De: Adriano
Benayon [mailto:abenayon.df@gmail.com]
Enviada em: quarta-feira, 26 de setembro de 2012 06:58
Para: 'giovanni sbrocca'
Assunto: artigo: A depressão mundial e o Brasil
Enviada em: quarta-feira, 26 de setembro de 2012 06:58
Para: 'giovanni sbrocca'
Assunto: artigo: A depressão mundial e o Brasil
A depressão mundial e
o Brasil
Adriano Benayon * -
24.09.2012
Desta vez, abordemos
trágicos aniversários no âmbito mundial, começando por agosto de 1979,
quando Paul Volcker foi nomeado presidente do Federal Reserve dos EUA – FED, a
instituição privada dos bancos da oligarquia, que exerce o poder, como banco
central.
2. Logo em outubro,
a taxa de juros (prime rate) nos EUA foi dobrada para acima de 20% aa. Assim,
acelerou-se a crise da dívida latino-americana, eclodida em 1982, levando o
Brasil, até hoje, a pagar juros e amortizações, em montantes
insuportáveis. Ademais, a dívida serviu de pretexto para privatizar de graça
inestimáveis patrimônios das estatais e do Estado.
3. A recessão nos EUA
fez o rendimento familiar médio de 1981 a 1983 ser o mais baixo dos anos 60 até
o presente.
4. Vendo-se
desimpedida com a dissolução da União Soviética, a oligarquia anglo-americana
- cujas agressões militares não cessam - empreendeu, desde agosto
de 1990, com aliados e satélites da OTAN, a devastação do Iraque” a bombas
de urânio.
5. Para a queda da
União Soviética muito contribuiu a Al Qaeda, organização terrorista islâmica
patrocinada pelos EUA através do serviço secreto paquistanês.
6. Em 11 de
setembro de 2001, atribuíram à Al Qaeda ter destruído as Torres
Gêmeas em Nova York, na realidade implodidas por serviços do governo
estadunidense, a fim de, entre outros objetivos, justificar nova sequência de
intervenções armadas no Oriente Médio, visando controlar mais petróleo e
assegurar a sobrevida do dólar como divisa internacional.
7. De fato, o
inflacionado dólar depende de serem liquidadas nessa moeda as importações de
petróleo, a principal mercadoria do comércio mundial. Mas qual é a
relação da escalada militar com a depressão que assola EUA, Europa, Japão e
outros?
8. O eminente Paul C.
Roberts, no artigo “Revolução vinda de cima”, de 12.09.2012, mostra que os
povos foram reduzidos à servidão e resume: “a maioria dos americanos não
pode pagar por guerras de muitos trilhões de dólares durante 11 anos, cobrir
trilhões de dólares de apostas de cassino, praticadas em Wall Street, ter
seus empregos de classe média exportados pelas transnacionais (corporations), e
ainda esperar renda mais alta.”
9. A depressão
econômica é a única coisa que poderia ter resultado da concentração de renda,
fomentada pelos governos, ao permitirem tudo aos banqueiros, financeirizando a
economia e facilitando a movimentação dos capitais inclusive para os paraísos
fiscais, além de reduzir os impostos das transnacionais e dos super-ricos.
10. Daí outro aniversário
(setembro de 2008), o da falência do banco de investimento Lehman Brothers,
marco do colapso financeiro em curso.
11. O notável
economista Michael Hudson (entrevista a K. Fitzgerald, em 17.09.2012) aponta: “O
que se tem na Europa e em outros países neoliberais é loucura, encolhimento
econômico, emigração, vida mais curta, taxas decrescentes de formação de
famílias, taxas crescentes de doenças e de suicídios. Esse é o plano neoliberal
de Chicago chamado ‘mercados livres’ ”.
12. A análise de
Hudson ajuda a verificar que, estando a grande maioria dos cidadãos em declínio
econômico e endividada, os trilhões de dólares que o FED injeta nos bancos de
nada servem para dinamizar a economia, pois a procura dos consumidores é
decrescente e falta demanda para investimentos produtivos.
13. Como lembra
Hudson, criar crédito implica criar dívidas, e as dívidas são o problema: “Criando
ainda mais dívidas não se resolve o problema da deflação decorrente das
dívidas, nem a bolha da economia.” Mais: “Os bancos não dão empréstimos
para construir fábricas e empregar gente, mas sim a piratas corporativos para
comprar empresas, demitir trabalhadores, contratar não-sindicalizados e no
exterior, e fazer encolher a economia.”
