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cumprimentos,
Segue
artigo.
AB
Há
que reverter o rumo da guerra
Adriano
Benayon * - 31.07.2015
Não
se pode mais ter dúvida de que estamos em guerra, nem de que a estamos
perdendo. Onde ela se trava? Obviamente, na economia. A inflação está em alta,
e os juros na estratosfera são arma, não de defesa contra a inflação, mas, sim,
de destruição em massa da economia.
2.
A enorme desvalorização cambial, com o dólar a mais de R$ 3,40, mostra a
dimensão do descalabro, pois, em qualquer economia não corroída, altas taxas de
juros implicariam valorização cambial.
3.
O bombardeio destrutivo é lançado, não diretamente pelo inimigo, mas pela 5ª
coluna a serviço deste. É ela que decreta as taxas de juros absurdas e,
através delas, a falência múltipla do País, com a colossal dívida interna.
4.
A desnacionalização da indústria, acelerada desde 1955, já levara
ao saqueio do País nos anos 90, por meio das privatizações, e o
pretexto para isso foi a dívida externa, completamente fora de controle já
em 1982. A origem foram as transferências das transnacionais
e o consequente acúmulo de déficits com o exterior.
5.
A essa altura as potências imperiais não precisavam mais do regime militar,
cuja política financeira era submissa ao sistema financeiro “internacional”,
mas tinha bolsões nacionalistas. Aproveitaram os anseios democratizantes da
maioria da nação e comandaram a formação das instituições que viabilizaram
radicalizar a desnacionalização da economia brasileira, inclusive a
Constituição de 1988.
6.
Isso lhes permitiu, paralelamente à pilhagem das privatizações, ir
inflando a gigantesca dívida interna, que agora serve para entabular nova fase
de saqueio acelerado do patrimônio público do País.
7.
Esta fase, tal como a dos anos 90, é movida pela corrupção e pretexta
moralidade para varrer do mapa a Petrobrás, a única mega-estatal, que escapara
de ser totalmente alienada durante a ofensiva entreguista do Executivo
“eleito” após a farsa do Plano Real (1994).
8.
Estão também marcadas para morrer as empresas nacionais de engenharia, o
último bastião estratégico do empresariado nacional dotado de dinamismo
tecnológico.
9.
O Estado brasileiro, dominado por interesses monopolistas dos carteis
transnacionais, ao contrário dos Estados sedes desses carteis, age contra
as empresas controladas por seus nacionais.
10.
É como se empobrecer o País fosse meta constitucional. Visto de outro modo, as
instituições pátrias estão fora do controle do governo.
11.
O sistema da dívida – de há muito montado pelo sistema financeiro mundial
- perpetua e agrava a abissal desigualdade entre as potências centrais e
os países que, como o Brasil, vêm sendo submergidos na periferia.
12.
A partir do colapso financeiro (2007/2008), dos grandes bancos capitaneados
pela oligarquia, ficou ainda mais patente que antes, que eles contam com todo o poder
daquelas potências.
13.
Quando controladores e executivos dos bancos da oligarquia se locupletaram
ainda mais, através de fraudes, e, assim, os abalaram, através dos derivativos,
os governos e as instituições financeiras mundiais os capitalizaram,
dando-lhes dezenas de trilhões de dólares, inclusive novos títulos em troca de
títulos podres.
14.
É diferente em relação aos países marcados para ser vitimados. É guerra,
disfarçada como “austeridade”: programas de demolição econômica prescritos
pelos fraudadores, que nem tomam conhecimento das auditorias de dívida, e os
impõem via terrorismo: não adotar esses programas implica sanções descritas
como letais para os recalcitrantes.
15.
O mais grave é que, nessa guerra, as potências imperiais confiam em seu
poder, e isso não se dá do outro lado. No Brasil, por exemplo, investem,
há mais de um século, na corrupção, desinformação e alienação das classes e
corporações influentes: as forças estão dispersas e falta, mais que tudo, visão estratégica
e até da realidade.
16.
O indispensável conhecimento sobre o adversário, recomendado por Sun Tsu,
exige entender que nada há a ganhar das potências imperiais e
que todo acordo com elas conduz à ruína. Só há esperança sem ele.
17.
