De: Adriano Benayon
Enviada em: segunda-feira, 2 de junho de 2014 12:23
Para:
Assunto: artigo: Para sobreviver, sair do dólar
Enviada em: segunda-feira, 2 de junho de 2014 12:23
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Assunto: artigo: Para sobreviver, sair do dólar
Com cumprimentos, segue artigo.
AB
Para sobreviver, sair do dólar
Adriano Benayon * - 29 de maio de 2014
O sistema monetário internacional que prevalece desde
1971, é ainda pior que o criado pelos Acordos de Bretton
Woods, em 1944, meses antes de acabar a 2ª Guerra Mundial.
2. Esses acordos - que instituíram o Banco Mundial e o
FMI - deram primazia ao dólar como moeda de reserva mundial, mas
estabeleciam limite à tirania financeira angloamericana, porquanto os EUA se
comprometiam a vender ouro em troca de dólares, à taxa fixa de US$ 35,00 por
onça-troy (31 gramas).
3. Entretanto, em agosto de 1971, os EUA romperam
oficialmente os acordos de Bretton Woods, que já descumpriam na prática, desde,
pelo menos, 1968, ao dificultar, a entrega do ouro.
4. Não lhes foi difícil virar a mesa, a seu talante, uma
vez que eram satélites dos EUA os países que acumulavam maiores saldos de
transações correntes em dólares - como Japão, Alemanha e Itália, ocupados
militarmente desde o final da Guerra.
5. A exceção foi a França, cujo presidente, general
De Gaulle praticava política independente. Exigia a conversão em ouro dos
saldos de seu país, pois colocava os interesses nacionais acima da ideologia,
inclusive em seu posicionamento em face da Guerra Fria.
6. A oligarquia financeira angloamericana visa
exclusivamente ao poder mundial ilimitado e tampouco acredita em ideologias.
Usa qualquer uma, em qualquer lugar, que a ajude, conforme o momento, a
avançar naquele objetivo.
7. Assim, os serviços secretos dos EUA e do Reino Unido,
juntamente com as máquinas de corrupção de instituições públicas e privadas
desses países, fomentaram, na França, lideranças estudantis esquerdistas, com
apoio da grande mídia e até de partidos e organizações de esquerda.
5. Assim, mobilizaram massas no movimento de maio de
1968, que espalhou a desordem e o caos pela França, e até hoje é considerado
libertário pela opinião majoritária.
6. Apesar de alvo das manobras angloamericanas de
desestabilização, De Gaulle manteve-se no governo até 1969, renunciando, ao ser
derrotado em um referendo, pela primeira vez.
7. Esse tratamento, dado pela tirania imperial a De
Gaulle, foi menos brutal que o dispensado a Saddam Hussein em 2003 e a Muamar
Ghadáfi em 2011. Afinal, a França era potência nuclear e aliada, ademais de
fonte das tão traídas ideias democráticas, formalmente adotadas nos EUA.
8. Pela mesma tentativa, de livrar seus países da
extorsão pelo dólar, Hussein e Ghadáfi foram assassinados, com seus filhos e
famílias, e seus países destruídos por agressões militares genocidas.
9. Daí se infere a importância para o império de
continuar obrigando suas vítimas a custear até as armas com que são trucidadas
ou chantageadas.
10. Pode-se estimar o que está em jogo pela proliferação
dos ativos financeiros em dólares. Os derivativos nessa denominação passam
de US$ 500 trilhões.
11. Vê-se, ainda, a inflação do dólar comparando a taxa
de conversão do ouro até os anos 60, e sua ascensão posterior no mercado:
de US$ 35,00 por onça-troy ele foi para os atuais US$ 1.300,00.
12. Chegou a US$ 1.800,00 em 2011, e só caiu por meio de
manipulações dos grandes bancos, que fazem o que querem nos “mercados
financeiros”, como vender quantidades enormes de certificados de ouro que não
existe em cofre algum.
13. Esses certificados não passam de papel pintado, como
o dólar foi descrito pelo general De Gaulle, nos anos 60. Hoje, nem isso,
pois basta um clic nos computadores dos bancos do sistema do
FED para passar o conto do paco no mundo inteiro.
