De: Adriano Benayon [mailto:abenayon.df@gmail.com]
Enviada em: quarta-feira, 12 de março de 2014 07:32
Para: 'Luiz Roberto Brandão Pires'
Assunto: Artigo: Ucrânia e Brasil
Enviada em: quarta-feira, 12 de março de 2014 07:32
Para: 'Luiz Roberto Brandão Pires'
Assunto: Artigo: Ucrânia e Brasil
Novo artigo, com
cumprimentos,
AB
UCRÂNIA E BRASIL
Adriano Benayon * -
09.03.2014
Guerra e depressão
1.O móvel da oligarquia financeira para desencadear guerras em
grande escala, bem como conflitos localizados, é ganhar mais poder,
subordinando países e regiões ao império e enfraquecendo os que poderiam conter
essa expansão.
2. Na 1ª e 2ª Guerras
Mundiais, respectivamente França versus Alemanha e Alemanha versus Rússia
(União Soviética), as potências angloamericanas só se engajaram com
intensidade, no final, para ocupar espaços, estando aqueles contendores
desgastados.
3. As duas grandes
conflagrações eclodiram após longos períodos de depressão econômica e serviram
como manobra de diversão em face das consequências sociais e políticas da
depressão.
4. No Século XXI, os
conflitos armados grandemente destrutivos estão tornando-se mais frequentes
após o golpe preparatório: a implosão das Torres Gêmeas, em setembro de
2001.
5. Os principais alvos têm
sido países islâmicos, envolvendo a geopolítica da energia. Desde 2001 o
Afeganistão está sob agressão. Em 2003, destruição e ocupação do Iraque.
Ataques a Sudão, Somália e Iêmen. Em 2011 a brutal agressão e intervenção
da OTAN na Líbia. Durante todo o tempo, pressão e hostilização a Síria e Irã.
6. Em 2013, a agressão à
Síria foi intensificada com a invasão por mercenários e extremistas,
grandemente armados, com participação das monarquias petroleiras do Golfo
Pérsico, lideradas pela Arábia Saudita, e colaboração da Turquia e de outros
membros da OTAN.
7. Mas, na Síria, o governo
conseguiu resistir, com seus recursos e disposição e com apoio
militar e político da Rússia, inclusive no Conselho de Segurança da ONU.
Ucrânia
8. O êxito, até o momento,
dessa resistência, levou a potência hegemônica retornar a ataques mais
incisivos contra a ex-superpotência, que busca reconstruir-se. Daí, o
recente golpe de Estado na Ucrânia.
9. Ademais, Putin
fortaleceu os laços econômicos e políticos da Rússia com a China e países da
Ásia Central, frustrando a estratégia angloamericana de manter divididas e
vulneráveis as potências capazes de alguma resistência a seu projeto de
governo mundial absoluto.
10. Claro que os EUA nunca
deixaram de reforçar o cerco à Rússia, desde a desmontagem da União Soviética,
instalando bases de mísseis em ex-aliados de Moscou, com destaque para a
Polônia. Teleguiaram a “revolução laranja” na Ucrânia, em 2004, mais um marco
no enfraquecimento desse país de consideráveis dimensões e recursos
naturais e população em grande parte russa.
11. Ao verem contida a
intervenção na Síria – e presenciar o Irã muito pouco abalado pelas sanções e
incessantes hostilizações - os EUA trataram de atingir o flanco da
própria Rússia.
12. Instaram a União Europeia
(UE), sua virtual satélite, a fazer ingressar nela a Ucrânia, visando a pô-la
na OTAN, colocando bases militares contra a Rússia virtualmente dentro desta.
13. Entretanto, o presidente
da Ucrânia, Yanukovych,
constitucionalmente eleito, não concordou em aderir à UE sem discutir as
draconianas condições impostas: adotar as medidas econômicas do figurino do
FMI: cortar em metade o valor das pensões, suprimir benefícios sociais,
demitir funcionários, privatizar mais patrimônio público em favor de
plutocratas, tudo para pagar dívidas com bancos ocidentais.
14. Essas são as medidas às
quais estão amarrados os pífios empréstimos que UE e EUA acabam de
conceder após o golpe, desencadeado a partir de conversa telefônica entre
a Subsecretária de Estado dos EUA, Victoria Nuland, e seu Embaixador na
Ucrânia.
15. Utilizaram-se as redes
sociais e outros meios de arrebanhar massas descontentes e as levaram à praça
Maidan, ignorando elas que suas lastimáveis condições de vida vão piorar
muito após o golpe.
16. A polícia foi acusada de
autora dos disparos feitos por gangs neonazistas e outras extremistas, como foi
constatado pela chefe das relações exteriores da União Europeia e pelo ministro
do exterior da Estonia, conforme conversação telefônica entre ambos, cuja
autenticidade foi confirmada pelo ministro: http://rt.com/news/ashton-maidan-snipers-estonia-946/.