Observadores honestos, com experiência em instituições-chave do poder imperial,
confirmam-lhe a estrutura oligárquica e totalitária.
18.
Entre esses, Karen Hudes, durante vinte anos,
assessora jurídica do Banco Mundial. Ela verificou a coesão, regida pelas
famílias dominantes da oligarquia, entre: grandes bancos comerciais e de
investimentos, empresas gigantes, Banco Mundial e FMI, bancos centrais,
coordenados no Banco de Liquidações Internacionais, sediado em Basel, Suíça;
além disso, sua ascendência conjunta sobre os governos.
19.
Hudes não omite a observação essencial, de que a dívida é a ferramenta
principal para escravizar nações e governos. Estas são suas palavras:
"Querem
que sejamos todos escravos da dívida, querem ver todos os nossos Governos
escravos da dívida e que todos os nossos políticos sejam adictos das gigantes
contribuições financeiras que eles canalizam nas suas campanhas. Como a elite
também é dona de todos os principais meios de informação, esses meios nunca
revelarão o segredo de que há algo fundamentalmente errado na maneira como
funciona o nosso sistema”.
20.
Os economistas mais citados e entrevistados pela grande mídia ajudam a fomentar
a falsa crença em que os juros altos e demais instrumentos da
política de arrocho seriam aceitáveis diante da crise, e não,
agravadores dos males estruturais que assolam a economia.
21.
Estarrece-me que os sensatos, que rejeitam a aplicação abusiva de teorias em
contextos diferentes do de seus pressupostos, se limitem a refutá-la
somente à luz da macroeconomia, sem apontar que o Brasil só poderá
ser tirado do pântano através de profundas medidas estruturais,
como as delineadas no artigo “Prosperar ou sucumbir”.
22.
Não me parece razoável, dadas as mazelas do subdesenvolvimento
incorporadas à economia brasileira por obra do modelo dependente, esperar sejam
sanados através da desvalorização cambial os problemas decorrentes da baixa
produtividade, nem que a sobrevalorização do câmbio tenha sido causa primordial
dos desequilíbrios causadores da presente crise.
23.
O País não tem mais setor público nem privado. Ambos têm de ser recriados. O
primeiro, com grandes empresas, sob princípios administrativos baseados no
mérito, e substanciais investimentos em tecnologias para as infraestruturas e
indústrias de base, inclusive no âmbito das Forças Armadas.
24.
Ao lado da fabulosa expansão dos empregos qualificados decorrente disso,
despontará comparável crescimento no setor privado, em que o teste
do mérito tem de ser feito no mercado em estrutura de concorrência.
25.
Quem mostrar qualificações para agir produtivamente e trazendo
tecnologias de interesse nacional e social, terá o financiamento, podendo-se absorver incontáveis técnicos e
empresários brasileiros e até estrangeiros.
26.
Não devem, é claro, ser admitidos carteis das grandes transnacionais, que já
estão aqui na função de parasitas dos sobrepreços aos clientes e dos
subsídios governamentais, além de abusarem do superfaturamento das despesas.
27.
Havendo a desnacionalização feito da indústria um fardo para o País, em lugar
de um ativo - e disso são exemplos as montadoras - é incrível não reconhecer a
necessidade de reformulá-la de modo compatível com o
desenvolvimento econômico e social.
28.
Eliminada a chantagem do sistema da dívida, não haverá problema algum de
recursos financeiros para investir. Basta macroeconomia decente, sem as letais
taxas de juros que os inimigos do País representados por todos os partidos, a
serviço das potências imperiais, infligem ao Tesouro
Nacional.
29.
Se prosseguir o atual andar da carruagem, a situação não demorará a ficar
muitíssimo pior, porque a inércia do subdesenvolvimento é muito maior
aqui, e porque a altura das taxas de juros não tem termo de comparação nem com
as mais absurdas da própria periferia europeia.
30.
Os juros altos são a droga altamente tóxica que o sistema usa para cobrir os
déficits externos, os quais só podem ser afastados (e sem problemas) através
das correções estruturais. Curioso que os críticos, inclusive de esquerda, não
ousem dar um pio a respeito.
* - Adriano
Benayon é doutor em economia pela Universidade de Hamburgo e autor do livro
Globalização versus Desenvolvimento.