terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Por uma Democratização da Ciência e da Tecnologia

Por uma Democratização da Ciência e da Tecnologia
Associação Brasileira de Estudos Sociais das Ciências e das Tecnologias
O Simpósio Nacional de Tecnologia e Sociedade- V TECSOC-ESOCITE.BR, em sua quinta edição, organizada pelo Programa de Pós-Graduação em Tecnologia da UTFPR e pela Associação Brasileira de Estudos Sociais das Ciências e das Tecnologias (ESOCITE.BR), em Outubro de 2013, girou em torno da indagação: Outro Desenvolvimento é Possível? Ciência, Tecnologia e Cultura.
As discussões realizadas mostraram uma convergência dos 500 pesquisadores dos Estudos Sociais das Ciências e das Tecnologias ali reunidos, em torno de algumas ideias-força: O desenvolvimento deve ser:
(a) social e caracterizado pela busca por práticas sócio-técnicas inclusivas;
(b) problematizado em suas muitas faces e contradições socioculturais;
(c) ambientalmente sustentável e contraposto à insustentabilidade provocada pelo capital;
(d) baseado em práticas científicas e tecnológicas solidárias e igualitárias enraizadas nos movimentos sociais.

Entendendo que o desenvolvimento que desejamos depende da formulação, implementação e avaliação de novos tipos de políticas científicas e tecnológicas coerentes com essas ideias-força gerais, oriundas das práticas acadêmicas e sociais desse coletivo, a ESOCITE.BR, através da sua Diretoria e Conselho Deliberativo, resolveu dar início a um processo de debate, sensibilização e mobilização dos atores sociais envolvidos com essas políticas visando à construção de uma visão crítica sobre as relações entre ciência, tecnologia e sociedade fundamentadas no questionamento de pressupostos deterministas e de neutralidade axiológica da ciência e da tecnologia.
Desta forma, ressaltamos os seguintes pontos para o debate:
  • A importância do potencial tecnocientífico na alavancagem de estilos de desenvolvimento mais justos e igualitários;
  • A importância de fazer com que as políticas públicas incorporem a dimensão tecnocientífica como potencializadora da sua efetiva implementação;
  • A necessidade de reforçar, no âmbito das Políticas Científicas, Tecnológicas e de Inovação(PCTI), o estímulo aos agentes interessados no novo estilo de produção, consumo e transformação (como os empreendimentos econômicos solidários) e ao desenvolvimento de soluções tecnocientíficas adequadas (Tecnologia Social);
  • A necessidade de fomentar o debate junto a atores envolvidos nas PCTI, ou afetados por elas, em particular a comunidade de pesquisa, acerca de aspectos que deveriam levar à sua profunda revisão como a baixa responsividade das empresas e a necessidade de estimular novos agentes tecno-produtivos;
  • A baixa efetividade das atuais PCTI no cumprimento de seus objetivos centrais de alterar as dinâmicas inovativas de empresas e organizações no sentido de aumentar suas propensões para realizar atividades de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) e inovar;
  • A baixa responsividade das empresas brasileiras à PCTI, já indicada pelos fundadores do Pensamento Latino-americano em Ciência, Tecnologia e Sociedade (PLACTS) e outros pensadores e intelectuais, e comprovada por indicadores oficiais, como os disponibilizados pela Pesquisa de Inovação (PINTEC) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), etc.;
  • A necessidade de discutir as agendas de pesquisa, transformação social e inovação, no sentido de torná-las mais aderentes ao processo de democratização em curso no País;
  • A necessidade de fomentar uma maior inserção dos Estudos Sociais das Ciências, Tecnologias e Sociedades (ESCTS) nos diversos níveis e modalidades de ensino nas instituições educacionais brasileiras, formais e não formais, por meio da organização de eventos, introdução de disciplinas a eles relacionadas, organização e disponibilização de recursos bibliográficos e educacionais, fomento à contínua problematização e transformação curricular e outras ações interdisciplinares e interinstitucionais, a começar pelas universidades;
  • A inserção e consolidação em nossas reflexões e práticas das dimensões associadas às relações culturais, axiológicas, étnicas e raciais, de classe, gênero e ambientais presentes nos processos de transformação tecnocientíficos;
  • A necessidade de reconhecer e compreender em saberes e fazeres tecnocientíficos, inclusive aqueles cotidianos, muitas vezes perpassados por processos históricos de sujeição, subalternidade e invisibilidade, as implicações e os desdobramentos de fatores associados à produção, ao consumo, à regulação, à representação e à construção de identidades direta ou indiretamente associados às ciências e às tecnologias;
  • A necessidade de combater as visões hierarquizantes, autoritárias, preconceituosas, de ciência e tecnologia, valorizando e interagindo com os conhecimentos plurais, produzidos por trabalhadores e trabalhadoras, por comunidades tradicionalmente excluídas (indígenas, remanescentes de quilombolas) etc.
Associação Brasileira de Estudos Sociais das Ciências e das Tecnologias, ESOCITE.BR,

Dezembro de 2013.

Nenhum comentário:

Postar um comentário