17. Isso é evidentemente
omitido pela grande mídia, que só publica o que interessa aos governos dos EUA,
aliados e satélites, todos subordinados à alta finança e ao big business.
18. Ninguém
deveria desconhecer que ela mente, 24 horas por dia, e ainda mais desde a
destruição, por dentro, das Torres Gêmeas em Nova York, golpe a partir do qual
os EUA institucionalizaram mais instrumentos totalitários de repressão.
19. Mas engana muita gente,
mesmo após ter sido desmascarada inúmeras vezes, como quando se comprovou ter o
Secretário de Estado de Bush, Colin Power, mentido descaradamente sobre a
existência de armas de destruição de massa no Iraque, negada pelo próprio
observador das Nações Unidas.
20. É ao big business que
agrada o golpe na Ucrânia, após já vir lucrando, antes dele, em negócios com os
oligarcas corruptos atraídos para a órbita da oligarquia financeira,
principalmente britânica.
21. De fato, anunciam-se
novos acordos com as petroleiras angloamericanas (Chevron etc.) para
extrair xisto, pelo processo altamente poluente fracking, bem como a
cessão de terras ao agronegócio norte-americano, Monsanto à frente, com intenso
uso dos letais transgênicos e agrotóxicos, nas grandes extensões férteis da
Ucrânia.
22. O destino dos ucranianos,
se confirmado o ingresso na UE, não diferirá do que assola a Grécia, e se
abaterá também sobre os russos e outras nacionalidades que vivem em territórios
cedidos à Ucrânia pelo bêbado Kruchev.
23. Putin está agindo com
extrema cautela, tendo-se limitado a apoiar o parlamento da Crimeia em seu
desejo de unir-se à Rússia, reforçando efetivos militares na península e no
mar.
24. A China
manifestou-se solidária à Rússia, inclusive por estar investindo na
Ucrânia, como faz em todo lugar suscetível de exportar alimentos e outras
matérias-primas.
25. A renda por habitante da
Ucrânia equivale a 1/3 da russa, que não é alta, e a Rússia já acolheu três
milhões de ucranianos em seu território. O agravamento das condições sociais
levará a maior êxodo para a Europa Ocidental, que já tem enorme desemprego.
Brasil
26. O processo aqui em curso
tem semelhanças com o da Ucrânia: insatisfação com as condições de vida e com a
corrupção; ignorância das causas desses males.
27. Na nova ágora da internet
e redes sociais, circulam versões absurdas como a de que o governo petista tem
por objetivo implantar o comunismo.
28. Na realidade, esse
governo, como seus predecessores, depende do big business transnacional, cujo
domínio intensifica os problemas do País: concentração, desnacionalização e
desindustrialização da economia; dependência tecnológica.
29. Difundiu-se muito no
Brasil vídeo em que uma jovem ucraniana defende liberdade e democracia no
errado contexto das massas iludidas na Ucrânia pelos mobilizadores do golpe. Na
realidade, uma peça produzida por empresa de marketing político, sob os
auspícios da agência norte-americana “National Endowment for Democracy”.
30. Este e outros braços do
império acionaram as ONGs a seu serviço, a par dos nazistas, conforme a
tradição da CIA, desde o final da 2ª Guerra Mundial. O que se vê na
Ucrânia são homicídios, vandalismo e torturas, reiteradas agora com tiros sobre
manifestantes pró-Rússia.
31. O objetivo da oligarquia
financeira angloamericana no Brasil, até para prosseguir apropriando-se de seus
recursos de toda ordem, é intensificar a desnacionalização e demais
instrumentos para enfraquecê-lo.
32. Os meios de controle da
informação - inclusive espionagem eletrônica, hacking - combinam-se com a
corrupção de todo o sistema institucional. A presidente é acuada para
aumentar o ritmo das concessões.
33. Estão presentes as
consequências das falhas estruturais da economia brasileira, que venho, de há
muito, denunciando, as quais se poderão manifestar de forma aguda após julho,
apesar de haver eleições em outubro.
34. A crise brasileira tem
face interna - física e financeira - como o serviço da dívida: R$
900 bilhões para 2014; e face externa: déficit nas transações correntes com o
exterior acumulando US$ 188,1 bilhões em três anos (US$ 81,4 bilhões só em
2013).
35. Além disso, seus efeitos
econômicos e sociais podem ser agravados pelas repercussões do colapso
financeiro no Hemisfério Norte, próximo de ressurgir.
* - Adriano Benayon é doutor em economia e
autor do livro Globalização versus Desenvolvimento.
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