De: Adriano
Benayon [mailto:abenayon.df@gmail.com]
Enviada em: domingo, 19 de maio de 2013 19:56
Para: 'Flavio Tavares de Lyra'
Assunto: artigo: Brasil leiloado
Enviada em: domingo, 19 de maio de 2013 19:56
Para: 'Flavio Tavares de Lyra'
Assunto: artigo: Brasil leiloado
Transmito artigo para a
consideração dos prezados correspondentes.
Cordialmente,
AB
Brasil leiloado –
14.05.2013
Adriano Benayon *
1. A 11ª rodada de licitações do
petróleo, hoje, é novo marco na descida do Brasil para a condição de país de
escravos.
2. São 289 blocos, em 11 Estados. As
estimativas indicam que os blocos totalizariam, de 40 a 54 bilhões de barris in
situ. Aplicado o fator de 25%, prevê-se produção de 10 a 13,5 bilhões de
barris.
3. Muitos técnicos julgam provável haver
mais petróleo nesses 289 blocos, todos em áreas fora do pré-sal, nas quais as
reservas provadas até hoje totalizam 14 bilhões de barris.
4. A Agência Nacional (???)
do Petróleo (ANP) declarou que nos blocos licitados deverão ser descobertos 19,1
bilhões de barris de petróleo e gás, que serão exportados. O
valor, na cotação atual, é US$ 2 trilhões.
5. Conforme a Lei 9.478/1997, outro marco
da escravidão, ficaremos com royalties de 10% desse montante. Na média,
os países produtores de petróleo recebem das transnacionais 80% do valor
das receitas.
6. Peritos, como Fernando Siqueira e
Paulo Metri, vão ao ponto: “a pergunta óbvia é ‘quem definiu que a
exportação desse petróleo é a melhor opção para o Brasil’?”
7. Com a concessão de 30 anos para
a exploração, a ANP espera arrecadar R$ 1 bilhão (0,25% do valor dos blocos),
quantia insuficiente para reformar um estádio para a Copa, lembra o
químico Roldão Simas.
9. Na maioria dos países exportadores,
suas empresas não dispõem de tecnologia para produzir petróleo. Por isso,
necessitam recorrer às petroleiras transnacionais para extrair o petróleo do
subsolo.
10. Nesses países as economias são pouco
industrializadas. Faltam terras agricultáveis e suficiente dotação de água.
Portanto, precisam exportar petróleo para importar alimentos, bens de consumo,
equipamentos, serviços etc. Não é o caso do Brasil, cujo interesse é
preservar esse recurso estratégico, tendente à escassez.
11. As petroleiras transnacionais vão
importar equipamentos, componentes, insumos e serviços técnicos. Vão
superfaturar os preços dessas importações e subfaturar os da exportação, além
de omitir as reais quantidades exportadas.
12. Ademais, remeterão lucros oficiais e
disfarçados. Assim, no líquido, resultará pouca ou nenhuma melhora
do saldo das transações correntes, cujo déficit no Brasil, em aceleração, já é
dos mais altos do mundo, em decorrência principalmente da desindustrialização e
da desnacionalização da economia.
13. Então para que doar um recurso
valioso e estratégico, depauperando as reservas (mineral não dá duas safras),
em troca de royalties de apenas 1/10 das receitas da exportação declarada pelas
transnacionais.
14. Que motivos, pois, afora abissal
incompetência e/ou extrema corrupção, fariam as “autoridades responsáveis”,
presentear as empresas estrangeiras com 90% das receitas? Trata-se de
negócio ou de negociata?
15. Ainda por cima, a Lei Kandir,
outro marco da escravidão, isenta a exportação de minérios de ICMS,
PIS/Cofins e CIDE, cuja arrecadação propiciaria 30% das receitas.
16. Então, para que exportar petróleo
bruto, com baixo valor agregado? E por que não investir no refino e na
petroquímica, para o mercado interno e para exportação?
17. Não faltam recursos públicos para
financiar investimentos da Petrobrás (que os está buscando no exterior: mais
endividamento). Porém, além de não os prover, o governo federal a
descapitaliza, forçando-a importar derivados e a vendê-los aqui por preço
igual ao da produção interna, congelado, por alguns anos, para deter a
inflação.
18. Assim, a política entreguista leva a
Petrobrás a reduzir, em relação às rodadas anteriores, a proporção de blocos
que vai adquirir. Desta vez, ela se est, em geral, associando às estrangeiras.
19. A ANP ignora deliberadamente o desastre causado pela transnacional estadunidense Chevron. em novembro de 2011 (poço de Campo do Frade, na Bacia de Campos). Ora, a própria ANP, reconheceu que o brutal vazamento de 3.700 barris de óleo poderia ter sido evitado, se a Chevron tivesse observado as regras de segurança.
20. Os impactos ambientais e sociais altamente danosos, ligados à exploração de petróleo, impeliram organizações da sociedade civil a requerer ao Judiciário a suspensão da 11ª Rodada.
19. A ANP ignora deliberadamente o desastre causado pela transnacional estadunidense Chevron. em novembro de 2011 (poço de Campo do Frade, na Bacia de Campos). Ora, a própria ANP, reconheceu que o brutal vazamento de 3.700 barris de óleo poderia ter sido evitado, se a Chevron tivesse observado as regras de segurança.
20. Os impactos ambientais e sociais altamente danosos, ligados à exploração de petróleo, impeliram organizações da sociedade civil a requerer ao Judiciário a suspensão da 11ª Rodada.
21. A pressão da sociedade terá de
ser forte, ir além das manifestações, haja vista o histórico do Judiciário,
semelhante aos do Executivo e do Legislativo. E, se não se detiver a fúria
entreguista, a ANP, esta fará, ainda este ano, leilão para a área do Pré-Sal,
além da 12ª rodada para outras áreas.
