De: Adriano Benayon
Enviada em: segunda-feira, 21 de abril de 2014 13:02
Para: '
Assunto: artigo: Finanças e (sub)desenvolvimento
Enviada em: segunda-feira, 21 de abril de 2014 13:02
Para: '
Assunto: artigo: Finanças e (sub)desenvolvimento
Com cumprimentos, segue artigo.
AB
Finanças e (sub)desenvolvimento
Adriano Benayon * 15.04.2014
Cidadãos saqueados
1.A oligarquia financeira mundial saqueia o Brasil,
inclusive através da dívida pública, inflada pela capitalização de juros absurdos,
mesmo gerando, com só eles, gastos inúteis da ordem de R$ 350 bilhões
anuais.
2. Assim, são sugados recursos tributários, que deixam de
ser aplicados em investimentos produtivos, serviços públicos e infra-estrutura
física e social. Para aumentar as verbas destinadas aos juros da dívida, os
governos títeres têm confiscado poupanças dos brasileiros, através de
emendas constitucionais, como a da DRU (desvinculação das receitas da
União), que permite desviar, para o serviço da dívida, recursos da seguridade
social.
3. Em especial, os contribuintes do INSS - assalariados,
autônomos e empresários - têm sido espoliados pelas
“reformas” da previdência de FHC e Lula, aprovadas no Congresso por meios
nada democráticos.
4. O “fator previdenciário”, na realidade calote
previdenciário, reduz os proventos de aposentadoria em percentuais maiores para
quem começou a trabalhar com menos idade.
5. Um interlocutor informou-me que, tendo contribuído
sobre dez salários mínimos, perde, por conta do tal “fator”, 37,5% de seu
provento, que caiu para três salários mínimos, também por causa da
falta de atualização monetária da tabela do imposto de renda.
6. Essa, conforme estudos técnicos, ficou 62% abaixo
do que deveria, se fosse aplicado o índice de variação do IPCA de 1996 a 2013.
Assim, em 1996, o IR incidia só em salários acima de 8
mínimos, enquanto que, em 2013, recaiu sobre quem ganha R$ 1.710,78: menos de 3
salários mínimos.
Estado e política financeira
7. Há anos, a mídia ocidental “prevê” o estouro de bolha
imobiliária e financeira na China, o que anima os que esperam o fim da
arrancada de desenvolvimento desse país e que ele deixe de equilibrar a balança de poder em face dos EUA.
8. Em recente artigo na britânica BBC, informa-se
que, nos últimos anos, a China construiu um novo arranha-céu a cada cinco dias,
mais de 30 aeroportos, sistemas de metrô em 25 cidades, as três pontes mais
extensas do mundo, mais de 9,6 mil quilômetros de rodovias, de alta velocidade,
e empreendimentos imobiliários comerciais e residenciais em grande escala.
9. Então, lembra que as expansões econômicas sempre
terminaram em crises, ignorando que isso pode não valer em países não dominados
pela oligarquia financeira.
10. Na China o Estado detém grande poder, independente
das centenas de bilionários e milhares de milionários cuja existência
propiciou nos últimos
37 anos, e os controladores do Estado não chegam a essa posição por eleições movidas a dinheiro e pela mídia.
37 anos, e os controladores do Estado não chegam a essa posição por eleições movidas a dinheiro e pela mídia.
11. As crises e colapsos financeiros podem ser evitados,
porquanto dívidas podem ser reduzidas, refinanciadas e canceladas, exceto
se os credores tiverem poder para não permiti-lo, ainda que isso signifique a
derrocada da economia.
12. Dinheiro e crédito podem ser criados à vontade, como
os EUA fazem com o dólar, e não só em proveito dos bancos, ao contrário
do que lá se faz.
13. A oligarquia, do Ocidente prefere a depressão
ao saneamento da economia. Confiscou haveres de milhões de devedores, em lugar
de deixar falir os bancos que haviam elevado, através de fraudes, as
dívidas dos clientes e obtido lucros imensos, criando centenas de bilhões de
dólares em novos títulos “lastreados” em títulos nada seguros.
14. Salvos pelo FED e pelo BCE (banco central
europeu) , os bancos não financiam atividades produtivas, porque a
economia está estagnada, e a demanda fraca. Aplicam o dinheiro em novas
especulações e emprestam aos Tesouros, endividados para ajudá-los.
15. Foi normal que o crescimento econômico da
China se desacelerasse, após 30 anos com taxas em média superior a 10% aa. Mas
não entrou em recessão mesmo com a queda na demanda por importações das
economias ocidentais.
16. A China pode fazer ocupar a enorme área de
apartamentos e espaços comerciais construída. Se a política econômica não é
escrava das finanças “ortodoxas”, não há problema em financiar locatários
ou adquirentes, mormente se os salários e a produtividade seguem em alta.
17. O próprio regresso de milhões de pessoas para
áreas rurais pode ser administrado, dada a boa infra-estrutura de
transportes, fomentando a produção agrícola descentralizada, em interação
com as áreas urbanas.
O Estado no Brasil
18. Diferentemente da facilidade, por decreto, com que se
podem arrumar as finanças, precisa-se de decênios e muita qualidade estratégica
para reparar os estragos na economia real decorrentes da depressão econômica
(deterioração da infra-estrutura e do capital humano, como nos ocidentais
desenvolvidos) e os danos do subdesenvolvimento, caso do Brasil, que, desde
1954, entrega seu mercado às transnacionais.
19. Para começar, o País tem de deixar de ser escravo das
finanças. Além disso, o desenvolvimento econômico só é viável, se também
for social: se o Estado impedir a concentração econômica.