14. Os banqueiros e
seus grandes clientes aplicam os trilhões de capital, recebido do FED a juros
quase zero, em títulos do Tesouro dos EUA, ganhando juros, e no exterior, por
exemplo, Brasil, a juros de dois dígitos, e na Europa endividada, a taxas
crescentes.
15. Eis, nas palavras
de Hudson, a atitude dos banqueiros: “Quando os países ficam quebrados pelo
encolhimento de suas economias, nós lhe dizemos: ‘privatizem suas propriedades,
seu subsolo, os recursos naturais, privatizem seus sistemas telefônicos etc.;
vendam-nos tudo, para que criemos monopólios e peguemos o dinheiro para nós
mesmos.’ ...Por isso não queremos que vocês façam o que fazem os países
civilizados: criar seu próprio dinheiro e administrar déficits governamentais.”
16. Vê-se, pois, que o
desastre promovido, de há muito, no Brasil ganha corpo nos EUA,
especialmente em Estados, cidades e condados, bem como na maioria dos países
europeus.
17. A maioria dos
economistas julga que haverá queda significativa também na China. Entretanto,
os dirigentes chineses estão reorientando a economia para o mercado interno e
elevarão ainda mais os padrões de vida locais, pondo-se a salvo dos efeitos da crise
mundial.
18. Procedem assim,
porque não são controlados por banqueiros privados nem pela oligarquia
ocidental. Por isso, trabalham na estrutura econômica. Não são crentes
das políticas macroeconômicas keynesianas.
19. Essas panaceias do
Ocidente são impotentes para debelar a depressão, porque o sistema de poder
quer reforçar a tendência estrutural de maior concentração, o mesmo fator que
determinou a intratável questão das dívidas.
20. Nos EUA, premidos
pela profundidade da depressão, o FED, mais uma vez (setembro de 2012), recorre
à expansão monetária. Vai resgatar de títulos do Tesouro e títulos
hipotecários, estes no montante de US$ 40 bilhões por mês (Que mensalão!).
21. Assim, sobem as
cotações das ações na Bolsa de Nova York e alimenta-se a procura especulativa
por commodities, mas tudo isso está fadado a ruir abruptamente, logo que
a depressão não possa ser mais camuflada.
Efeitos para o Brasil
22. O modelo dependente, através do qual as transnacionais se
apoderaram da economia, causou deterioração estrutural. De sobra, deixa o país
endividado (a dívida interna, em boa parte, está nas mãos de estrangeiros) e no
limiar da crise nas contas externas.
23. Essa se aproxima com o esmorecer da procura mundial e da
valorização dos minérios, processados ou não, o que eleva o insustentável
déficit nas transações correntes com o exterior.
24. A crise no Brasil tende a inverter o fluxo de investimentos
estrangeiros, os quais têm equilibrado o balanço de pagamentos, de modo nada
salutar. Fator adicional de desequilíbrio é o aumento das taxas de juros das
dívidas interna e externa, cujos montantes somam cerca de US$ 2 trilhões.
25. A atual política de investimentos, através de parcerias
público-privadas e de financiamentos do BNDEs está criando elefantes brancos,
cuja produção, uma vez concretizada, tende a causar prejuízos ao erário
público, porquanto encontrará estagnados o mercado interno e a procura
externa.
26. Não há, portanto, saída viável para o Brasil sem
confrontação com as entidades predadoras conhecidas como “comunidade financeira
internacional”, não só envolvendo auditoria da dívida e a supressão da
indevida, mas também intervenção estatal na estrutura produtiva para
acabar com a concentração em mãos de carteis transnacionais.
27. Esse indispensável curso de ação, embora doloroso nos
estágios iniciais, resultaria em ganhos inestimáveis, inclusive porque não
haveria maneira de levá-lo adiante sem gerar tecnologia nacional para produzir
os bens de capitais e os insumos necessários ao reerguimento da economia.
28. De fato, mesmo excluindo retaliações dos países imperiais, o
Brasil estará, de qualquer modo, impossibilitado de importar esses bens, em
face do que apontei nos parágrafos 22 a 24.
* - Adriano Benayon é doutor em economia e autor de Globalização
versus Desenvolvimento.