sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

O planejamento funciona? A favor de quem?

Planejamento energético e o econômico, qual erra mais?
A história econômica e energética do Brasil é uma coleção de fatos e dados que só escapa da indignação popular porque as desculpas são fáceis e as explicações muito difíceis para pessoas leigas no assunto.
Há meia década o Brasil vivia marolas que não assustavam os banhistas. O céu era de Brigadeiro, o mar ideal para Almirante. Deveríamos continuar crescendo muito[i].
O que aconteceu só vimos em jogos de sinuca entre pessoas iniciantes. Apontavam numa bola, acertavam noutra. A Economia Mundial ainda não readquiriu estabilidade sustentável visível, mais ainda diante do que países com indigestão poderão vomitar.
Dentro do modelo institucional do Setor Elétrico, no meio da década passada, era o tempo de licitar usinas que deveriam estar em operação [ (Vianna, 2011), ( Plano Decenal de Expansão de Energia 2020 - Sumário)] somando-se a outras licitadas de lá até agora as mais fáceis de instalar.
Tudo muito bonitinho, com que margem de erro? Atrasos? Falhas? Erros de cálculo? O que aconteceu? Incompetência? Imperícia? Esperteza? Impossibilidades reais?
Mais uma vez falam na possibilidade de racionamento. Se o planejamento fosse mais preocupado com a confiabilidade e a qualidade isso teria acontecido?
A instabilidade econômica mundial e as mudanças climáticas, ambientais e até do comportamento do Sol exigem margens de segurança maiores.
O custo de qualquer racionamento e até de oscilações de tensão e frequência são imponderáveis, mas elevadíssimos. Quanto pesa o prejuízo de nosso povo na decisão dos planejadores? Deixam para o “mercado” decidir? Tudo fica a critério de empresas de distribuição sem garantia de renovação de concessões?
Nossos especialistas continuam linearizando estatísticas antigas?
Na lógica do planejamento uma coleção de unidades geradoras estaria operando e na fila de entrada em operação na cadência do crescimento do consumo, que seria elevado. Não foi, o Brasil quase parou. A crise econômica internacional era muito séria e como sempre acontece nesses períodos pagamos a conta dos erros alheios (Ferguson).
Mesmo com o desaquecimento da economia estamos tangenciando situações de alto risco de racionamento, isso faz sentido?
A relação entre o crescimento do PIB e do consumo de energia (energia, algo equivalente à quantidade de combustível nos carros, muito diferente da potência dos veículos) é grande em nosso país muito afetado por empresas de produtos semimanufaturados.
Evoluímos pouco na lógica da conservação de energia. Assim o consumo de energia elétrica oscilou muito, mas esteve abaixo do que se previa em tempos de calmaria.
Pior ainda, o Governo optou por baixar emissões de CO2 no Setor Elétrico (Vianna, 2011), e o petróleo? Não quer perder votos?
Usinas entram num cesto de obras compatível com as previsões dos economistas e oportunidades energéticas. Seria natural termos mais tranquilidade, o problema é que não resistiram e mexeram demais nas fórmulas energéticas (Ilumina - Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Elétrico); somando isso à Legislação Ambiental, riscos industriais, de projeto etc. temos uma faixa de insegurança que deveríamos conhecer bem.
Infelizmente o progresso virou quase estagnação. O Pibinho salvador e agora o aumento dos juros dá um refresco ao MME. Surpreendentemente, contudo, passamos raspando o racionamento de energia em 2013, levando os operadores do sistema a ordenarem a entrada em operação de usinas caríssimas.
Diante de tudo o que vemos vale a análise do que é planejamento e nossos critérios antigos.
Em países desenvolvidos e com base térmica a variação do consumo é mínima, dependendo mais do calor ou do frio, eventualmente surpreendendo as concessionárias. O planejamento é simplificado, pois as térmicas dependem muito pouco das chuvas (precisam de água para geração de vapor), precisando, contudo, ter um bom padrão de manutenção e operação assim como contratos inteligentes e honestos de aquisição de combustíveis. Nesse cenário a grande malandragem é “esquecer” a sinergia do sistema, o que pode elevar os preços se as tarifas forem livres.
No processo de privatização de concessionárias em muitos lugares desse planeta acrescentou-se algo mais, a especulação com a energia.
Nos EUA a ENRON e mais algumas outras protagonizaram situações suspeitas de falta de energia, programando mal a manutenção de grandes usinas. Faltando oferta, os preços subiram a ponto de chamar a atenção dos órgãos de fiscalização. O racionamento virou rotina durante bom tempo em alguns lugares...
E no Brasil um complicador considerável nesse processo de estimativas de consumo é a dependência do clima, afinal nossa base é hidrelétrica, dependendo de chuvas. Mudanças de cobertura vegetal, manchas urbanas enormes ao longo de muitos rios, variações de insolação etc. devem alucinar os calculistas mais calejados.
O Pibinho salvou o Setor Elétrico de outro problema sério, o atraso da entrada em operação de grandes usinas, linhas e subestações.
Podemos também imaginar que no balcão de negócios dos KWh a manipulação de ofertas e pedidos tenha criado cenários falsos.
O que realmente aconteceu com o Setor Elétrico?
Análises feitas pelos órgãos sob dominação das partes interessadas no processo de convencimento do nosso povo não vale, precisamos de uma auditoria feroz, independente, suficientemente poderosa e competente para não aceitar agrados e ilusões de qualquer espécie.
Aliás, em todos os serviços essenciais a avaliação externa de qualidade, custos e benefícios das concessionárias é algo ausente em nossa pátria varonil. Se existe desconhecemos seus diagnósticos.
Mais uma vez nos aproximamos de cenários ruins.
Quando saberemos o que realmente acontece sem filtragens oportunistas?
Inacreditavelmente a atuação do Governo Federal tem sido demolidora (Petrobras, Eletrobras, aumento dos custos de Itaipu, decretos surpreendentes etc.).
Estamos em final de Governo.
Um bom tema para debate nas campanhas eleitorais será a situação das concessionárias federais e estaduais.
O Planejamento energético merece atenção de altíssimo nível e responsabilidade, acima de tudo em favor do Brasil. Isso implica em mudanças importantes.  Ou não?
Devemos continuar submissos a ONGs e acordos açodados (Vianna, 2011)?
Vamos imitar quem e de que jeito?
Qual é o próximo modismo?

