imposto Único sobre a Energia Elétrica, o IUEE, e o Fundo Federal de eletrificação, cuja Lei 2.308 foi sancionada em 31 de agosto de 1954, poucos dias após o suicídio do presidente. Paralelamente foi proposto por Getúlio o Plano Nacional de Eletrificação e a criação da ELETROBRÁS.
A estatização do setor elétrico começou efetivamente com a criação da CHESF em outubro de 1945. Instalada em 15 de março de 1948 teve grande sucesso na construção da Usina de Paulo Afonso (a primeira unidade entrou em operação em 1955) além de formar profissionais importantes. Essa obra foi um marco da engenharia nacional graças à genialidade e operosidade de um grande brasileiro, Octavio Marcondes Ferraz [ (MARCONDES FERRAZ, Octavio, Um Pioneiro da Engenharia Nacional), (Memória da Eletricidade)]. Paralelamente criava-se a Comissão do Vale do São Francisco. Com recursos orçamentários e a preocupação de desenvolver um plano racional de desenvolvimento do vale do rio São Francisco, a Comissão apoiou a construção de Três Marias com a CEMIG (criada em 1952). O sucesso dessas iniciativas foi a base de outras empresas estatais e com elas o modelo que vimos até o desmonte das grandes estatais no Brasil.
Coube ao governo JK avanços importantes rumo à estatização. Ele encontrou o país ainda com enormes limitações ao seu desenvolvimento por falta de oferta de energia elétrica. Os grupos LIGHT e AMFORP não investiam o suficiente para garantir o atendimento a cargas previsíveis em futuro próximo. Principalmente essas duas empresas tinham áreas de concessão extremamente importantes. A demanda reprimida era grande. Com sua experiência no governo de Minas Gerais e o apoio de técnicos excepcionais partiu para a construção da Usina de Furnas, criando-se a Central Elétrica de Furnas. Assim surgia como empresa de caráter regional, e na criação de uma mentalidade integradora, em que as empresas de energia começavam a ter seus sistemas interligados dentro de uma perspectiva de otimização dos recursos energéticos.
Note-se que o ano de 1963, excepcionalmente seco na Região Sudeste, não precisou de racionamento graças à entrada em operação da Usina de Furnas. A colocação em serviço de suas unidades era vista com alívio pelos paulistanos e por mim, estudante em São Paulo fazendo cursinho para Engenharia.
Assim década de 50 viu o surgimento das primeiras grandes empresas públicas de energia elétrica, federais e estaduais, e o regime militar de 1964 aprimorou e consolidou um modelo bem estruturado, estatal e de grande subordinação ao governo central e aos estaduais. A lógica era bem clara, a União cuidando das grandes usinas e sistema de interligação (início do Sistema Interligado Nacional (O que é o SIN - Sistema Interligado Nacional)). Empresas federais para geração e transmissão de energia elétrica foram criadas e fortalecidas, enquanto os estados desenvolviam suas companhias estaduais para distribuição de energia e em alguns casos, com destaque a Minas Gerais, São Paulo e Paraná, também geração e transmissão de energia elétrica. Essa configuração teve um bom desempenho até o início de políticas tarifárias irrealistas e, consequentemente, períodos de inadimplência extremamente graves. O governo federal mais uma vez usou seu poder de estabelecer tarifas como instrumento de controle da inflação e obtenção de divisas, forçando o endividamento externo das concessionárias.
Mais uma vez o Brasil parava na demagogia e incompetência.
A subordinação do tema eletricidade mostra o que foi a saga da eletricidade no Brasil.
Em tempos republicanos a energia elétrica era assunto do Ministério da Agricultura até a criação do Ministério de Minas e Energia em 1960 (Governo JK) e instalado apenas no Governo Jânio Quadros. A ELETROBRÁS (agora sem acento agudo e em processo de desmonte (ELETROBRAS), (Ilumina - Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Elétrico)), Centrais Elétricas Brasileiras S.A., foi criada pela Lei 3.890 de 1961 e implantada no ano seguinte. Operando como holding do Setor Elétrico federal constituiu-se em peça importante na formação do sistema interligado brasileiro e construção de diversas grandes usinas, vindo a ser a maior acionista da CHESF, FURNAS, ELETRONORTE (Centrais Elétricas do Norte do Brasil S.A., constituída em 1973) e da ELETROSUL (Centrais Elétricas do Sul do Brasil S.A., instalada em 1968). A CHEVAP, Companhia Hidrelétrica do Vale do Paraíba foi criada pela União em 1960 para a construção da usina do Funil (216 MW). Absorvida pela ELETROBRÁS em 1965 teve seu acervo transferido para FURNAS e 1967. Essa empresa, CHEVAP, foi constituída tendo como acionistas minoritários os estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Guanabara.
No processo de estatização convém também lembrar a formação da COPEL, Companhia Paranaense de Energia Elétrica, em 1954, CESP, Centrais Elétricas de São Paulo S.A., em 1966, CEEE, Companhia Estadual de Energia Elétrica, criada em 1966 sobre a Comissão Estadual de Energia Elétrica, formada em 1943.
ITAIPU, gerada por acordo entre o Paraguai e Brasil (ELETROBRÁS) em 1973, foi o maior empreendimento na área de energia elétrica do governo brasileiro. Empresa binacional, com 12.600 MW de potência instalada, teve um grande sistema de transmissão de energia associado, de responsabilidade de FURNAS e ELETROSUL, consolidando a união dos sistemas interligados das regiões Sul  e Sudeste.
A criação de empresas estaduais de energia elétrica, a grande maioria absorvendo concessionárias menores, consolidou a presença estatal na área elétrica e viabilizou a eletrificação acelerada do Brasil mais eficaz.
Infelizmente muitas companhias estaduais se perderam em administrações incompetentes ou desonestas. Com grande capacidade de investimentos e de capitalização, transformaram-se em minas de grande valor nas politicagens e levantamento de recursos para fins inconfessáveis. As tarifas sendo definidas pela União, as contas de Itaipu impostas e um plano de expansão arbitrado em conjunto com a ELETROBRÁS diminuiu a responsabilidade dos governadores. Assim alguns puderam exercer suas más intenções atribuindo ao Governo Federal suas mazelas. A inadimplência generalizou-se desmoralizando suas empresas e o Setor Elétrico.
Assim foi o Setor de Energia Elétrica.
Cascaes
6.2.2014

