De: Adriano Benayon [mailto:abenayon.df@gmail.com]
Enviada em: segunda-feira, 24 de novembro de 2014 17:09
Para:
Assunto: artigo:Golpe, modelo e dívida
Enviada em: segunda-feira, 24 de novembro de 2014 17:09
Para:
Assunto: artigo:Golpe, modelo e dívida
Assista à palestra "O modelo pró-imperial e o
endividamento". https://www.youtube.com/watch?v=wmL_-N0_sbk
Enviando artigo, com cumprimentos.
Golpe, modelo e dívida
Adriano Benayon
O Brasil vive momento grave, com a grande mídia, pedindo
golpe de Estado para derrubar a presidenta recém-reeleita.
2. Os golpes em nosso País são recorrentes, e já houve
muitos além dos mais conhecidos, que são os de caráter
predominantemente militar: 1937, 1945, 1954, 1961 e 1964.
3. O jornalista Luiz Adolfo Pinheiro intitulou seu bom
livro, “A República dos Golpes”, publicado em 1993, que abrange somente os anos
de Jânio Quadros a Sarney.
4. Não só no Brasil historicamente, mas cada vez mais no
mundo atual, os instrumentos principais dos golpes inspirados pelas potências
imperiais têm sido instituições civis, como o legislativo e o judiciário.
5. Foi no âmbito da polícia civil que se articulou a
conspiração concluída na área militar, que depôs o presidente Vargas em 1954.
6. A famigerada, desde o Estado Novo, Delegacia de
Ordem Política e Social – DOPS, chefiada pelo simpatizante nazista, Cecil
Borer, foi que armou o atentado da rua Tonelero, envolvendo a guarda pessoal do
presidente e a ela atribuindo o crime.
7. O alvo era o próprio major Vaz, para acender a
revolta Aeronáutica e na opinião pública, e não, Carlos Lacerda, o encarniçado
adversário de Vargas, com o simulado e inexistente tiro em seu pé.
8. Por que a DOPS? No auge da Guerra Fria, os nazistas e
simpatizantes foram recrutados em massa pelos serviços secretos das potências
angloamericanas, para reprimir os “comunistas”, rótulo ao qual buscavam
associar todos os que, como os nacionalistas, desagradassem àquelas potências.
9. Voltemos a 2014: no período eleitoral, delegados da
polícia federal, a que se atribui serem simpáticos ao PSDB, vazaram
informações do inquérito (operação Lavajato), em que investigam irregularidades
em contratos entre a Petrobrás e grandes empreiteiras de obras de
infra-estrutura.
10. Há poucos dias, acabam de prender executivos dessas
empreiteiras, as quais, além de atingidas pelo escândalo, com repercussões
sobre futuras contratações, serão provavelmente condenadas ao pagamento de
pesadas multas.
11. Desavisados moralistas exultam com essa suposta
demonstração de que as instituições do País estejam combatendo
eficientemente a corrupção. O PT louva a presidenta por ter sancionado nova
lei, que permite agir também contra os corruptores.
12. O povo ilude-se e acredita que seja isso mesmo que
está em causa. Desconhece a natureza do jogo prevalecente nas altas
esferas do poder, notadamente as do poder mundial. Para isso concorre o tsunami
de ignorância gerado pelos investimentos que nela faz a oligarquia
concentradora transnacional, há um século.
13. A mega-corrupção exercida por essa oligarquia
coopta colaboradores em todas as estruturas econômicas e institucionais
e, ironicamente, usa, a seu serviço, a corrupção
derivada, a de menor porte, aumentada inclusive em decorrência do investimento
na anticultura e na destruição dos valores éticos.
14. É essa, a derivada a que aparece, quando sua
exposição serve aos objetivos da estratégia imperial, produzindo grande comoção
em amplos segmentos da população e desviando o foco dos reais problemas e de
suas fontes geradoras.
15. Sem acesso às informações sobre como a oligarquia
financeira envolve os poderes constituídos do Estado, infiltrados por seus
interesses, o povo concentra seu ódio sobre os corruptos expostos pela
corruptíssima grande mídia. Deveria desconfiar de que, se são expostos, é
porque são os que estão causando menor dano ao País.
16. Por que as grandes empreiteiras estão sob o fogo da
repressão? Elas constituem o principal núcleo de poder econômico no País que
ainda não foi controlado pelo capital estrangeiro. São exportadoras de
serviços, ocupam pessoal qualificado e se tornaram conglomerados, que investem
até mesmo em tecnologia de uso militar.
17. Ademais, o escândalo que domina as atenções envolve
também a principal estatal do País, ou seja, uma das poucas empresas gigantes
sob controle nacional, apesar de infiltrada por quadros ligados às
transnacionais do setor e a bancos da oligarquia financeira angloamericana.
17. Para fechar, convém ter presente a penetração de
ideias e a cooptação por parte de entidades estrangeiras na Polícia Federal,
notória desde que a Delegacia Antitóxicos recebe ajuda de sua congênere
norte-americana.
