De: Adriano Benayon [mailto:abenayon.df@gmail.com]
Enviada em: segunda-feira, 3 de março de 2014 21:07
Para: yara_gouvea@hotmail.com
Assunto: artigo: A oligarquia deseja a depressão
Enviada em: segunda-feira, 3 de março de 2014 21:07
Para: yara_gouvea@hotmail.com
Assunto: artigo: A oligarquia deseja a depressão
Com cumprimentos,
AB
A oligarquia deseja a
depressão
Adriano Benayon *
24.02.2014
É hora de abrir o
olho. Estamos no Brasil e no Mundo em situação especialmente perigosa, de que
há copiosas manifestações, cujas causas são sistematicamente ocultadas,
pois os que estão por trás delas, querem operar despercebidos.
2. As potências
hegemônicas, suas associadas e satélites seguem em depressão econômica, com
aspectos mais perversos que os da iniciada em 1930 e que só terminou, em
1943, nos EUA - com a mobilização de dezenas de milhões de combatentes na
Segunda Guerra Mundial, mais os vultosos investimentos para produzir armas. Na
Europa e na Ásia, a depressão foi substituída pela devastação.
3. A terrível Guerra
de 1939 a 1945 não foi desencadeada para acabar com a depressão, pois sempre os
móveis são obter mais poder, arruinar potências vistas como rivais e desviar o
foco dos reais problemas sociais e econômicos.
4. Agora, desde a
contra-revolução liberal dos anos 80, a financeirização e a concentração do
poder econômico e da renda deram grandes saltos, enquanto decai o patrimônio e
a renda real, no caso da grande maioria dos que trabalham e no da
crescente massa dos desempregados.
5. Essa iniquidade
jamais poderia ser tolerada sob sistemas democráticos. Assim, quase nada resta
do pouco de democracia, antes presente nos sistemas políticos representativos,
hoje mera embalagem, com rótulo falso, de um sistema tirânico, que
investe massivamente em contracultura, desinformação e alienação, há mais de
século.
6. Assim,
institucionalizou-se a mentira, e a verdade é reprimida através de
instrumentos totalitários, radicalizados desde os ataques 11.09.2001.
7. O terrorismo
de Estado dirige-se contra os cidadãos e é usado para marquetar, como
justas, agressões militares genocidas contra países alvos da geopolítica da
oligarquia angloamericana: Afeganistão, Iraque, Somália e Líbia.
8. Além disso, EUA,
Reino Unido, Israel e satélites têm intervindo em numerosos países com golpes e
pretensas revoluções suscitadas por serviços secretos, mercenários e
organizações terroristas. Síria e Ucrânia são alvos preferenciais dessas
agressões, sem falar nas permanentes pressões e falsas acusações contra o Irã.
9. O prelúdio da
Segunda Guerra Mundial, nos anos 30, também apresentou invasões e conflitos
localizados, e a ascensão de regimes fascistas (Itália, Alemanha e Japão), além
de na Espanha, após sangrenta guerra civil, de 1936 a 1939, com participação de
forças militares estrangeiras.
10. No presente, a
depressão econômica prossegue, bem como suas trágicas consequências sociais. A
oligarquia financeira está cada vez mais concentrada e tem cada vez mais poder
sobre os governos – à exceção dos demonizados, por não se submeterem -
pela mídia e pelas demais instituições formadoras de opinião.
11. A oligarquia não
deseja acabar com a depressão - tarefa fácil, se fosse decidida – e visa
concentrar mais poder e tornar irreversível o controle totalitário sobre o
Planeta, seus recursos e habitantes. Isso envolve desumanizar os seres
humanos, inclusive acabando com as sociedades nacionais.
12. As
soluções para recuperar a economia podem ser entendidas por qualquer pessoa
sensata, não bitolada por lugares comuns disseminados pelos economistas mais
renomados (justamente por agradarem a oligarquia).