(s.d.). Fonte: Ilumina - Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Elétrico: http://www.ilumina.org.br/zpublisher/secoes/home.asp
Cascaes, J. C. (s.d.). Caminhos seguros para o EMPREENDEDOR . Fonte: Caminhos seguros para o EMPREENDEDOR Comentar, discutir a situação do empreendedor de pequeno porte no Brasil. O empresário rural ou urbano enfrentam o caos criados por leis feitas para grandes empresas e repartições públicas que precisam evoluir a favor : http://micro-e-pequeno-empreendedor.blogspot.com/
Gomes, L. (s.d.). 1808. Fonte: Livros e Filmes Especiais, Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil: http://livros-e-filmes-especiais.blogspot.com.br/2013/02/1808.html
Gomes, L. (2010). 1822 - Como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram D. Pedro a criar o Brasil - um país que tinha tudo para dar errado. Rio de Janeiro: Nova Fronteira Participações S.A.
Gomes, L. (2013). 1889. Fonte: Livros e Filmes Especiais: http://livros-e-filmes-especiais.blogspot.com.br/2013/11/1889.html
livro sobre o Barão de Mauá e o Império. (s.d.). Fonte: IVOX: http://www.ivox.com.br/opiniao/?id=10157
MARCONDES FERRAZ, Octavio, Um Pioneiro da Engenharia Nacional. (s.d.). Memória da Eletricidade.
Memória da Eletricidade. (s.d.). Fonte: Centro da Memória da Eletricidade no Brasil: http://www.memoriadaeletricidade.com.br/default.asp?pagina=home&menu=321&menusecao=Default
O que é o SIN - Sistema Interligado Nacional. (s.d.). Fonte: ONS: http://www.ons.org.br/conheca_sistema/o_que_e_sin.aspx
SPTrans. (s.d.). Cronologia do Transporte Coletivo em São Paulo. Fonte: SPTrans: http://www.sptrans.com.br/museu/Cronologia_Transporte.pdf




[1] De caráter desenvolvimentista, Eurico Dutra reuniu sugestões de vários ministérios e deu prioridade a quatro áreas: Saúde, Alimentação, Transporte e Energia (cujas iniciais formam a sigla SALTE). Os recursos para a execução do Plano SALTE seriam provenientes da Receita Federal e de empréstimos externos. Entretanto, a resistência da coalizão conservadora e a ortodoxia da equipe econômica acabaram por inviabilizar o plano, que praticamente não saiu do papel. Wikipédia

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