terça-feira, 9 de abril de 2013

Tomate caro


Os especuladores (políticos, banqueiros, atravessadores etc.) adoram a inflação
Em minha infância, tendo pais extremamente trabalhadores e responsáveis, passei anos ouvindo deles o que estava na hora de consumir, quanto e de que jeito. O preço era alto? Não comprávamos, não consumíamos. Minha mãe era especialista em descobrir alternativas e tinha, inclusive, o cuidado de fazer “conservas” de frutas quando elas estavam sobrando na feira. Não que fôssemos de família pobre, o pai do meu pai podia ajudar seu filho, que, entretanto, era extremamente brioso.
Nosso povo de Santa Catarina à época, gente trabalhadora, lia na Revista O Cruzeiro as mazelas da capital do Brasil, onde todos davam a impressão de quererem explorar quem produzia. Era fácil, em terra de burocratas enxada é ofensa.
Agora o tomate virou notícia. Num período de violências climáticas naturalmente a produção hortigranjeira sofre e perde volume. Os agricultores e mais ainda os atravessadores aproveitam essas oportunidades, pessimamente vigiadas. Quem produz procura compensar prejuízos e talvez ganhar um pouco mais, os demais merecem fiscalização para se evitar abusos.
A inflação veio, voltou graças ao desperdício e incompetência dos planejadores e gerentes de nosso Brasil varonil e pouco racional. Continuamos com fragilidades estruturais enormes, até o risco de um racionamento de energia elétrica assombra o nosso futuro próximo.
Carecemos de lucidez democrática, o que transforma a Copa do Mundo em prioridade capaz até de forçar mudanças em leis sagradas. Um campeonato para quem pode pagar caro é mais importante que a construção e manutenção de escolas, hospitais, creches, estradas, centrais de energia, portos etc. Ou seja, a viabilização do Brasil entrou para segundo plano. Viva, contudo, vai que o Brasil ganha a Copa!
A inflação existe, e as reformas tributárias?
A burocracia absurda e o tratamento ofensivo e humilhante do micro e pequeno empreendedor vão continuar assim até quando? Viva, criaram mais uma repartição em Brasília para tratar disso. Será que nessa capital distante e modernosa entendem disso?
Enquanto estados e municípios dependerem de decisões em nossa Versalhes futurista, onde os eleitos para a Corte se sentem seguros para fazer valer interesses impublicáveis, continuaremos a ser o que somos, parvos pagadores de impostos.
A ignorância no Brasil é tão grande que insistimos na Expressão imprecisa, errada e demagógica: “o governo Paga”.
E o tomate?
Precisamos comer tomates? Com certeza o Brasil, terra fértil e de muitos climas deve ter opções. Precisamos nos alimentar, mas de que jeito? O que os povos mais desenvolvidos aprenderam a duras penas, desenvolver cardápios adequados ao que é possível de ser feito, passa longe de nossa classe média cada vez mais exigente.
Talvez no Brasil a herança dos tempos da antropofagia tenha criado comportamentos camuflados; acreditamos que o certo é matar e jantar (ou, e almoçar) os derrotados. Culturas predadoras dominaram nossas terras até os tempos de atuais. Talvez um dia aprendamos a valorizar mais as melhores civilizações, mais maduras (olha aí o “politicamente incorreto”), em vez de se endeusar hábitos e folias improdutivos.
Poderemos ter tomates em abundância a partir de incentivos que hoje pobres (e ricos) gigantes da economia no Brasil recebem do BNDES e da cultura dos “incentivos fiscais”. Até licença para explorar aposentados é moeda de troca de interesses (vide direito de intermediar contratos de “crédito consignado”).
Ainda vai demorar muito até chegarmos de novo à lógica da desburocratização, afinal, de que maneira os partidos de plantão no comando vão garantir segundos a mais de telinha pagos pelo contribuinte? Se as coisas apertarem teremos mais uma dúzia de ministérios, secretarias, repartições públicas às centenas etc. para garantir vitórias políticas.
Afinal a santa ignorância funcional ainda é enorme no Brasil.
Dessa maneira, considerando até nossa vontade de reagir, não podemos nem jogar tomates nos maus políticos...

Cascaes
9.4.2013

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