22.
Uma das muitas ações ajuizadas, em 1997, para anular o leilão de privatização
da Vale do Rio Doce, teve ganho de causa, em 2005, na 2ª instância, havendo o
Tribunal Regional Federal de Brasília declarado fraudulento o leilão e anulado
a privatização. Mas o BRADESCO recorreu, e, até hoje, o processo segue
engavetado no STJ.
23.
De resto, os leilões são inconstitucionais, porquanto a Constituição de
1988 prescreve que o petróleo pertence à União, e não há norma explícita na CF
quanto a concessões em matéria de petróleo.
24.
Prejuízos adicionais para o País decorrem de as multinacionais usarem
mão-de-obra terceirizada e padrões de emprego inferiores aos da
Petrobrás. Isso implica ínfima geração de renda para brasileiros e maior
risco de acidentes e mortes.
25.
Fala-se de 47 empresas estrangeiras habilitadas para o leilão e de 17
brasileiras, na maioria, dirigidas por testas-de-ferro.
26.
Assinala Fernando Siqueira: “Além do cartel internacional, vão participar
dos leilões as estrangeiras da Associação dos Produtores Independentes do
Petróleo, formada por 18 empresas. Destas 14 são multinacionais,
inclusive a El Paso, uma das sete irmãs.
27.
Paulo Metri: “As empresas estrangeiras não querem construir refinarias no
Brasil para exportarem derivados. Querem declaradamente exportar petróleo in
natura.”
28.
Ele esclarece que os blocos marítimos se têm mostrado os mais produtivos
e os que exigem mais investimentos, 80% dos quais são para as plataformas.
29.
Ainda Metri: “A 1ª rodada aconteceu em 1999 e, desde então, empresas
estrangeiras arrematam blocos e nunca compram plataformas no Brasil.
Tampouco encomendam desenvolvimento tecnológico aqui. Só quem compra plataforma
e desenvolve tecnologia no Brasil é a Petrobras. A maior parte da geração
de empregos se dá com a encomenda da plataforma. Quem aqui não compra, quase
não gera emprego.
30. A Associação dos
Engenheiros da Petrobrás (AEPET) esclarece que essa é a única
empresa que maximiza a compra materiais e equipamentos no País, propicia o
desenvolvimento tecnológico e contrata técnicos brasileiros.
31. Ademais, segundo a AEPET, além de os blocos ora licitados terem sido descobertos pela Petrobrás, também o foram os do pré-sal.
32. Após o entreguismo monolítico do período FHC, em que, inclusive foi criada a ANP, e nela instalados diretoria e quadros técnicos, vinculados à oligarquia financeira anglo-americana, o geólogo Guilherme Estrela foi nomeado diretor de exploração da Petrobrás no governo Lula.
33. Então foram descobertos, de janeiro a agosto de 2003, 6 bilhões de barris dos 14 bilhões das reservas provadas atuais. Estrela reativou também o grupo de pesquisadores do pré-sal, e, em 2006, teve início a perfuração nessa província, com êxito em 2007, obtendo-se reserva de mais de 100 bilhões de barris.
31. Ademais, segundo a AEPET, além de os blocos ora licitados terem sido descobertos pela Petrobrás, também o foram os do pré-sal.
32. Após o entreguismo monolítico do período FHC, em que, inclusive foi criada a ANP, e nela instalados diretoria e quadros técnicos, vinculados à oligarquia financeira anglo-americana, o geólogo Guilherme Estrela foi nomeado diretor de exploração da Petrobrás no governo Lula.
33. Então foram descobertos, de janeiro a agosto de 2003, 6 bilhões de barris dos 14 bilhões das reservas provadas atuais. Estrela reativou também o grupo de pesquisadores do pré-sal, e, em 2006, teve início a perfuração nessa província, com êxito em 2007, obtendo-se reserva de mais de 100 bilhões de barris.
34. Lula fizera aprovar a Lei
12351/2010 para capitalizar a Petrobrás através de cessão onerosa, através da
qual a União cedeu um conjunto de blocos onde se esperava encontrar 5
bilhões de barris. A Petrobras pagou com títulos do Governo, e este comprou
ações da Petrobrás com esses títulos.
35. A Petrobrás então
descobriu o campo de Franco, com reservas de 6 a 9 bilhões de barris e o de
Libra, onde há reserva de 15 bilhões de barris. Conforme a nova lei, a ANP pode
contratar com a Petrobrás, sem licitação, a exploração das áreas consideradas
estratégicas.
36. Entretanto, intervindo,
mais uma vez, contra o Brasil, a ANP retirou o campo de Libra
da cessão onerosa à Petrobrás e quer leiloá-lo. Segundo Siqueira, a diretora da
ANP, perguntada sobre as razões disso, não respondeu e diz que esse bloco será
“o grande atrativo” do próximo leilão.
37. As potências imperiais,
com suas fundações e instituições e com as locais, igualmente movidas a
dinheiro, têm incutido na maioria dos brasileiros a mentalidade dos escravos,
inclusive através da destruição dos valores, da educação e da cultura,
enquanto os acostuma a tolerar condições cada vez mais degradantes de vida.
38. Isso ocorre de forma
intensa e crescente, desde agosto de 1954. Assim, o desafio para quem deseja
dignidade para si e para seus compatriotas, é desenraizar aquela mentalidade.
Isso exige grandes e persistentes esforços, e tem de ser feito em menos tempo
que os 40 anos passados por Moisés, no deserto, a transformar a mente de
seus seguidores.
* - Adriano Benayon é doutor em economia e autor do livro
Globalização versus Desenvolvimento.