Cascaes
27.2.2014

(s.d.). Fonte: Ilumina - Instituto de Desenvolvimento Estratégico do Setor Elétrico: http://www.ilumina.org.br/
Energético, S. d. (s.d.). Plano Decenal de Expansão de Energia 2020 - Sumário. Fonte: MME: http://www.mme.gov.br/mme/galerias/arquivos/noticias/2011/SUMARIO-PDE2020.pdf
Ferguson, C. (s.d.). Trabalho Interno. Fonte: Livros e Filmes Especiais: http://livros-e-filmes-especiais.blogspot.com/2012/01/trabalho-interno.html
Vianna, L. F. (28 de 9 de 2011). PLANO DECENAL DE ENERGIA . Fonte: APINE: http://www.senado.leg.br/comissoes/ci/ap/AP20110928_Luiz_Vianna.pdf







[i] Evolução do PIB Brasileiro de 1995 a 2013: (fonte Wikipedia)
Ano
PIB
Tamanho do Crescimento
Posição na Economia Mundial
R$ 4,84 trilhões1
2,3%2
R$ 4,403 trilhões3
0,9%4
5
R$ 4,143 trilhões6
2,7%
R$ 3,675 trilhões7
7,5%
R$ 3,143 trilhões8
-0,2%
R$ 3,032 trilhões9
5,2%10
R$ 2,558 trilhões11
5,4%
10°
R$ 2,370 trilhões12
3,8%
10°
R$ 2,148 trilhões13
2,9%
10°
R$ 1,769 trilhão14
5,7%15
13°
R$ 1,556 trilhão16
0,5%
13°
R$ 1,320 trilhão17
2,7%18
13°
R$ 1,184 trilhão19
1,4%20
11°
R$ 1,089 trilhão21
4,4%
10°
R$ 1,011 trilhão22
0,3%23
10°
R$ 979,275 bilhões24
-0,1%
R$ 865,552 bilhões25
3,0%
R$ 752,439 bilhões26
2,9%
R$ 731,162 bilhões27
4,3%


Referências

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