13. A
depressão dos anos 30, explodiu com violência, notadamente na Alemanha,
exaurida pelas reparações da 1ª Guerra Mundial. Ali o desemprego atingiu 6
milhões em março de 1932.
14.
Economistas competentes, como Lautenbach, alto funcionário do ministério da
economia, mostraram o caminho correto, apoiado pela federação das indústrias,
semelhante ao plano de Woytinski, sustentado por sindicatos de trabalhadores.
15.
Em 1931, Lautenbach apresentou o memorandum “Possibilidades para reviver a
atividade econômica, através do investimento e da expansão do crédito”.
Afirmou:
“O
curso para superar a emergência econômica e financeira não é limitar a
atividade econômica, mas aumentá-la, porque o mercado não mais funciona nas
condições de depressão e crise monetária mundial.”
“Neste
momento, temos situação paradoxal, na qual, apesar dos cortes extraordinários
na produção, a procura ainda está defasada em relação à oferta. Assim, temos
excedentes crônicos da produção, com os quais não sabemos lidar. Encontrar
algum modo de transformar esses excedentes em valor real é o problema real e o
mais urgente da política econômica.”
“Excedentes
de bens físicos, capacidade não-utilizada dos equipamentos produtivos e força
de trabalho não-aproveitada podem ser aplicados para satisfazer uma nova
necessidade, a qual, do ponto de vista econômico, representa investimento
de capital. Podemos conceber tarefas como obras públicas, ou obras realizadas
com apoio público - que para a economia significariam aumento da riqueza
nacional - e que teriam de ser feitas de qualquer modo, quando se
voltasse a ter condições normais (construção de estradas, expansão do sistema
ferroviário, melhoramentos na infra-estrutura, etc.)”
“Com
tal política de crédito e investimentos, será remediado o desequilíbrio entre a
oferta e a procura no mercado interno, e toda a produção terá ganhado direção e
objetivo. Se, todavia, deixarmos de instituir tal política, estaremos
encaminhados para inevitável e continuado colapso e para a completa destruição
da economia nacional, levando-nos a uma situação que nos forçará, para evitar
uma catástrofe, a assumir dívidas de curto prazo meramente para fins de
consumo; enquanto que hoje, está ainda em nosso poder obter esse crédito para
fins produtivos e, assim, recolocar em equilíbrio tanto a economia como as
finanças públicas.”
16.
Woytinski recomendou explorar oportunidades de complementar as iniciativas das
empresas privadas com a criação de empregos, através de investimentos públicos.
Propôs, ainda, a liberação de fundos, via políticas de expansão monetária para
a reconstrução da Europa.
17. Em
janeiro de 1932 foi apresentado o plano de criação de empregos WTB (Woytinski,
Tarnow e Baade) para criar 1 milhão de novos empregos, com investimentos financiados
por créditos de longo prazo, a juros baixos, pela Reichskredit AG,
descontáveis no Reichsbank.
18. A
Confederação Geral dos Trabalhadores Alemães aprovou esse plano, recusado,
entretanto, conforme o parecer dos “peritos economistas” Hilferding, Naphtali e
Bauer, pelo Partido Social-Democrata..
19.
Schäffer, secretário de Estado do ministério das Finanças, apoiou o plano
de Lautenbach. Moção similar partiu de Wagemann, chefe do
Escritório Nacional de Estatísticas, que, em janeiro de 1932, publicou seu
plano, que incluía emitir 3 bilhões de reichsmarks para criar empregos.
20. Nada
disso foi adiante, pois não interessava à oligarquia angloamericana. Esta
armava a subida de Hitler ao poder, mesmo tendo os nazistas perdido 2 milhões
de votos nas eleições de 6.11.1932.
21. Após
essas eleições, o presidente, marechal Hindenburg, nomeou chanceler o chefe do
Estado-Maior, general von Schleicher, que propunha pôr em execução as políticas
recomendadas por Lautenbach, Woytinski e Schäffer, e apoiadas por entidades de
classe patronais e dos trabalhadores.
