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"Adriano Benayon"
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Enviado: Tue, 19 May 2015 07:32
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Assunto:
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Artigo: Destruição econômica
e social
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Tipo: Embeded HTML/Text
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Com cumprimentos,
Segue artigo.
AB
Destruição econômica e social
Adriano Benayon * - 15.05.2015
Foi muito divulgada esta asserção do professor
Wanderley Guilherme dos Santos: "Depois de criado, o Estado
liberal transforma-se no estado em que a hegemonia burguesa não é seriamente
desafiada. Trata-se de um estado cuja intervenção em assuntos sociais e
econômicos tem por fim garantir a operação do mercado como o mais
importante mecanismo de extração e alocação de valores e bens."
2. Esse cientista político destaca a óbvia
natureza intervencionista (não-admitida) do Estado dito liberal, sem, porém,
propor uma denominação que saia dessa contradição em termos.
3. De resto, os muitos que repetem o termo
(neo)liberal, mesmo sabendo-o falso, colaboram com a enganosa
comunicação social do capitalismo.
4. O mesmo cientista afirma: “O Estado
liberal não é de modo algum um Estado não intervencionista. Muito pelo contrário, o Estado liberal está sempre intervindo, a fim
de afastar qualquer obstáculo ao funcionamento 'natural' e 'automático' do
mercado."
5. Aí está um engano sério. O mercado,
nas mãos dos oligopólios e carteis, não funciona natural nem automaticamente:
ele é controlado e manipulado por eles, e lhes serve de álibi, ao usarem o
termo impessoal “mercado” em relação a ações praticadas por
pessoas físicas, a serviço de grupos concentradores de poder econômico e
financeiro.
6. Isso é exatamente o contrário do funcionamento
'natural' e 'automático' do mercado e também do que teorizaram os clássicos
da economia sobre mercados livres, com participantes igualmente submetidos à
concorrência. Na realidade, a intervenção do Estado capitalista:
1) afasta a aplicação dos mecanismos de defesa
econômica do Estado, coibidora dos abusos praticados pelos concentradores;
2) promove o aumento da concentração do poder da
oligarquia financeira, através de subsídios governamentais e das políticas
fiscal e monetária, entre outras.
7. Portanto, capitalismo é o sistema político
e econômico que não admite restrições à concentração dos meios de
produção e financeiros, ademais de a fomentar, nas mãos da oligarquia, por
menor que seja o número das pessoas que a compõem.
8. Nos países centrais ou imperiais, o Estado
liderou o desenvolvimento econômico e nunca abandonou o fomento ao setor
privado. À medida que este ganhou corpo, o Estado passou a apresentar-se como
liberal, a fazer concessões no campo social e a adotar, na política, formas
exteriormente democráticas.
9. Nos períodos de crescimento e bem mais
nos de crises, a concentração foi crescendo, e regrediram os
avanços, surgindo o fascismo (antes da 2ª Guerra Mundial). E o fascismo
não-declarado, como nos EUA, desde antes do inside job de
setembro de 2001 (destruição das Torres Gêmeas e míssil lançado no
Pentágono).
10. A concentração do poder financeiro mundial
alcançou o incrível grau presente (147 corporações transnacionais,
vinculadas a apenas 50 grupos financeiros, detendo mais de 40% da riqueza
mundial).
11. Isso se foi intensificando por mais de 100
anos após se terem os concentradores tornado bastante fortes, para que
o Estado capitalista os protegesse adicionalmente. Os setores mais
aquinhoados foram o das armas e a finança.
12. O grande impulso recente deu-se através
da financeirização da economia, abusando os bancos dos privilégios de criar
moeda e títulos de toda sorte. Seus acionistas e executivos locupletaram-se
assim, beneficiados pela desregulamentação dos mercados financeiros, a qual
lhes proporcionou abusar da alavancagem e de fraudes diversas.
13. Ilustrativa da subordinação do Estado
capitalista, falsamente dito liberal, à oligarquia financeira foi a resposta
ao colapso financeiro de 2007/2008, provendo mais de 20 trilhões de dólares
em ajuda aos banqueiros delinquentes, ao invés de realizar as correções
estruturais necessárias ao bem da economia e da justiça.
14. De há muito, as intervenções
imperiais - militares ou não - recrudescem em todos os continentes,
gerando sistemas políticos pró-imperiais e Estados vassalos, como se tornou o
Brasil, à raiz do golpe de Estado de agosto de 1954, passando a partir das
Instruções 113 da SUMOC e seguintes (janeiro de 1955) a subsidiar os
investimentos estrangeiros diretos, de modo absurdo.
15. Não há como falar em capitalismo periférico.
Há somente indivíduos riquíssimos originários das periferias, como muitos
outros dos países centrais, subordinados à oligarquia capitalista mundial.