20. Há que incorporar capital e tecnologia do próprio
País ao processo produtivo, tanto nos bens e serviços de consumo e de uso
individual, como nos coletivos: energia, transportes, comunicações, saneamento,
saúde, educação, cultura e informação.
21. Fundamental que essa acumulação seja bem distribuída,
com mercados em competição, salvo em setores de monopólio natural, caso em que
tem de ser estatal. Em suma, sem distribuição do poder econômico, não haverá a
do poder social.
22. Nos países desenvolvidos, o Estado teve ação
decisiva, depois negada na história reescrita ao gosto da oligarquia
capitalista, que se fortaleceu com a concentração e subordinou a economia de
mercado.
23. Surgiram, assim, teorias e políticas
conducentes a reduzir o papel do Estado e sua função de agente do
desenvolvimento, privatizar estatais, eliminar políticas de bem-estar,
desregulamentar as finanças, a indústria, etc., mas privilegiando a produção de
armamentos.
24. O Brasil não chegou ao desenvolvimento, porque
teve sua economia desnacionalizada, após os golpes de Estado determinados pela
geopolítica das potências imperiais.
25. O governo instalado pelo golpe de 1954 doou o mercado
às empresas transnacionais (ETNs), e lhes deu subsídios inimagináveis: a)
permitir às ETNs importar bens de capital usados, de há muito amortizados com
as vendas dos seus produtos no exterior; b) atribuir a essas importações
valores significativos; c) permitir seu registro como investimento estrangeiro;
d) converter essas quantias em moeda nacional, à taxa livre de câmbio
(cuja cotação equivalia ao dobro da taxa preferencial; e) converter os enormes
ganhos à taxa preferencial, nas remessas às matrizes.
26. Esses favores foram mantidos e ampliados por Juscelino
Kubitschek, ao final de cujo quinquênio (1956-1960), o País teve a primeira
crise de dívida externa, desde os anos 30, tendo Vargas praticamente reduzido a
dívida a zero em 1943.
27. O primeiro governo militar (1964-1967) diminuiu o
investimento público e tornou proibitivo o crédito empresas nacionais,
fazendo falir grande número destas.
28. Debilitadas e excluídas do mercado as empresas
nacionais, não há como desenvolver no País tecnologias, que só florescem em
empresas que produzem bens para o mercado.
29. Os governos militares seguintes obtiveram altas
taxas de crescimento sob o mesmo modelo de dependência financeira e
tecnológica: a dívida externa cresceu aceleradamente, devido aos déficits de
transações correntes causados por: remessas de lucros das ETNs,
inclusive como despesas; subfaturamento de exportações; superfaturamento
de importações, inclusive de equipamentos e insumos (usinas em pacotes
tecnológicos fechados) para obras públicas e setores básicos, em concorrências
com especificações desenhadas pelo Banco Mundial, em favor de grandes
transnacionais.
30. O crescimento exponencial da dívida externa
culminou na inadimplência em 1982, tornando o País refém do garrote externo e
da dívida interna, em progressão galopante impulsionada pelas taxas de juros
mais altas do mundo.
31. Desde a Constituição de 1988, com a introdução
fraudulenta, no § 3º inciso II do art. 166, de dispositivo que privilegia
o serviço da dívida, a União gastou, em valores atualizados, R$ 10
trilhões, sangria que se soma às demais decorrentes da desnacionalização e da
concentração.
32. Outro desastre flui do art. 164, que nega ao Tesouro
competência para emitir moeda e a atribui ao Banco Central, e este só pode
financiar bancos, que se locupletam com as brutais taxas de juros
dos títulos do Tesouro.
33. Desde os anos 80: queda nos investimentos públicos,
intensificação da desnacionalização e políticas cada vez mais favoráveis
aos grupos concentradores; a partir de Collor (1991), enxurrada de emendas
constitucionais e leis contrárias aos interesses nacionais e as corruptas
privatizações sob FHC, mantidas e ampliadas pelos governos do PT.
34. A administração pública foi desestruturada, e a
normatização e a gestão de energia, petróleo, águas e tudo mais entregues a
agências dirigidas por gente ligada a interesses que não os nacionais.
35. Portos, aeroportos e estradas têm sido objeto
de novas concessões a grupos privados, sem obrigação de fazer melhorias,
nem de mantê-los adequadamente, mas com direito a arrecadar tarifas.
36. Nas PPPs (parcerias público-privadas) os
investimentos de infraestrutura são financiados, a juros
favorecidos, por bancos oficiais, e realizados e geridos por grupos privados,
com lucros garantidos e risco coberto pelo Estado.
37. Com a lei 9.478/1997, transnacionais exportam
petróleo, pagando royalties em percentual muitíssimo inferior à media dos
vigentes em países sem estatais com a tecnologia da Petrobrás. A demissão
do Estado culminou com o leilão do pré-sal.
38. De JK ao presente, a infraestrutura de transportes
visa só a propiciar ganhos às ETNs automotivas. As grandes cidades carecem de
linhas de metrô suficientes. São Paulo tem cinco vezes menos kms. de linhas que
Shanghai. Tampouco se investiu correta e suficientemente em vias
fluviais, canais e eclusas, navegação de cabotagem e ferrovias.
40. As políticas de energia e de telecomunicações são
coleções de absurdos em favor de beneficiários das privatizações. A
biomassa - que deveria ser a primeira das fontes de energia, ao lado das
hidroelétricas - é não só preterida, mas boicotada.
41. Mais: o Estado subsidia escolas e instituições
de “saúde” privadas, através de bolsas, enquanto negligencia a quantidade
e qualidade das escolas e das instituições de saúde, públicas.
* - Adriano Benayon é doutor em economia e
autor do livro Globalização versus Desenvolvimento.
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