14. A situação de um país em relação aos EUA é semelhante
à de um particular ou de uma empresa em relação ao banco com que
opera. Quando o banco faz empréstimos, cria dinheiro: abre, do nada,
créditos na conta do tomador, e este fica obrigado a pagar amortizações e
juros com dinheiro de seu salário ou de outra receita do trabalho individual ou
empresarial.
15. Sob “governos” traidores, que começaram a
entregar o mercado às empresas transnacionais após o golpe de agosto de 1954, o
Brasil ficou fadado a ter déficits crônicos no comércio de bens e serviços
(transações correntes) com o exterior, a origem das dívidas externa e interna.
16. O déficit de conta corrente tem crescido
aceleradamente e somou US$ 81,4 bilhões em 2013. No primeiro quadrimestre, já
atingiu US$ 33,5 bilhões, projetando mais de US$ 100 bilhões em 2014 (quase 5%
do PIB).
17. De 2008 a 2012, totalizou US$ 204,1 bilhões, devendo,
pois, ao final de 2014, acumular mais de US$ 400 bilhões, salvo se a crise
econômica desabar sobre o País antes de o ano terminar.
18. O rombo é mal tapado pela entrada de investimentos
estrangeiros, porquanto estes implicam intensificar a causa do mal, pois o
grosso dos déficits externos decorreu dos lucros, inclusive disfarçados
em despesas, remetidos ao exterior, relacionados também com o
desequilíbrio inerente ao comércio entre países que se desenvolveram e os que
patinam no atraso tecnológico, proveniente da desnacionalização da economia.
19. A moral, ou antes, a imoralidade da história é que
para “investir” as transnacionais só precisam de dólares que seus bancos criam
à vontade, enquanto as dívidas que o Brasil acumula, têm de ser pagas com bens,
patrimônios e trabalho nacionais.
20. Com efeito, valendo-se do privilégio dado ao dólar
como divisa internacional, os emissores dessa moeda e as empresas a eles
ligadas não têm dificuldade alguma para comprar patrimônios, empresas e
consciências em qualquer país que não restrinja essas aquisições.
21. Instituído no final de 1913, em trama na qual o
Congresso cedeu seus poderes à oligarquia, o FED, banco central dos EUA,
cria dólares e os fornece aos bancos angloamericanos que formam o cartel
controlador do próprio FED.
22. Sair do dólar gerará represálias das potências
angloamericanas e satélites, também dominadas pelos manipuladores dos mercados
financeiros. Entretanto, é medida de sobrevivência para quem não quiser
continuar sendo satélite ou colônia da oligarquia mundial.
23. A alternativa é ser subjugado através da ilimitada
criação de moeda, que permite a essa oligarquia adquirir praticamente tudo, em
qualquer lugar do mundo, além de financiar sua máquina de guerra.
24. Os EUA, de há muito, investem em armas mais que o
dobro que o resto do mundo, e são as armas que, por exemplo, obrigam países
exportadores de petróleo e a vendê-lo por dólares.
25. A questão está na ordem do dia. Haverá reunião em julho
deste ano, em Fortaleza, na qual se espera que os chefes de Estado dos BRICS
formalizem a criação de Banco de Desenvolvimento e assinem Acordo Contingente
de Reservas.
26. Mais promissora, por ora, é a realização, nas moedas
da Rússia e da China, dos pagamentos referentes ao novo e expressivo acordo de
fornecimentos de gás russo e às exportações chinesas relacionadas.
27. Essas potências já realizam, em suas moedas, algumas
transações com terceiros países, principalmente asiáticos, e a amplificação
disso é fundamental para o ainda distante fim do domínio mundial do
dólar.
28. Para contribuir nessa direção, o Brasil precisa,
desde logo, revogar o art. 164 da Constituição e nacionalizar o Banco
Central.
29. De fato, entre outros atos lesivos aos interesses
nacionais, o BACEN, rejeita operações pelo Convênio de Créditos Recíprocos,
firmado, em 1968, com países latino-americanos, e através do qual as operações
de comércio exterior podem ser liquidadas nas moedas dos países membros, e os
saldos, financiados pelas autoridades financeiras respectivas.
* - Adriano Benayon é doutor em economia e
autor do livro Globalização versus Desenvolvimento.
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