Coerência técnica e coerência ética
Ao final de mais uma ReaTech (Cascaes, Problemas e soluções técnicas e comportamentais - a XI ReaTech), a décima primeira, saímos convencidos da ausência flagrante de coerência, principalmente da parte de quem tem poder decisório (governo e iniciativa privada).
Uma série de detalhes sutis e outros grosseiros demonstraram o desrespeito ou falta de sensibilidade de muita gente poderosa.
O Brasil e seus gerentes se perderam de “verde e amarelo” entre espertezas, teses e mitos que surgiram com força no cenário internacional e local. O resultado é a pobreza de resultados concretos a favor do povo brasileiro, ou para sermos justos, muito aquém do possível. Pior é a deseducação promovida por organizações que poderiam fazer muito pela educação social.
A ReaTech é uma feira polimórfica, neste ano com aspectos tremendamente positivos após o anúncio do Programa Viver Sem Limites (Governo lança Viver sem Limite, 2011) e outros dedicados à pesquisa e desenvolvimento de soluções a favor da pessoa com deficiência. Finalmente parece que saímos das teorias e discussões semânticas para soluções e projetos mais concretos, sem desprezar algumas cidades que servem de referência positiva.
Durante todos esses anos, no perfeccionismo da burocracia tecnocrática, milhões de brasileiros PcD perderam oportunidades e reduziram expectativas de sucesso em consequência da atuação de chefes de escolas e repartições pouco objetivos. Ainda não aprenderam ou ignoraram de propósito a possibilidade resolver pequenos problemas, importantíssimos para quem dependia deles.
Nossos legisladores, apesar de escalonarem e criarem cronogramas, não tiveram de quem deveria fiscalizar e proteger o povo ações realmente eficazes.
Ganhamos um amontoado de leis e decretos desprezados solenemente diante de outras prioridades. Sempre com desculpas “perfeitas”, (1) não tínhamos (por exemplo) normas técnicas (demoradas, proteladas). O (2) preciosismo exige propostas “bem discutidas” e entre tantas (3) questões “importantes” (de modo geral importadas), a eterna demagogia e a (4) falta de compromisso com a manutenção de bons projetos e serviços.
O dinheiro do contribuinte se perde entre conveniências corporativas e dos interesses dos eternos cartéis empresariais. Os lamentos e esperanças demonstraram inequivocamente como somos excelentes na utilização de palavras difíceis e no desprezo por ações concretas e eficazes. Isso vale para tudo, o resultado é a cachoeira de escândalos que inunda o país, afinal sempre existe um “jeitinho” para resolver problemas complicados.
O que intriga é a nossa desmotivação para lutar.
O trauma dos planos econômicos da década de oitenta fez do brasileiro um ser assustado e passivo. A demonstração monumental disso foi a ausência de reação ao Plano Collor e a entronização da agiotagem como instrumento de combate à inflação.
O contribuinte brasileiro tornou-se avalista de banqueiros que, além disso, jogavam no famoso spread qualquer risco e muito lucro. Um tremendo cartel que levou montanhas de dinheiro de nosso povo e fez muita falta. Essa era uma estratégia oficial, tanto assim que nossos bancos estatais, talvez à exceção do BNDES, aproveitavam a onda para acumularem lucros imorais.
Evidentemente houveram outros quem lucraram muito com isso. Lojas de varejo, por exemplo, ganhavam mais financiando fregueses do que simplesmente vendendo e recebendo o que deveria ser a preço justo.
O suprassumo do absurdo era o empréstimo consignado, com taxas que se somavam gerando custos indecentes e sem riscos para o agente que fazia a intermediação.
Felizmente e finalmente temos um Presidente, ou melhor, Presidenta (grafia certa ou errada, não importa) que domina esse assunto. Com uma equipe criteriosamente escolhida (anjinhos ou não, melhor ainda, gente que sabe das coisas) mostra coragem e determinação de mudar tudo isso, mais ainda quando, diante dos problemas do Velho Mundo e outros mais novos, ouviu gracejos quando reclamou do tsunami monetário em direção ao Brasil. Talvez essa “ofensa alemã” tenha sido a gota d’água nas dúvidas governamentais.