18. Não se deveria tampouco ignorar a política das
numerosas agências de inteligência dos EUA de atrair as simpatias de quadros
das instituições-chave do País, como a Polícia Federal.
19. O foco na corrupção, ignorando a fonte da
mega-corrupção, é instrumento do poder oligárquico mundial. Em
geral, estão alinhados com este, os que mais gritam contra a corrupção.
20. Um dos fatos fundamentais obliterados é que, no
âmbito dos carteis financeiros e econômicos, a ética pode ser tema de discurso,
mas não faz parte do objetivo central, o poder, nem do objetivo imediato, o
lucro, independentemente de como seja obtido.
21. Expor as reais razões do escândalo das relações
entre grandes empreiteiras e a Petrobrás não é dizer que nelas houve corrupção.
Isso, porém, está sendo usado para favorecer grupos transnacionais,
tradicionais comitentes de n tipos de corrupção.
22. Entre eles, os permitidos pelas leis e políticas
impostas aos países, tais como tolerar as práticas monopolistas e demais formas
de abuso do poder econômico.
23. Não menos danoso para o Brasil é ferir de morte as
empresas privadas e públicas em que se mantém os últimos bastiões de autonomia
tecnológica no País, alvo que é do “apartheid tecnológico”, decorrente de
os carteis transnacionais dominarem o mercado, reforçado por acordos
internacionais, como o TRIPS no âmbito da OMC.
24. Os promotores da desestabilização da presidenta da
República e do golpe em curso são de dois tipos:
a) os colaboradores do sistema
imperial, que nos impõe, desde 1954, o modelo de dependência financeira e
tecnológica, e utilizam hipocritamente o pretexto da moralidade para
desnacionalizar e desindustrializar ainda mais a economia;
b) os enganados pelo alienado discurso
moralista e são arregimentados para solidarizar-se com a repressão destinada a
eliminar as empreiteiras e acabar de desnacionalizar a Petrobrás.
25. Isso não significa que não se deva expurgar a estatal
de seus quadros corruptos. Se isso for feito, como se deve, vai-se notar que a
maior parte deles é ligada a grupos e a interesses das transnacionais
estrangeiras, lá colocados.
26. Isso ocorreu principalmente no governo antipátria de
FHC, e a maior parte dos corruptos permaneceu na Petrobrás e na ANP, nos
governos petistas, conciliadores em relação àqueles grupos. Esse é o caso,
inclusive, do pivô do escândalo, o delator premiado.
27. Enquanto a operação Lavajato ocupa o centro das
atenções, e avança em direção favorável ao objetivo de enfraquecer o já
fragilizado poder econômico nacional, são esquecidas as causas fundamentais
dessa fraqueza.
28. Estas se situam no binômio modelo
pró-imperial-envidamento público. A propósito, o Brasil está com déficit
recorde no balanço de transações correntes com o exterior: US$ 85 bilhões por
ano.
29. Essa sempre foi a causa do crescimento da dívida
externa, desde que JK (1956-1960) aplicou a política entreguista do golpe
udenista-militar de 1954, que cumulou de favores os carteis transnacionais para
monopolizarem os mercados industriais do País.
30. A dívida externa ascendeu a U$ 541,42 bilhões,
em agosto último (R$ 1,4 trilhão, ao câmbio atual). A dívida pública interna, a
R$ 3,067 trilhão.
31. O serviço da dívida (juros e amortizações) consome
42% das despesas da União, e realimenta-se com as taxas de juros
absurdamente altas e que, por isso, não podem ser pagas só com recursos dos
tributos.
32. A parte do serviço da dívida que o Tesouro paga com
as receitas corresponde ao “superávit primário”. Elaborei uma tabela, no
programa Excel, lançando o montante da dívida pública interna em
1994, e taxa de juros de 3% aa.
33. Por que 3% aa.? Essa taxa supera a de muitos
países, e não há base para a ideia, sempre impingida ao público, de que se têm
de combater a inflação com juros elevados.
34. No Brasil, os preços são altíssimos, porque os
carteis impõem os que desejam, mais ainda que em outros países. Fosse outra a
política, a inflação seria moderada, e não ficaria ao sabor de farsas, como a
do Plano Real.
35. Além dos juros 3% aa., inseri na tabela os montantes
do superávit primário, para resgatar dívida, implicando que não haveria
novas emissões de títulos para isso.
36. Resultado: mesmo sem superávit primário de 1995
a 1997, pois ele só ocorreu em 1994 e de 1998 a 2001, a União já teria
eliminado a dívida interna, e sobrariam R$ 22 bilhões, em 2001.
37. Ora, com as absurdas taxas de juros comandadas pelo
cartel dos bancos e cumpridas pelo BACEN, e, apesar de superávits primários
totalizando, de 2002 a 2013, em valores correntes, R$ 1,082 trilhão, a
dívida interna cresceu para quase R$ 3 trilhões.
* - Adriano Benayon é doutor em economia e
autor do livro Globalização versus Desenvolvimento.