22. A
oligarquia financeira tratou de evitar que von Schleicher sequer as iniciasse,
minando-lhe a sustentação política, enquanto conspirava na chantagem
junto ao marechal-presidente para nomear Hitler, consumada em 30.01.1933.
23. O
objetivo era a Segunda Guerra Mundial, pois Hitler anunciara no “Mein Kampf”
seu desígnio de atacar a União Soviética. Finalidade: empregos e recuperação
econômica só mediante a mobilização para a guerra, que destruiria
mutuamente Alemanha e Rússia.
24.
Hoje, o Estado é enfraquecido como agente de desenvolvimento econômico e
social. Ele serve, nos países-sede da oligarquia, para erguer
enormes arsenais de armas destrutivas e hipertrofiar órgãos de repressão,
serviços secretos e meios tecnológicos de desinformar.
25. Nos países
periféricos, como o Brasil, o Estado, empobrecido pelo serviço da dívida e
pelas privatizações, funciona para arrecadar recursos para a dívida e subsidiar
empresas transnacionais.
26. Com a política econômica dominada pela oligarquia
financeira, a concentração não cessa de crescer. No trabalho The
Network of Global Corporate Control, publicado em 2011, os matemáticos suíços, Vitali, Glattfelder e Battiston, demonstraram a interligação das
corporações econômicas e financeiras por laços diretos e indiretos de
propriedade.
27. Com dados sobre 43.000 transnacionais (ETNs), chegaram a
1.300 maiores companhias com fortes elos entre si, núcleo refinado para um de
só 737 companhias, que controlam 80% das 43.000. Mais elaboração permitiu
chegar a 147, detentoras da propriedade quase total sobre si mesmas, mais 40%
das 43.000.
28.
As 147 são basicamente controladas por somente 50, das quais 48
são financeiras. Apenas duas envolvem-se diretamente com a economia real
(Walmart e China Petrochemical Group).
29. Susan George, do Transnational Institute, Amsterdam,
conclui: “Nossos problemas originam-se do 0,1%, na verdade do 0,001%.”
Mas essa fração não retrata a dimensão infinitesimal, em relação à
população da Terra, da minoria que concentra o poder econômico, financeiro e
político.
30. De fato, existe hierarquia entre os donos das companhias
mais poderosas, e, entre esses, muito poucos exercem comando sobre bancos
centrais, instituições financeiras multilaterais e mercados financeiros.
31. George aponta as interligações entre a finança e as
corporações de petróleo e gás, e seus vínculos com a indústria
automotiva, gastadora de combustíveis fósseis.
32. O poder dos concentradores financeiros manifesta-se,
inclusive, pelo fato de o 1% do topo pagar percentual de tributos
inferior ao de qualquer época desde os anos 20, apesar da enorme elevação de
seus ganhos e de seu patrimônio nos últimos 35 anos.
33. Mais: dezenas de trilhões de dólares/euros das emissões dos
bancos centrais e das receitas tributárias foram usados para salvar da
bancarrota instituições financeiras cujos controladores e executivos haviam
lucrado dezenas de trilhões com jogadas financeiras, em operações alavancadas, sobre
tudo com o quatrilhão de derivativos criados a impulsos de chips, antes do
colapso de 2007/2008.
34. Pior: o dinheiro posto nos bancos é aplicado em novas
especulações, criando novas bolhas, prestes a estourar. A conta fica para os
cidadãos dos países endividados, inclusive dos EUA, e maior para os dos menos
privilegiados que não podem emitir dólares.
35. No Brasil, recordista mundial de juros altos, só dois
bancos, Itaú e Bradesco registraram R$ 28 bilhões de lucros em 2013.
* - Adriano Benayon é doutor em economia e
autor do livro Globalização versus Desenvolvimento.
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