Além disso, o que não é pouco, é bom sentir que o Governo Federal aprimora programas importantes ao Brasil e, pasmem-se, acorda para a importância de micro empresa.
As novidades são tantas que ficamos até aturdidos.
As armadilhas também aparecem. O corporativismo sente-se extremamente forte assim como alguns cartéis empresariais, que precisam de apoio para crescer. Assusta-nos o retorno ao protecionismo desinteligente que nos levou a situações absurdas nas décadas de setenta e oitenta do século passado. Tudo indica que não repetiremos o radicalismo daquela época.
Neste cenário precisamos de coerência ética de modo a seguir um rumo lógico e descolado de grupos de pressão que atrapalharam demais o povo brasileiro que quer ter e merece uma vida honesta.
E a coerência técnica?
A ReaTech mais uma vez demonstrou nosso atraso monumental. Há muito a ser feito, inclusive na cidade sede deste evento. São Paulo deveria ser um bom exemplo. Parece que o atendimento ao idoso, à pessoa com deficiência e outras dependentes de atenção especial já não é prioridade, basta ver o caminho entre o terminal Jabaquara e o ponto de embarque para a feira Reatech (Cascaes, Ironia, desprezo ou desatenção em São Paulo, 2012), que trajeto tenebroso para pedestres...
A reurbanização inclusiva (Cascaes, Reurbanização Inclusiva), muito bem exposta por nossos paranaenses (Cascaes, 2011), é fundamental à vida urbana com dignidade. No Nordeste sentimos (estivemos em Natal nesse mês), por exemplo, que esse já foi um tema significativo naquela bela cidade e outras próximas. Não podemos perder esse tema de vista, pois com ele, além de questões tão importantes quanto a Tecnologia Assistiva (Centro Nacional de Referência em Tecnologia Assistiva: Ministra Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, visita CTI Renato Archer), podemos priorizar e fazer muito. O fundamental é a coerência, a manutenção de governo a governo de modo a que seja uma rotina e forma de ser de nosso povo. Para que isso aconteça devemos multiplicar eventos tipo ReaTech ou similares, pois o maior desafio é educar nosso povo dentro de um novo compromisso ético com bons padrões técnicos.
Perdemos na Engenharia, esquecemos a ética, ou seja, há muito a ser feito na recuperação do povo brasileiro.
Cascaes
16.4.2012
Governo lança Viver sem Limite. (17 de 11 de 2011). Fonte: Presidência - Casa Civil: http://www.casacivil.gov.br/noticias/2011/11/governo-lanca-viver-sem-limite
Cascaes, J. C. (s.d.). Fonte: Reurbanização Inclusiva: http://reurbanizacao-inclusiva.blogspot.com.br/
Cascaes, J. C. (5 de 11 de 2011). Reurbanização Inclusiva – RI – Uma revolução positiva. Fonte: Paraná Político: http://pp1-mirantedoaprendiz.blogspot.com/2011/11/reurbanizacao-inclusiva-ri-uma.html
Cascaes, J. C. (15 de 4 de 2012). Ironia, desprezo ou desatenção em São Paulo. Fonte: Cidade do Pedestre: http://cidadedopedestre.blogspot.com.br/2012/04/ironia-desprezo-ou-desatencao-em-sao.html
Cascaes, J. C. (s.d.). Problemas e soluções técnicas e comportamentais - a XI ReaTech. Fonte: Direitos das Pessoas com Deficiência: http://direitodaspessoasdeficientes.blogspot.com.br/2012/04/problemas-e-solucoes-tecnicas-e.html
Centro Nacional de Referência em Tecnologia Assistiva: Ministra Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, visita CTI Renato Archer. (s.d.). Acesso em 6 de 4 de 2012, disponível em Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer: http://www.cti.gov.br/index.php/noticias/890-centro-nacional-de-referencia-em-tecnologia-assistiva-ministra-maria-do-rosario-da-secretaria-de-direitos-humanos-da-presidencia-da-republica-visita-cti-renato-archer-.html