16. À medida que essa oligarquia se foi
apropriando, no Brasil, da estrutura econômica, foi também promovendo
sucessivas intervenções e manobras, no campo das instituições políticas, que
propiciaram intensificar ainda mais essa apropriação.
17. Temos agora mais uma crise. Nesta, a baixa
resiliência – devida à desindustrialização e à desnacionalização – combina-se
com o déficit das transações correntes exteriores, mais os déficits das
contas públicas nos três níveis da Federação, resultando em grande salto
qualitativo para nova degradação econômica e social.
18. Consideremos as taxas básicas dos juros dos
títulos públicos, uma das mega-fontes de agravamento do caos decorrente do
“ajuste” em curso.
19. Nos últimos cinco meses, a taxa SELIC foi
elevada várias vezes. Era 11,25%, em novembro de 2014, e chegou a 13,25%, em
30.04.2015, o que significa taxa efetiva em torno de 16,25% aa.
20. Em artigo anterior, comparei a aplicação das
taxas de 12% aa. e de 18% aa., durante 30 anos, sobre o atual montante da
dívida mobiliária interna, de cerca de R$ 3 trilhões: a primeira
resultaria em R$ 90 trilhões, e a segunda em incríveis R$ 430 trilhões,
quantia igual ao dobro da soma dos PIBs de todos os países do mundo.
21. A taxa atual alçaria o estoque da dívida para
R$ 274,73 trilhões de reais.
22. Tal como as letais taxas de juros, as demais políticas do
“ajuste” só podem ter por objetivo concluir a desestruturação (destruição)
econômica e social do País.
23. Em função dos estratosféricos juros da dívida
e também da intenção restritiva do “ajuste”, os investimentos públicos sofrem
enormes cortes. Do mesmo modo, a demolição de direitos sociais, incluindo
generalizar a terceirização, significa extrair sangue de organismos anêmicos.
24. É inútil esperar resultados positivos de tais
medidas, porque, na atual estrutura, dominada pelos carteis transnacionais, e
dada a infra-estrutura existente, nenhum “ajuste” levará a diminuir
significativamente o “custo Brasil”, qualquer que seja a taxa de câmbio.
25. Até mesmo as subsidiárias das transnacionais,
que poderiam apresentar custos competitivos, inclusive por não precisarem do
crédito local, absurdamente caro, preferem, em vez disso, auferir lucros
fabulosos no País, reforçados pelos incríveis subsídios que lhes dão a União,
Estados e municípios.
26. Elas remetem esses lucros ao exterior,
disfarçados em despesas por serviços, superfaturamento de importações (dos
equipamentos, máquinas e insumos) e subfaturamento de exportações. Assim,
seus custos são forçosamente altos.
27. Já as empresas de capital nacional vêm sendo
alijadas do mercado, desde 1954. Além de não contarem com as vantagens
dos incentivos e subsídios, que só as transnacionais estão em condições de
aproveitar, elas foram desfavorecidas pelas políticas públicas e deixadas à
mercê das práticas monopolistas dos carteis multinacionais.
28. A política de crédito as afeta de modo
especialmente agudo, pois os juros que despendem - são múltiplos da taxa
dos títulos públicos. Já as transnacionais, além de não necessitarem de
crédito, bastando-lhes reinvestir pequena parcela dos lucros, têm acesso a
crédito barato no exterior.
29. A partir dos anos 90 e após a devastação
produzida pela dívida externa, passou-se às indecentes privatizações, já que
a classe dominante eram os controladores das transnacionais, cujos
governos impõem suas vontades, diretamente e através de agentes, cooptados e
corrompidos.
30. Sob o modelo dependente, o País carece de
poder armado e financeiro para fazer valer seus interesses na esfera mundial,
e sua inserção externa é a pior possível, pois os segmentos de maior
valor agregado e maior emprego de tecnologia são controlados pelos carteis
mundiais.
31. A própria infra-estrutura, como a dos
transportes, inclusive em sua orientação geográfica, foi desenhada para
servir o interesse das corporações estrangeiras, tal como a escolha dos
investimentos, priorizando a extração de minérios em escalas imensas, com
pouco ou nenhum processamento no País.
32. Também na agricultura, privilegia-se a grande
escala, segundo as regras dos carteis mundiais do agronegócio e suas
tradings, abusando-se dos agrotóxicos, transgênicos e fertilizantes químicos,
para grande dano dos solos e da saúde pública.
33. Entre os grandes escárnios ilustrativos da
submissão do Brasil à condição de periferia imperial é a Lei Kandir, que
isenta de tributos as exportações primárias. A Inglaterra entendeu, já
no Século XIII, que era vital sair dessa condição, quando a lã de seus
carneiros ia para as indústrias de Flandres e da Itália.
* - Adriano
Benayon é doutor em economia pela Universidade de Hamburgo e autor do livro
Globalização versus Desenvolvimento.
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